Pedro Bento, que vai narrar a sua aventura sexta-feira à noite, no cineteatro de Almeirim, disse hoje à Lusa que ficaram a faltar cerca de 100 quilómetros para a meta que tinha estabelecido, mas o objetivo de reunir 10.000 euros - o lema do projeto era “1 euro por 1 quilómetro” – foi ultrapassado.

O desafio a que se propôs teve inicialmente por objetivo apoiar os Bombeiros Voluntários de Almeirim, em agradecimento por todo o apoio recebido na sequência do acidente grave que sofreu em abril de 2017, e o projeto “Dreams of Katmandu”, do português Pedro Queirós.

Pedro Bento afirmou que o apoio ao projeto de Katmandu (no total de 1.500 euros), destinado inicialmente a garantir bolsas de estudo e alimentação a dois jovens nepaleses, foi alargado à compra de uniforme e livros escolares para um outro jovem de um orfanato local e ao pagamento de uma ida das oito crianças desse orfanato, pela primeira vez, a uma piscina.

Pedro Bento conheceu o projeto “Dreams of Katmandu”, que continua no Nepal a apoiar as crianças do Campo Esperança, vítimas do terramoto de 2015, quando participou numa prova naquele país, em 2016, altura em que se tornou “irmão” de Mingmar e Tenzing Sherpa, numa cerimónia que “mexeu” consigo.

Aos bombeiros de Almeirim, o atleta vai oferecer 10 fatos de proteção e combate a incêndios, num total de 8.000 euros.

Como os donativos para o projeto ultrapassaram o valor colocado como objetivo, Pedro Bento decidiu, com o acordo da maioria dos perto de 3.000 seguidores da sua página - https://bakonbike2019.wixsite.com/bakonbike2019 - , ajudar na compra de uma cadeira de rodas desportiva para Luís Jejum, o atleta de 36 anos, natural da Golegã (Santarém), que sofreu graves lesões na coluna num acidente durante uma prova de BTT na Carregueira (Chamusca), em setembro de 2017.

Pedro Bento, 40 anos, sofreu um acidente de moto em 1 de abril de 2017 quando fazia o reconhecimento do percurso para uma prova de BTT que se realizava no dia seguinte, pelo que, quando ouviu a história de Luís Jejum, se “identificou” com ele, tendo-o visitado no hospital.

Contra todas as previsões, Pedro Bento não só não ficou em cadeira de rodas, como conseguiu recuperar fisicamente a ponto de voltar a uma prática desportiva que lhe tinham dito que nunca mais iria fazer.

A motivação de “agradecer e ajudar” levou-o a iniciar a viagem no passado dia 13 de abril, tendo regressado a Almeirim a 26 de junho.

O desafio levou menos dois dias do que inicialmente planeado, pela necessidade de algumas alterações no percurso e porque os danos provocados à bicicleta no voo de regresso o obrigaram a fazer o percurso do aeroporto de Lisboa até casa de comboio.

Técnico superior de desporto na Câmara Municipal de Almeirim (que lhe permitiu o gozo de uma licença sem vencimento e das férias) e membro da secção dos 20kms de Almeirim, Pedro Bento tem já em mente um novo desafio, que só vai revelar quando souber se tem condições para o realizar, disse.

O acidente que sofreu interrompeu um projeto que o atleta havia iniciado após participar, em 2007, na que era considerada como uma das mais duras provas de BTT do mundo, na Costa Rica, o de “fazer as 10 provas que as revistas diziam ser as mais difíceis do mundo”.

Seis estão cumpridas – Costa Rica, Canadá, Itália, Chile, Nepal (onde foi o primeiro português a chegar aos 5.400 metros de altitude de bicicleta) e Austrália, esta um ano depois do previsto dada a ocorrência do acidente -, mas, “pelo meio”, decidiu fazer este projeto como forma de agradecimento.

Com nove vértebras e a omoplata direitas partidas no acidente, Pedro Bento não esconde que às muitas peripécias que viveu na viagem – como enfrentar temperaturas de 51 graus e passar dias a “bananas e água”, como aconteceu na Índia – se somaram dores e algumas lesões.

Pedro Bento atravessou 14 países, apenas evitando passar no Afeganistão e no Paquistão, tendo viajado de avião do Irão para a índia.