Depois de anos sucessivos de crescimento, o turismo fluvial no Douro sofreu um “duro golpe” por causa da pandemia de covid-19. As embarcações turísticas estiveram paradas entre março e junho/julho e, neste momento, são poucos os operadores que ainda mantêm a atividade.
Segundo dados fornecidos na segunda-feira à agência Lusa pela APDL, entre janeiro e outubro de 2020 transitaram na via navegável 225.893 passageiros, um número que representa uma quebra de 78% face ao período homólogo do ano anterior.
De acordo com a gestora da via navegável, 77% destes passageiros circularam em cruzeiros na mesma albufeira, 16% em embarcações marítimo turísticas (onde se inclui os cruzeiros de um dia), 4% em embarcações de recreio e pesca e apenas 2% viajaram em navios hotel, tipologia que registou uma quebra de passageiros de 94% relativamente ao mesmo período de 2019.
Os turistas que este ano visitaram o curso fluvial do Douro foram, maioritariamente, de nacionalidade portuguesa, francesa e alemã.
“Um retrato de nacionalidades diferentes das que costumam visitar este rio e justificado pelas medidas de contenção implementadas no mercado americano e no Reino Unido”, apontou a APDL.
Neste ano atípico, dos 93 operadores com autorização de circulação na VND, apenas 61 apresentaram registo de atividade.
De acordo com a APDL, em 2019 a VND atingiu os 1.644.937 passageiros, com uma taxa de crescimento de 26,92%.
“Este ano de 2020 prometia ser absolutamente extraordinário”, afirmou hoje à Lusa Matilde Costa, da Barcadouro. Mas, em vez disso, esta empresa contabiliza uma “quebra na faturação de 83%”.
Com cruzeiros de um e de dois dias, este operador fez a primeira viagem a 11 de julho depois da paragem forçada pela pandemia, mas das cinco embarcações que possui só trabalhou com três e, em todas elas, foi necessário cumprir as regras de um terço da lotação impostas pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Num ano “muito mau”, os meses de verão surpreenderam com uma “boa procura”, no entanto, segundo Matilde Costa, “o que veio não dá para pagar contas” nem para a “empresa sobreviver”.
O operador já suspendeu a atividade e a responsável perspetiva que os próximos meses sejam “muito duros”, adiantando ainda que não prevê fazer os tradicionais jantares de Natal ou o ‘réveillon’ (festa na noite de passagem de ano).
“Temos estado a crescer e 2020 foi um golpe enorme, estamos a falar de quebras muito grandes, acima dos 70%”, referiu Célia Lima, diretora comercial e de marketing da Tomaz do Douro, empresa que mantém a atividade com o cruzeiro entre as seis pontes do Douro.
O objetivo é “tentar manter a economia a funcionar”, no entanto, segundo referiu, depois de uns meses de verão que “correram menos mal”, a procura voltou a diminuir a partir de outubro.
“Estamos a tentar um equilíbrio de forma a não prejudicar clientes, a não parar, mas também a não aumentar o prejuízo”, referiu.
Com cais base no Pinhão, em Alijó, distrito de Vila Real, a empresa Ânima Durius faz passeios privados para pequenos grupos e tinha essencialmente estrangeiros como clientes. “Este ano foi o oposto, tivemos 95% de portugueses para 5% de estrangeiros”, referiu Paulo Mesquita.
Os meses de julho e agosto levaram muitos turistas nacionais ao Douro, no entanto, segundo o responsável, a empresa teve em 2020 “perdas na ordem dos 70%” e “não ganhou para pagar as despesas de um ano”.
“Por esta altura do ano passado, quando começaram a entrar marcações, o que seria expectável era termos o melhor ano de sempre, acompanhando o que tinha vindo a acontecer”, salientou.
Em 1990, com a inauguração dos 210 quilómetros da VND entre o Porto e Barca d´Alva, abriu-se uma porta ao turismo que foi, depois, consolidada em 2001 com a classificação do Douro como Património Mundial da UNESCO.
Devido às dificuldades sentidas neste ano de pandemia, os operadores marítimo-turísticas reclamam apoios do Governo para o setor.
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