A vigília, que decorreu na praça do Bocage, em frente ao edifício da Câmara Municipal de Setúbal, foi convocada através do grupo ‘Sado de Luto’ na rede social Facebook, que receia pelas consequências da retirada de mais de 6,5 milhões de metros cúbicos de areia do estuário do Sado, para aprofundar o canal de navegação.
"A minha paixão pela serra da Arrábida e por toda esta paisagem e suas particularidades é demasiado séria para que eu não leve também a sério o que estão a fazer ao estuário do Sado", disse à agência Lusa Sérgio Godinho, um arquiteto paisagista natural de Espinho, mas que vive em Azeitão e que se assume como "setubalense por adoção".
Vítor Joaquim, professor universitário na área da ciência e tecnologia das artes, que também integra o movimento ‘Sado de Luto’, reconheceu não ter conhecimentos específicos na área do ambiente, porém disse ter "sensibilidade suficiente para perceber que as dragagens no estuário do Sado são um atentado contra a natureza".
O núcleo duro deste movimento promete mobilizar esforços para lutar contra o que considera ser um atentado ambiental, através de uma campanha de sensibilização dos setubalenses, admitindo também recorrer à Justiça, com providências cautelares e outras ações, a nível nacional e europeu.
Em causa está a empreitada de melhoria das acessibilidades marítimas ao porto de Setúbal, consignada em 12 de setembro, numa cerimónia presidida pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.
A obra é igualmente contestada numa petição pública que, em poucos dias, já recolheu quase quatro mil assinaturas.
"A fauna e flora marítimas serão inevitavelmente devastadas, de forma imprevisível, devido aos trabalhos de remoção de areias do fundo do rio Sado, que terão uma altura de um prédio de cinco andares, alterando gigantescamente o fundo do relevo atual do rio", lê-se na petição "Pela defesa da Reserva Natural do Estuário do Sado", que está disponível no sítio na internet http://peticaopublica.com.
"Não bastam já as diárias perturbações no estuário do Sado, com as atividades relacionadas com o porto de Setúbal e demais indústrias, que agora irrompe uma colossal - e nunca antes vista - retirada de areia do fundo do rio Sado até à profundidade de 15 metros ao longo de um perímetro com cerca de 19 quilómetros e uma área aproximada de 6,5 quilómetros quadrados", acrescenta o documento.
Os contestatários das dragagens, entre outras preocupações, alertam para o perigo de desaparecimento da população de golfinhos (roaz-corvineiro) e de muitas outras espécies que se reproduzem no estuário do Sado, uma zona protegida que é reconhecida como uma autêntica maternidade marinha, bem como para a possibilidade de se verificarem movimentações de areias das praias para o canal de navegação.
Estas são preocupações partilhadas pelo presidente da associação ambientalista ZERO, Francisco Ferreira, que, na semana passada, alertou para o "risco demasiado elevado e inaceitável para a sustentabilidade de um dos mais importantes estuários do país, o estuário do Sado, classificado como reserva natural, bem como para o Parque Natural da Arrábida".
"Os prejuízos para a morfologia das praias, a interferência causada a um dos mais produtivos ecossistemas à escala mundial como são os estuários, entre outros aspetos, deve-nos, a bem do princípio da precaução e, acima de tudo, tendo em conta os próprios impactes irreversíveis identificados no estudo de impacte ambiental e associados ao projeto, fazer recuar a decisão de avançar", afirmou Francisco Ferreira.
A Cooperativa de Pesca de Setúbal, Sesimbra e Sines (Sesibal), representativa de centenas de pescadores, considera que "o lançamento de areias e lamas e metais pesados será o fim da secular pesca, local e artesanal", e promete lutar pela defesa dos interesses dos associados e da cidade de Setúbal.
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