“Nós fomos este ano, em termos eletrónicos, líderes mundiais nessa área. Em segundo lugar veio a universidade [de Pequim] Tsinghua com 13 ‘papers'”, notou o vice-reitor para os Assuntos Globais da Universidade de Macau.

Os artigos científicos da instituição de ensino superior da região administrativa especial abordaram temas como a conversão de dados, comunicações ‘wireless’ ou conversão de energia.

A 70.ª edição da ‘International Solid State Circuits Conference (ISSCC)’ [Conferência Internacional de Circuitos em Estado Sólido] distinguiu ainda Rui Martins como principal colaborador entre 1954 e 2023.

“Ninguém acredita, mas somos líderes mundiais nessa área”, apontou o académico, diretor do instituto de Microeletrónica e diretor fundador do Laboratório de Referência do Estado em Circuitos Integrados em Muito Larga Escala Analógicos e Mistos, ambos da Universidade de Macau.

Em entrevista, o responsável disse que a pesquisa da Universidade de Macau na área da ciência dispõe este ano de um orçamento interno de 100 milhões de patacas (11,2 milhões de euros), recebendo ainda 440 milhões (49,5 milhões de euros) de entidades externas, como o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT) de Macau, o Governo local, através do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA), e entidades do interior da China.

“Em termos de financiamento de investigação científica e comparado com outras universidades, acho que é um bom investimento”, afirmou o vice-reitor para os Assuntos Globais da Universidade de Macau.

Rui Martins sublinhou avanços da instituição no estudo do “cancro da mama e do cólon, que são aqueles mais frequentes em Macau”. Realçou ainda o desenvolvimento, durante a pandemia, de “dois ventiladores sofisticados e avançados em termos de eletrónica”, que foram doados a duas universidades em África, uma em Maputo [Moçambique] e outra no Lubango [Angola]”.

No que diz respeito a parcerias na área da investigação científica, o responsável admitiu que há “poucos projetos” com Portugal e que o baixo investimento noutros países influencia potenciais parcerias com Macau.

“Tenho notado”, reagiu. E acrescentou: “Em Portugal, onde há projetos financiados em Ciência e Tecnologia, bem financiados, são essencialmente pela União Europeia e alguns projetos também pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), mas programas para a cooperação com Macau especificamente, os valores são muito baixos”.

Para desenvolver essa colaboração, “esses valores têm de aumentar”.

Rui Martins lembrou que, em 2017, foi assinado entre a FCT e a FDCTM um memorando de entendimento com o objetivo de incentivar a cooperação entre as instituições de investigação das duas regiões. “Durante a pandemia esteve um bocado parado”, disse o responsável, sublinhando que decorrem negociações para uma nova edição.

“O fundo que se colocou aí, se não me engano, foi de 300 mil euros”, disse Martins, admitindo que é um valor “muito baixo, para não dizer insignificante” e que “não permite desenvolver projetos de elevada envergadura”.

“Espero que agora no programa seja aumentado esse montante”, acrescentou.

Decorre em outubro, na Universidade de Macau, o 1.º Fórum internacional das línguas chinesa e portuguesa, sendo "o ponto focal da interação" entre os dois idiomas "no mundo", disse o vice-reitor da instituição.

O fórum vai reunir membros de duas alianças bibliotecárias académicas, que integram universidades chinesas e dos países de língua portuguesa (PLP), num total de 40 instituições, e que foram criadas por ocasião do 40.º aniversário da Universidade de Macau, em 2021, para serviços de empréstimo interbibliotecas e de transmissão de documentos.

"Temos aqui um portal na nossa biblioteca, uma plataforma digital, onde essas universidades têm colocado material em língua portuguesa para aprender português e as universidades chinesas têm colocado material em língua chinesa", explicou à Lusa Rui Martins.

"E isso é importante", continuou o responsável, "porque apesar de haver muitas universidades da China que estão a oferecer português, um dos grandes problemas é a não existência de materiais didáticos em número suficiente".

Além disso, também em "Portugal, Brasil, Moçambique e outros países" de língua portuguesa "podem ter acesso a material em língua chinesa".

O fórum, que se realiza entre 17 e 20 de outubro, vai ser "o ponto focal da interação das línguas portugueses e chinesas no mundo", considerou o académico, referindo que esta é uma organização do departamento de língua portuguesa e do Instituto Confúcio, com o apoio da biblioteca da Universidade de Macau.

Entre os temas em debate vão estar o ensino de português e chinês como línguas estrangeiras e estudos nas áreas de Linguística, Literatura, Cultura e Tradução.

Além das duas alianças bibliotecárias, 19 universidades de Macau, do interior da China e dos PLP assinaram também, em setembro do ano passado, uma aliança para a área da investigação oceânica.

Nos planos deste organismo, está a criação para breve de um laboratório de diversificação oceânica "entre a Universidade de Macau, a Universidade de Lisboa e um instituto em Qingdao", cidade no leste chinês, referiu Rui Martins.