A 11.ª edição do Meo Rip Curl Pro Portugal — décima e penúltima prova do circuito mundial (CT) que arrancou em Supertubos e tem período de espera até dia 28 de outubro — tem como aliciante a possibilidade de consagrar como campeões mundiais Carissa Moore (Havai), três vezes campeã mundial (2011, 2013 e 2014), e Gabriel Medina, bicampeão do mundo (2014 e 2018), ambos n.º 1 do ranking.

A etapa, que assinala o regresso da competição feminina depois de uma ausência de nove anos, serve para alimentar o sonho olímpico dos surfistas e a esperança da manutenção na elite mundial, além de ter como atração três surfistas portugueses: Frederico Morais (“Kikas”), surfista nacional com melhor ranking, 34.º no circuito mundial (CT) e 6.º no circuito de qualificação (QS), Miguel Blanco, bicampeão nacional de surf e 144.º no QS, e Vasco Ribeiro, 67.º do ranking QS. No entanto, apenas Vasco Ribeiro passou a primeira bateria esta quinta-feira e segue na prova.

Carissa Moore, surfista do Havai, líder do ranking da WCT (World Championship Tour), regressou a Peniche com boas memórias das ondas de Supertubos — memórias essas avivadas por uma rápida busca que fez no YouTube durante a prova que antecedeu a etapa portuguesa.

“Quando estava em França, espreitei no YouTube o último evento (2010, em que ganhou) para relembrar e fiquei muito contente”, disse durante a conferência de imprensa de lançamento da competição, em que se apresentou com uma camisola da fundação Moore Ahola (que criou para ajudar as novas gerações de raparigas).

Os cenários de atribuição do título vão crescer à medida que Carissa avançar até às meias-finais (atingir o 3.º lugar) e final (podendo, ou não vencer), estando apenas dependente dos resultados de Lakey Peterson (2.ª do ranking) e Sally Fitzgibbons (3.ª).

Num “ano intenso” de “altos e baixos”, mas com “uma excelente última metade”, Gabriel Medina, chegou a Peniche na liderança do CT (Championship Tour). O atleta pode conquistar o terceiro título mundial da sua carreira se chegar à final do evento, embora esteja dependente dos resultados dos compatriotas Filipe Toledo (2.º) e Ítalo Ferreira (4.º), assim como de Jordy Smith (3.º) e Kolohe Andino (5.º).

“Vou pensar bateria a bateria, necessito de ganhar e é esse o meu objetivo. Estou com a cabeça aqui”, garantiu o surfista, que se manifestou satisfeito por ter a companhia de “família e amigos” e por ter comido “arroz, feijão e picanha”, confessou, com um sorriso nos lábios.

Medina entrou em competição na bateria n.º 6 ao lado de Miguel Blanco, que, juntamente com Frederico Morais e Vasco Ribeiro, recebeu um wildcard para Peniche.

“Há 10 anos faltava à escola para vir ver os surfistas na água. Agora é a minha terceira vez (2016 e 2018)”, referiu o surfista de 23 anos, bicampeão nacional. “No fim do dia trabalhamos todos para desenvolver o surf em Portugal. Tê-los aqui (Vasco e o Miguel), ter as marcas e o apoio dos portugueses, alimenta os sonhos, que é o mais importante. Eu tive o meu e consegui atingi-lo. E os mais novos também podem ter”, sublinhou Frederico Morais (que entrou no Meo Rip Curl Pro Portugal devido à lesão de Mikey Wright). “Há espaço para mais”, diz ainda o atleta que está em Peniche pela sexta vez (quatro como convidado e duas como surfista da elite mundial).

Antes de entrar em prova no heat 3 com os brasileiros Ítalo Ferreira (que defende o título conquistado no ano passado) e Yago Dora, “Kikas” acelerou no Kartódromo do Bombarral ao lado do piloto de ralis Armindo Araújo, num momento de “injeção de adrenalina”.

Em relação à penúltima prova do circuito mundial, entrou sem a pressão de pontuar. Assume que está focado nas duas últimas etapas do circuito de qualificação (no Havai), no qual ocupa o 6.º lugar, e que são decisivas para o regresso à competição que reúne os melhores surfistas.

