"Este é o primeiro caso publicado com evidências da relação (entre o zika e a mielite), devido à presença do vírus no fluido cerebrospinal (da paciente) nove dias após o aparecimento dos sinais clínicos", declarou, nesta terça-feira, à AFP Annie Lannuzel, investigadora do Inserm e cujo trabalho foi publicado na revista The Lancet.
A mielite é uma doença rara que pode deixar sequelas motoras graves. Outros vírus, como a varíola, herpes, etc., que podem causar mielite foram descartados no caso da paciente examinada, cujos exames de sangue deram negativo, segundo Lannuzel. A paciente, de 15 anos, estava numa fase aguda da infecção pelo zika, com "fraqueza motora de todos os quatro membros, associada à dor muito severa e retenção urinária aguda", indicou o Inserm e o CNRS num comunicado conjunto. A paciente em causa foi internada em meados de janeiro no hospital Pointe-à-Pitre com uma paralisia do lado esquerdo. "Atualmente, permanece internada, mas a sua vida não está em perigo. Mostra sinais moderados de fraqueza em ambas as pernas, mas consegue andar sem ajuda", pode também ler-se no comunicado.
Um vírus neurotóxico
"Este caso reforça a hipótese do carácter neurotrópico do vírus zika. Destaca a existência de complicações neurológicas na fase aguda da infecção, a síndrome de Guillain-Barré é uma complicação pós-infecciosa", relatam os investigadores. No caso da síndrome de Guillain-Barré, o vírus zika afeta o nervo periférico, enquanto que na mielite afeta a medula espinal, explicou ainda Annie Lannuzel, acrescentando que o tratamento foi realizado por injeção de grandes doses de cortisona.
O zika está presente na América Latina e estima-se que tenha causado já centenas de casos de microcefalia em bebés de mães infectadas. Esta má-formação grave e irreversível é caracterizada por um tamanho anormalmente pequeno do crânio em recém-nascidos. A microcefalia danifica o cérebro e limita o desenvolvimento motor e intelectual. O surto de zika e sua potencial associação a condições congénitas levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar uma emergência global.
O Brasil detectou no final de 2015 um aumento incomum nesta malformação congénita na região nordeste do país e as autoridades estimam que um milhão e meio de pessoas terão sido infectadas pelo vírus zika. Cerca de 80% dos casos são assintomáticos.
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