Para quem não conhece, o Brasil é uma loucura. Um repórter peruano perguntou a um jornalista brasileiro especializado na cobertura do Palmeiras antes do confronto contra o Universitário pela Libertadores: “É verdade que se o Palmeiras perder hoje o Abel será demitido?”. Como assim, o atual campeão da Libertadores, troféu conquistado há dois meses, já está com o cargo ameaçado, pensou certamente. Não está, mas Abel já viu que o adepto tem memória curta.
O Mundial de Clubes foi um banho de água fria no entusiasmo do adepto palmeirense, apenas 10 dias após vencer a Libertadores no Maracanã. Culpa do calendário maluco. O título da Copa do Brasil ajudou a devolver o saldo positivo para a época vitoriosa, talvez a mais vitoriosa da história do clube, mas as fracas atuações nas finais deixaram os adeptos com um sentimento incompleto. Queriam jogar bem, de forma igual ao Flamengo de JJ. Não bastava vencer.
As férias de 20 dias de Abel foram permitidas, mas o adepto não tem a noção temporal de quanto tempo demora para recomeçar um trabalho. Abel já voltou para um Palmeiras pressionado por duas finais, da Supercopa Brasileira e da Recopa Sulamericana. São torneios menores, normalmente irrelevantes nas suas versões equivalentes europeias, mas as derrotas, nos pénaltis, para Flamengo e Defensa y Justicia, mostraram um Palmeiras ainda competitivo mas não deslumbrante.
E o pior, dois dias depois da segunda derrota, o primeiro clássico do ano veio com derrota para o São Paulo. Sim, o calendário apertado pela paragem de 15 dias do futebol no Brasil, devido à pandemia, criou a esquizofrenia de jogos a cada dois dias. E o Campeão da Libertadores e da Copa do Brasil, depois de se focar em dois novos troféus e entrar com as reservas para o clássico foi contestado após a derrota. É uma insanidade.
Nos muros do centro de treinamentos alviverde, alguns jogadores foram escolhidos como vilões. E Abel foi poupado, mas recebeu um “Acorda Abel” bem grande, em branco, pichado no muro. Obviamente que não é toda a massa adepta que pensa assim, mas uma parcela barulhenta de adeptos que já arrumou muito problema para o clube. Grupo que ficou famoso na época de Felipão, graças a ele conhecidos como Turma do Amendoim, por ficarem colados na grade atrás do banco de suplentes e atrapalhar o treinador durante toda a partida. O Palmeiras, até há pouco tempo, tinha uma política sempre em efervescência e isso refletia-se nos adeptos pouco pacientes.
Hoje, rapidamente a grande maioria dos adeptos já se mobilizou e criou a campanha #JuntoscomAbel para mostrar apoio ao treinador. Ao mesmo tempo, a direção se mexeu para atender as exigências do português no mercado de transferências. Abel reclamou recentemente do calendário, mas isso é um problema geral do Brasil neste momento.
Na verdade, o recente sucesso de Palmeiras e Flamengo criou uma imagem de grande superioridade para o adepto, que espera que os seus clubes vençam todos os jogos com facilidade. No futebol brasileiro e sul-americano não é assim. Apesar de terem elencos superiores, as dificuldades de tempo de treino dificultam a evolução da equipa. Abel terá o desafio de mudar um pouco o seu estilo para buscar um futebol mais plástico, mas terá mais tranquilidade para o fazer se continuar a vencer.
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