José Luís Mendonça Nunes, conhecido por 'Zeca Mendonça', nasceu em Lisboa, na freguesia de Santos-o-Velho, em 23 de março de 1949.
Segundo de cinco filhos de um pequeno industrial de mobílias com fábrica em Lordelo (Guimarães), cresceu em Lisboa (na freguesia de Arroios) e frequentou o liceu Camões, época em se liga à Juventude Operária Católica, onde também militava o futuro dirigente da CGTP/Intersindical Manuel Lopes, que era o ensaiador do teatro.
Representou em algumas peças e, nos anos 60, torna-se próximo de vários artistas, como Paulo de Carvalho e Carlos Mendes, e, em especial, do cantor Jorge Palma, com quem parte à aventura para o Algarve em 1968.
Nessa viagem, chega a cantar uns fados “para estrangeiros”, segundo perfis do Diário de Notícias e do Público publicados em 2007 e 2012, respetivamente.
Regressa a Lisboa de cabelo comprido, que mantém até ser chamado a cumprir serviço militar: entre 1970 e 1972, deu instrução de obuses no RAL 1, unidade militar que seria importante no 11 de março e no 25 de novembro de 1975, passando, entretanto, a chamar-se RALIS.
Nesse período, participa numa manifestação contra o regime, que considera ter sido a causa de ser convocado para duas comissões de serviço na Guiné, onde acabaria por cumprir apenas uma, devido ao 25 de Abril. Ainda ponderou seguir o destino de amigos e emigrar, mas “por moeda ao ar”, contou ao Público, decidiu embarcar para o antigo Ultramar.
Regressa a Portugal em agosto de 1974 e um amigo, João Inácio Simões de Almeida, convidou-o a trabalhar como segurança de um novo partido, o então PPD.
Ainda recolheu algumas das 5.000 assinaturas necessárias à legalização do partido, nas quais se inclui a sua, e vive episódios atribulados no ‘verão quente’ de 1975, quer na sede – com várias falsas ameaças de bomba - quer em comícios pelo país.
Em 1977, a segurança do PSD deixou de existir e dão-lhe a escolher entre três opções: o grupo de Estudos, o jornal Povo Livre ou o gabinete de relações públicas, escolhendo este último, sem hesitar.
Como assessor de imprensa, trabalhou com 16 presidentes do PSD - ou 17, caso se conte com Leonardo Ribeiro de Almeida, que presidiu à Comissão Política quando Francisco Sá Carneiro liderava o partido e era primeiro-ministro –, só ficando de fora Emídio Guerreiro (secretário-geral por breves meses em 1975, quando ainda era segurança no PSD) e o atual líder do PSD, Rui Rio.
Quem com ele trabalhou destaca duas características: a dedicação ao PSD e a lealdade a todos os presidentes com quem trabalhou, fazendo questão de nunca partilhar com o líder em funções episódios ou comentários desagradáveis sobre os seus antecessores.
A facilidade nos relacionamentos e a capacidade de “descrispar” ambientes políticos tensos são outros elogios frequentes ao histórico assessor do PSD.
Manteve uma boa relação, em geral, com a imprensa, com a exceção a acontecer em março de 2014, durante o Governo PSD/CDS-PP, quando à chegada de Miguel Relvas à reunião do Conselho Nacional dos sociais-democratas, deu um pontapé num fotojornalista que tentava captar imagens num local que teria sido vedado.
O episódio, que o próprio classificou como “um descontrolo”, foi ultrapassado com um pedido de desculpas ao repórter.
Em dezembro de 2017, Zeca Mendonça põe fim a 43 anos de ligação profissional ao PSD para ir reforçar a equipa de assessoria do Presidente da República.
Depois de convidado para trabalhar com Marcelo Rebelo de Sousa – quem o conhece bem assegura que foi o seu líder “preferido”, apesar de ser uma pergunta a que nunca respondia -, Zeca encontrou o primeiro-ministro, António Costa, nos corredores do parlamento, que lhe deu os parabéns pela promoção e lhe disse que era “a segunda pessoa do PSD” de quem mais gostava, segundo um relato que transmitiu a vários amigos.
Um ano antes, no 36.º Congresso do PSD de Espinho, em 2016, tinha recebido um aplauso, de pé, dos delegados, durante uma homenagem aos funcionários do partido.
Conhecido pela sua discrição, mas também pelos dotes de bom conversador e contador de histórias – sobretudo ligadas ao PSD -, Zeca Mendonça foi por várias vezes desafiado para escrever as suas memórias, mas recusou sempre.
"Já me desafiaram para as memórias, o partido sempre teve confiança em mim, pelo que não faria sentido escrevê-las", justificou ao Público, em 2012.
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