Ouvido pela Lusa a propósito do Dia do Veganismo, que se assinala na quarta-feira, Darchite Kantelal diz que, em termos científicos, este tipo de alimentação “não limita a performance desportiva dos jogadores" e, pelo contrário, "até poderá estar associada a determinados benefícios”.
“Os atletas que geralmente são vegetarianos tendem a ter maiores reservas de energia (…). Este tipo de alimentação poderá também melhorar capacidade de combater o stress oxidativo que geralmente é causado pelo exercício”, reconhece o nutricionista que trabalha com o Estoril Praia e estagiou no Sport Lisboa e Benfica.
Era vegetariano e em 2015 tornou-se vegano (não consome nada de origem animal, desde a alimentação aos produtos e roupas que usa diariamente). Diz que foi "por questões éticas e ambientais”, mas sublinha que não é ortodoxo: “Respeito todos”.
“Há pessoas que reduzem apenas o consumo de carne. Não existe um extremo a definir, em que se pense que ou se é vegano ou não se está a fazer nada [pelo ambiente]. Quem, por exemplo, reduz o consumo de carne ajuda o ambiente e pode melhorar a sua saúde”, afirma.
Apesar de não comer nada de origem animal, o nutricionista reconhece que não aplica os princípios de uma alimentação de base vegetal a 100% nos atletas do Estoril Praia que segue. “O que faço é aumentar o consumo de hidratos de carbono porque é essencial. Tento incluir fontes de hidratos de carbono não processadas às refeições, como a batata, a quinoa, as leguminosas e massas” exemplifica.
Defende que na história “não houve período mais fácil para ser vegano do que agora”.
“Ainda ontem comi num restaurante tipicamente português que oferecia pratos tradicionais perfeitamente adaptáveis à alimentação de base vegetal”, conta.
Sob o ponto de vista alimentar, sublinha a variada oferta atual dos grandes supermercados, com um exemplo: “Na zona dos laticínios, metade é leite e outra metade são bebidas vegetais com uma série de sabores”.
É na roupa e no calçado que ainda encontra dificuldades. “Aí ainda tenho alguma dificuldade, não para encontrar, mas porque o preço é por vezes elevado”, confessa.
Diz que não é preciso ser vegetariano ou vegano para fazer a diferença. “Reduzir o consumo de carne e aumentar alimentos de base vegetal já está a fazer a diferença”, afirma, reconhecendo que “as pessoas estão cada vez mais conscientes”.
Sobre os custos de uma alimentação vegetariana ou vegana, o nutricionista não tem dúvidas: “Há pessoas que seguem uma alimentação vegetariana ou vegana por ser mais acessível. Não tem que ver com ser ou não biológico. A batata, os vegetais e as leguminosas são mais baratos por quilo do que a carne ou o peixe”.
Quanto aos atletas que acompanha, reconhece que o “grande problema” é o consumo excessivo de proteína. “Quando olham para o prato, primeiro escolhem as fontes de proteína, como a carne o peixe, e deixam os hidratos para o fim. Ora quando comem carne ou o peixe estes saciam bastante a fome e depois acabam por não completar todas as fontes de hidratos de que precisam”.
Diz que tenta focá-los no consumo de leguminosas, pois é também uma fonte de proteínas e tem muitos minerais e outros nutrientes, tornando-se "uma forma eficaz de os atletas fazerem uma alimentação mais de base vegetal atingindo as necessidades energéticas de que precisam".
“No Estoril Praia aconselho a fazerem o contrário. Não digo para não comerem carne ou peixe, mas foco muito no consumo de leguminosas, que estão associadas a uma melhoria na distância percorrida pelos jogadores”.
Confirmando ou não esta teoria está o atleta norte-americano Carl Lewis, vegano assumido e que liderou o ranking mundial de velocidade nos 100m e 200m, além das provas de salto em comprimento, que dominou entre 1981 e o início de 1990. Ganhou dez medalhas olímpicas e outras dez nos campeonatos mundiais de atletismo, a maioria de ouro.
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