Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, estiveram esta tarde juntos no cemitério do Alto de São João, onde foi cremado o corpo de Edmundo Pedro, que faleceu no sábado, aos 99 anos.
Antes do funeral seguir para o cemitério do Alto de São João, no anfiteatro da Junta de Freguesia de Alvalade (Lisboa), com o nome do resistente ao regime do Estado Novo – e que estava completamente cheio -, houve uma breve homenagem ao fundador do PS, preso político e resistente antifascista.
Nesta sessão de homenagem estiverem presentes o antigo primeiro-ministro José Sócrates, a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, os ministros Eduardo Cabrita e Ana Paula Vitorino, o histórico socialista António Campos, o secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello, os dirigentes socialistas Edite Estrela e Jorge Lacão, o presidente do Conselho Económico Social (CES), Correia de Campos, e o antigo ministro João Cravinho.
Na primeira intervenção, o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, fez questão de salientar que a morte de Edmundo Pedro constituiu uma perda para a sua entidade, bem como para o Grande Oriente Lusitano (GOL).
“Além de um amigo, Edmundo Pedro foi uma das grandes referências do Portugal de Abril. Foi um símbolo da luta contra o fascismo. No sábado, desapareceu o último sobrevivente do Campo de Concentração do Tarrafal”, apontou Vasco Lourenço.
Logo a seguir, o secretário-geral do PS salientou que Edmundo Pedro fez parte de uma geração que “dedicou toda a sua vida à luta pela liberdade, antes e depois do 25 de Abril de 1974″.
“Foi o mais jovem preso do Campo do Tarrafal, em Cabo Verde, e não sei mesmo se houve alguma tentativa de derrube do anterior regime em que ele não estivesse envolvido”, observou o líder socialista.
António Costa destacou também “a retidão cívica” de Edmundo Pedro “e a forma como se manteve a sofrer em silêncio, depois do 25 de Abril, quando foi alvo de ignóbeis acusações”.
“Em articulação com os militares, durante o período do Verão Quente, em 1975, continuou a bater-se pela liberdade em Portugal”, referiu o secretário-geral do PS, numa alusão ao caso das armas encontradas numa sua empresa em Setúbal e que se destinariam a armar militantes do PS em caso de guerra civil.
Após a sessão de homenagem, por volta das 16:20, o caixão, que estava coberto com a bandeira nacional, saiu sob uma salva de palmas da Junta de Freguesia de Alvalade rumo ao Cemitério do Alto de São João, onde também se encontravam Isabel Soares, filha de Mário Soares, e o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos.
Em declarações aos jornalistas, o Presidente da República sustentou que “a causa e a paixão da vida de Edmundo Pedro foi a liberdade”.
“Viveu para a liberdade e morreu a sonhar com ela. Esta homenagem de Portugal, aquela que vim aqui trazer comigo, foi justíssima”, afirmou.
O chefe de Estado afirmou depois lembrar-se de circunstâncias em que esteve com Edmundo Pedro “logo por altura do 25 de Abril de 1974″.
“Estivemos muito próximos, muitas vezes juntos, quer no período da revolução, quer imediatamente após a revolução. Colaborámos várias vezes – ele no PS e eu no PSD – em momentos difíceis e cruciais. Encontramo-nos sempre ao longo da vida, mas aí criámos laços pessoais que eu não
A vida de Edmundo Pedro atravessou dois séculos, duas guerras mundiais e foi um protagonista da luta contra a ditadura salazarista, primeiro no PCP e depois no PS, de que foi fundador.
Edmundo Pedro nasceu em 08 de novembro de 1918, no Samouco, concelho de Alcochete, Setúbal, e começou a trabalhar ainda criança, nas oficinas de uma serralharia e, mais tarde, no Arsenal do Alfeite. E foi praticamente criança, com 13 anos, que entrou na política.
Aderiu ao PCP na década de 1930, onde conheceu Álvaro Cunhal, o líder histórico dos comunistas portugueses, e foi, com o seu pai, Gabriel, um dos primeiros presos políticos do Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, em 1936.
Afastou-se do PCP em 1945, e participou em vários movimentos armados, para tentar derrubar o regime.
Aderiu ao PS em 1973, convidado pelo líder histórico dos socialistas, Mário Soares (1924-2017), foi deputado por três vezes e presidente da RTP em 1977 e 1978.
Ao longo da sua vida, publicou vários livros, entre eles três volumes de “Memórias: Um Combate pela Liberdade”, prefaciadas por Mário Soares, um livro sobre o processo das armas (“O processo das armas”), outro sobre a luta sindical durante a ditadura (“45 anos de luta pela democracia sindical – Reflexões de um militante”) e um volume sobre a vida de Francisco de Paula Oliveira, “Pavel – Um Homem não se apaga”.
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