Durante a sua intervenção no Congresso da Ordem dos Médicos, em Coimbra, Henrique Gouveia e Melo reforçou que em junho o país deverá vacinar em média, todos os dias, cerca de 100 mil pessoas.
Esta informação tinha já ontem sido divulgada, à margem do evento eHealth Summit: “Quando subimos um degrau, há sempre mais um para subir e nós estamos numa fase em que ainda estamos a subir degraus, ou seja, o mês de junho e julho serão os meses com o maior ritmo de vacinação diária”, disse, apontando para as 100 mil administrações diárias.
Nesta mesma ocasião, o vice-almirante responsável pela coordenação do plano de vacinação contra a covid-19 em Portugal adiantou que a vacinação para maiores de 20 anos começa em agosto.
Hoje, em Coimbra, Gouveia e Melo adiantou que ainda se continuam "a chamar ao processo [de vacinação] alguns idosos que escaparam" nas primeiras fases e partilhou a complexidade de um trabalho que se faz em três frentes em simultâneo.
"Nós temos de conjugar três coisas: vacinas que chegam em Portugal a um ritmo que não regular, capacidade para vacinar pessoas e gerir sistema de agendamento de marcação", disse.
O alargamento da possibilidade de auto-agendamento da vacinação contra a covid-19 a pessoas a partir dos 50 anos levou a um grande número de acessos e registos no portal, o que deixou 60 mil pessoas à espera de confirmação. Os serviços vão precisar de pelo menos três dias para regularizar a situação.
"Este processo tem às vezes problemas, mas é um processo em que estamos a conseguir vencer e estamos a conseguir vacinar a esse ritmo [de 100 mil pessoas por dia]. (...) O indicador de sucesso, no fim, é o de quantas pessoas estamos a vacinar e se estamos a atingir os nossos objetivos. Se tudo correr bem, se as vacinas previstas no plano chegarem a território nacional e com as boas notícias que vêm da DGS de abrir a vacina da Janssen [do grupo Johnson & Jonhson] a todas as faixas etárias do sexo masculino, o que nos permite aproveitar muitas mais vacinas, vai fazer com que o ritmo de vacinação se mantenha ou possa até ser acelerado", disse Gouveia e Melo.
Já à saída do encontro, Gouveia e Melo adiantou que "os novos dados trouxeram a informação de que o risco, que é muito baixo, de 1 em 1 milhão, estava mais concentrado no sexo feminino abaixo dos 50 anos. O que se vai fazer é tirar a limitação ao sexo masculino" para a administração desta vacina.
"Se tudo correr bem, no início de agosto teremos 70% da população vacinada. No fim de agosto estaremos a vacinar pessoas de 20 anos e o processo estará praticamente na sua fase final", acrescentou.
Este processo é "complexo", por ser "massivo e urgente".
Já sobre as lições que gostaria de reter sobre a sua experiência até agora, o vice-almirante destacou que "sem foco não há avanço". Em causa, disse, estão grupos profissionais que consideram que devem ser prioritários quando o mais importante é vacinar o mais depressa possível a população e, consequentemente, inocular rapidamente também as pessoas que pertencem aos ditos grupos profissionais. A crítica, porém, não se refere aos prestadores de cuidados de saúde, a "verdadeira tropa" desta batalha contra o vírus. Posto isto, disse, "o foco é neste momento manter o ritmo de vacinação".
A segunda lição é a de "ter humildade ao longo deste processo". Isso vê-se, diz, na "flexibilidade" à volta do foco, sem nunca perder o rumo.
Gouveia e Melo disse ainda ser importante ser "obstinado, no bom sentido", o que implica "não deixar outros interesses interferir neste processo".
O coordenador da task force deixou ainda uma palavra crítica sobre o "egoísmo" dos países ricos, que não estão a contribuir para o processo de vacinação dos países mais pobres. Gouveia e Melo relembrou que esta não é apenas uma questão de ética, mas de inteligência, lembrando que o vírus não tem fronteiras e podemos assistir a um efeito "boomerang".
"Nenhum humano se salva sozinho. (...) Enquanto houver um sítio do mundo onde o processo [de vacinação] não esteja completo, esse sítio será uma incubadora de novos vírus que nos podem vir atacar mais tarde, de forma mais violenta, e sem estarmos preparados para os enfrentar", concluiu.
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