De acordo com aquele relatório independente, Bento XVI, que renunciou em 2013, não agiu para afastar quatro clérigos suspeitos de abuso sexual de menores na arquidiocese de Munique e Freising, que liderou entre 1977 e 1982.
Entretanto, o Vaticano, por meio do seu diretor editorial dos meios de comunicação, defendeu a ação do prelado alemão contra os abusos sexuais na Igreja Católica durante o seu mandato papal.
Depois de ter “combatido esse fenómeno como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé”, Joseph Ratzinger promulgou como Papa “regulamentos extremamente severos contra clérigos que abusam, verdadeiras leis especiais para combater a pedofilia”, escreveu Andrea Tornielli num editorial publicado hoje no Vatican News, o portal de notícias oficial do Vaticano.
“Foi o próprio Joseph Ratzinger o primeiro Papa a encontrar várias vezes as vítimas de abusos durante as suas viagens apostólicas. Assim como foi Bento XVI (…) quem propôs o rosto de uma Igreja penitente, que se humilha pedindo perdão”, continuou.
Lembrando que o relatório de Munique “não é um inquérito judicial e muito menos um julgamento final”, Tornielli disse acreditar que as suas conclusões “contribuirão para a luta contra a pedofilia na Igreja se não forem reduzidas à procura de bodes expiatórios fáceis e julgamentos sumários”.
Na segunda-feira, Bento XVI corrigiu as suas declarações e admitiu ter participado numa reunião chave em 1980 sobre um padre alemão suspeito de ter abusado sexualmente de menores, contrariando o que havia declarado inicialmente aos autores do relatório.
Entretanto, o Papa emérito de 94 anos, que vive recluso num mosteiro do Vaticano desde a sua renúncia, rejeitou qualquer responsabilidade neste caso.
Após a publicação do relatório, o Vaticano disse que queria estudá-lo em detalhe, reiterando “o seu sentimento de vergonha e remorso” pela violência cometida contra menores.
Na sexta-feira passada, o Ministério Público de Munique anunciou que estava a analisar as possíveis responsabilidades de 42 clérigos em casos de pedofilia, com base no relatório que acusa responsáveis da Igreja, incluindo o Papa emérito Bento XVI, de inação.
O escritório de advocacia Westpfahl Spilker Wastl (WSW), responsável pelo relatório, divulgado na quinta-feira passada e encomendado pela Igreja Católica, “disponibilizou” ao Ministério Público em agosto de 2021 elementos de processos que sustentam uma alegada culpa de 41 funcionários eclesiásticos, disse à France-Presse (AFP) uma porta-voz da procuradoria, Anne Leiding. Um outro caso foi apresentado em novembro.
Os autores do relatório denunciaram um encobrimento sistemático e “assustador” de casos de abuso de menores entre 1945 e 2019 na arquidiocese de Munique e Freising, e acusaram os responsáveis daquele arcebispado, incluindo o pontífice emérito, de nada terem feito para prevenir ou parar os abusos de menores.
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