Frederico Morais, 3º no heat e Miguel Blanco, que terminou igualmente na última posição da bateria (com Gabriel Medina e Joan Duru), vão disputar uma ronda de repescagem.

Vasco Ribeiro, de 24 anos, entra em Supertubos pela quarta vez, a convite a WSL (Liga Mundial), e substitui John-John Florence. Nos seus ombros pesa a meia-final que atingiu em 2015, o mais longe que alguma vez um surfista português conseguiu chegar.

“Não tenho a pressão dos resultados. Vamos ver até onde posso ir”, disse. “Vai servir de preparação para as duas últimas etapas do QS”, revelou o atleta que disputou a bateria com Filipe Toledo e Ezekiel Lau. Classificado em 2.º lugar segue para a terceira ronda do Meu Rip Curl Pro Portugal.

Nove anos depois, o regresso das mulheres a Peniche

A 11.ª edição da etapa portuguesa do circuito mundial marca o regresso, nove anos depois, da prova feminina a Peniche (realizou-se em duas ocasiões, em 2009, ganha por Coco Ho, e 2010, com Carrisa Moore a triunfar).

“Estamos felizes por trazer de volta a competição feminina a Peniche. Depois do anúncio da igualdade de prémios para ambas as competições (masculina e feminina), era importante trazê-la”, afirmou a CEO da Word Surf League, Sophie Goldscmidt.

Entre as 18 surfistas em prova, destaque para as australianas Stephanie Gilmore e Sally Fitzgibbons, que garantiram o apuramento olímpico no France Pro, no início de outubro, e Alana Blanchard, que esteve em Peniche em 2019 e recebeu agora o convite da organização — um regresso ao WCT numa fase da vida competitiva da surfista menos intensa (foi mãe em 2018). Blanchard foi uma das atletas que recebeu de braços abertos as portuguesas Teresa Bonvalot, Yolanda Hopkins e Mafalda Lopes, campeã nacional.

Portugal como destino de surf e de estilo de vida

Presente na conferência de imprensa de apresentação da 10.ª e penúltima etapa do circuito mundial, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho (que agora ocupará a pasta do Trabalho), realçou importância crescente que a indústria do surf tem assumido em Portugal, graças a eventos como o Meo Rip Curl Pro Portugal, em Peniche.

“Há 11 anos vi o arranque da primeira prova da World Surf League (WSL) em Peniche e é impressionante o desenvolvimento desde então”, salientou a secretária de Estado, que se socorreu das várias provas internacionais que decorrem em Portugal promovidas pela WSL.“Tivemos 100 milhões de visualizações das provas da WSL, há um crescimento de 400% nos artigos internacionais e o país é o mais procurado no Google associado à palavra surf”, continuou. “Em três anos, de 400 empresas ligadas ao surf passámos para 800”, indicou ainda Ana Mendes Godinho.

Portugal é o 3.º destino mundial de surf e o primeiro da Europa, salientou. “Acreditamos que Portugal é o melhor destino, não só para fazer surf, mas para viver, estudar, fazer uma vida. Queremos passar esta imagem de todo um país que apoia o surf. E também de Portugal como um destino sustentável. Queremos associar cada vez mais o surf a um lifestyle de sustentabilidade”, apontou.

E por falar em sustentabilidade, um dos patrocinadores da prova – o Meo - aproveitou para apresentar a "unwanted sapes ", uma prancha feita a partir de plástico feita pelo shaper Lacrau.

A luta contra o plástico serviu igualmente de mote para a constituição da Oeste PIAAC, um plano intermunicipal de adaptação às alterações climáticas levado a cabo por 12 municípios do oeste. Uma luta que tem uma personagem de nome Maria.

É “o rosto da causa” e está “preocupada com as questões ambientais e com o combate às alterações climáticas. Promove a limpeza dos oceanos e a luta contra o plástico”, explicou Pedro Folgado, presidente da Câmara Municipal de Alenquer e da Oestecim. Numa região – Peniche, Nazaré e Torres Vedras – que vai fazendo a diferença em relação ao surf”, o autarca garante estarem, todos, “empenhados para que o ambiente seja também uma grande bandeira do Oeste”.

(Notícia atualizada às 14:14)