Arranca esta sexta-feira, 5 de maio, a primeira grande Volta do calendário mundial de ciclismo deste ano. O Giro cumpre a 100.ª edição e Itália vai vestir-se de rosa numa prova que será uma homenagem a grandes lendas do ciclismo italiano, em especial a Michele Scarponi, vencedor em 2011, que morreu no passado 22 de abril, atropelado durante um treino.

A organização reservou-lhe o tributo para a 16.ª etapa, na icónica subida do Mortirolo. Antes, no arranque que pela primeira vez acontece a partir da Sardenha (Alghero), a Astana, equipa que não substituiu o seu líder e apresenta-se com menos um ciclista (oito), partirá da frente do pelotão e haverá ainda um minuto de silêncio.

Ao longo de três semanas os ciclistas percorrem 3.615 km divididos por 21 etapas, o que dá uma média de 171,7 km por dia. O primeiro dia de descanso, num total de três, surge logo ao quarto dia, depois dos ciclistas pedalarem as três primeiras etapas na ilha da Sardenha.

Depois de viajar de barco para a Sicília, o pelotão passa pelo Etna, o maior vulcão da Europa, entra no continente, percorre 16 das 20 regiões italianas e termina com um contrarrelógio de 29,3 km, em Milão. A saída da derradeira etapa, dia 28, acontece no Autódromo de Monza e a meta está situada na Piazza Duomo. E no final, Scarponi será novamente recordado.

Há dois contrarrelógios individuais, seis etapas para velocistas, oito etapas de média montanha e cinco alta montanha. “Cima Coppi” é ponto mais alto do Giro, o Passo dello Stelvio, a 2758 m de altitude.

O “Trofeo senza Fine”, destinado ao vencedor da “Corsa Rosa”, estará exposto em Milão na Galeria Vittorio Emanuele até ao final da prova e a modelo italiana e apresentadora de televisão Giorgia Palmas veste a pele de Madrinha.

De fora desta edição fica o prémio de melhor ciclista em descida, depois da polémica que se instalou e que meteu a UCI ao “barulho”. Apresentada previamente como uma das novidades, em comunicado, a organização do Giro explicou que o intuito da medida era premiar o mérito desportivo dos melhores ciclistas em descida em 10 das 21 etapas, e nunca "colocar em questão a segurança dos atletas". 

A prova centenária arrancou em 1909 com um prémio de 3 euros

A Volta a Itália arrancou em 1909 com partida e final na cidade de Milão. O italiano Luigi Ganna venceu a primeira edição conquistando um prémio de 5.325 liras (cerca de 3 euros). A título de comparação no ano passado o vencedor arrecadou 205.668 euros.

Esteve interrompida durante as duas grandes guerras mundiais e a tradição de atribuir a camisola rosa (maglia rosa) ao líder da classificação geral foi introduzida a partir da edição de 1931. Tudo por causa da cor das páginas da Gazzetta dello Sport, jornal organizador da prova.

Inspirado no Tour de France na génese da prova esteve a ideia de que o Giro pudesse ajudar a aumentar a circulação do jornal italiano.

Numa edição especial a organização presta ainda homenagem a vários antigos campeões, com as etapas a começarem ou terminarem nas cidades-natal de Ercole Baldini, Fausto Coppi e Gino Bartali.

Coppi e Bartali encarnam grande parte do romantismo que esta prova acarreta. Os dois ciclistas, autores da mais famosa rivalidade nas duas rodas que se conhece, serviram de espelho da divisão política e social vivida na Itália pós 2ª Guerra Mundial. Num país dividido entre o Partido Comunista e a Democracia Cristã, cada partido escolheu o seu herói. Apesar de unidos pelo amor ao ciclismo, uma vitória de Coppi, que soma cinco triunfos na prova, representava a celebração da Itália moderna, progressista, enquanto Bartali era sinónimo da fé católica.

De entre outras curiosidades da centenária prova realce para o facto dos italianos dominam com 69 vitórias contra as 30 de outras nacionalidades e o sprinter italiano Mario Cipollini deter o maior número de vitórias em etapas na Volta a Itália: 42.

Uma luta a dois na prova mais romântica do ciclismo: Quintana e Nibali

A 100ª edição da Volta a Itália terá uma difusão planetária, sendo transmitida em 194 países. Em Portugal terá transmissão em exclusivo no canal Eurosport, que dedica quatro horas por dia.

Nairo Quintana, colombiano da Movistar é tido como grande favorito a levantar o “Trofeo senza Fine”. O ciclista de 27 anos que já venceu o Giro em 2014, terá a concorrência de Vincenzo Nibali (Bahrain-Merida), vencedor no ano passado. Aos 32 anos, procura o 'tri' na mítica prova italiana, que conquistou em 2013 e 2016, tentando alcançar um feito conseguido pela última vez em 1985 por Bernard Hinault.

Para além desse duelo, Luís Piçarra e Paulo Martins, comentadores da Eurosport, num encontro com a imprensa, apontam que a surpresa pode surgir com o francês Thibaut Pinot. Por sua vez Olivier Bonamici diz que, apesar de não ser favorito este ano, aponta o holandês Tom Dumoulin como alguém que “pode vir a ser um dos melhores do mundo”, considerando-o um “excelente contrarrelogista”.

Piçarra e Martins acrescentam ainda que os contrarrelógios podem “fazer a diferença” na edição deste ano. Luís Piçarra destacou ainda que os três dias de descanso podem influenciar, pela negativa, o ritmo dos atletas.

Rui Costa, José Mendes e José Gonçalves em estreia na Volta à Itália

O pelotão da 100ª edição da Volta a Itália conta com três ciclistas portugueses, que em comum têm o facto de se estrearem nesta prova: Rui Costa (UAE Team Emirates), José Mendes (Bora – Hansgrohe) e José Gonçalves (Katusha – Alpecin). Costa e Mendes apresentam-se como líderes das respetivas equipas. Por sua vez, outro papel está reservado a José Gonçalves, o de trabalhar para o russo Ilnur Zakarin.

Rui Costa afirma estar “entusiasmado e motivado” em participar na centésima edição da “Corsa Rosa”. Ausente até então por uma “questão de programação do calendário pessoal e das equipas pelas quais corria”, o ciclista da Póvoa do Varzim reconhece que este ano “haverá algumas etapas boas para as minhas características” sendo que uma vitória numa etapa “valeria o dobro, dado tratar-se da minha estreia”, revelou em declarações ao site oficial da prova.

Por fim, os ciclistas portugueses não têm tido uma participação significativa no Giro. Tudo começou em 1976 com Joaquim Agostinho (que viria a desistir) e Fernando Mendes, ambos representando a Teka. Desde então, José Azevedo (Once) detém a melhor classificação entre todos (5.º lugar em 2001), mas é Acácio Silva (cujo melhor que consegui foi o 7º lugar em 1986) que merece o maior destaque com 5 vitórias em etapas e a honra de ter vestido a camisola rosa durante dois dias em 1989, integrada na equipa da Carrera. No ano passado, André Cardoso (Cannondale) foi 14º, naquele que é o terceiro melhor resultado de sempre dos ciclistas nacionais no Giro.