A 2 outubro de 2000, Diogo Luís, então com 20 anos, foi lançado por José Mourinho na equipa principal do Sport Lisboa e Benfica. No jogo da 6ª jornada, na Luz, diante o Sporting de Braga, ocupou o lugar que lhe estava reservado, de defesa esquerdo.
Foi um culminar de um sonho e o corolário de uma de duas paixões: o futebol. Que viria a durar oito anos mais, embora não tivesse passado muito tempo pela 2ª Circular. Depois de 28 partidas vestido de encarnado, e já sem estar às ordens do atual treinador do Manchester United que saltou do banco das águias depois de onze jogos oficiais, Diogo Luís, internacional sub-21 em quatro ocasiões, viajou na época seguinte até Alverca. Seguiu-se Beira-Mar, Naval, Estoril, Leixões, um percurso futebolístico que terminou, em 2008-2009, no Chipre no Apollon Limassol. Tinha então, 28 anos.
No final da época pendurou as botas e deu seguimento à segunda paixão que tem e que era, então, pouco revelada no balneário: os mercados financeiros. O futebol fica para trás e a conversa que se segue não é sobre o 4x4x2. Os números são outros.
“Tinha proposta que já não eram muito atrativas, tinha família, filhos e pensei no que seria o futuro se continuasse a jogar do futebol na 1ª ou 2ª Liga sem grandes rendimentos”, recorda Diogo Luís à margem de um workshop que assinala o Dia Mundial da Poupança. Realizado no Museu Nacional do Desporto, em Lisboa, promovido pelo Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol e que se inseriu no projeto de Educação Financeira, foi desenvolvido em parceria com o Plano Nacional de Formação Financeira (PNFF), Banco de Portugal, CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) e ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) sob o lema “Todos Contam. E no futebol também”.
“Percebi que não iria mais longe no futebol e fiz uma opção. Felizmente tinha o curso de Economia (Faculdade Nova de Lisboa)”, feito à distância. “Não ia às aulas, fazia as cadeiras por exame final e estudava em casa. No Benfica B, fiz 15 cadeiras, em 30 e tal, depois no Beira-Mar, tentava fazer uma cadeira por semestre. Não tinha férias, fazia os exames em junho, no Estoril, arranquei mais umas cadeiras, assim como no Naval. Não foi fácil, mas valeu a pena. Era um objetivo”, recorda em conversa com o SAPO24.
Do banco dos estádios para a banca de investimento. Menos dinheiro, mais trabalho
Começou aos 18 anos e acabou aos 26. “Foram 8 anos, porque tinha outra profissão e não porque andava lá a brincar”, vinca. Com o canudo no braço e empurrado pelo colega de equipa, Jorge Cordeiro (enviou o curriculum através da mulher que trabalhava num banco) entrou “por acaso” no mundo da banca. A porta de entrada foi “num banco de investimento (BIG)”, então como Financial Advisor.
“Não foi fácil a adaptação”, reconhece nesta transição do cheiro do balneário para o sabor do dinheiro. “Os cursos, teóricos, não preparam para o mercado de trabalho. Preparou-me para pensar pela minha cabeça”, admite.
“Entrei um pouco à deriva, tinha uma ideia diferente da banca da que tenho hoje e aprendi o que sei hoje”, admite. “Não fui para lá como ex-jogador de futebol que vai buscar jogadores de futebol como clientes. Não ia para gerir carreiras ou o que quer que fosse”, remata. “Ganhava menos do que a jogar futebol e com um dia muito mais prolongado. Adaptei-me e percebi que tinha de ser eu a fazer muita pesquisa”, frisa.
Um ano depois passa a Private Banker noutra instituição (Banco Best). “Passei a ter mais variáveis e a ler muito sobre os mercados financeiros. É importante estarmos atualizados. Ninguém sabe tudo, não há gurus nos mercados financeiros”, avisa.
Somados oito anos de banca em que fez “uma recruta intensiva”, num caminho “duro” e durante o qual “queria ser uma coisa” mas que hoje é “outra”. E hoje, com 38 anos, trabalha numa sociedade gestora de património (Golden Wealth Management) .“É um projeto diferente, já não tenho que colocar produtos do banco. Estou a gerir e tento encontrar as melhores soluções de investimento para o cliente”, informa.
Olha preferencialmente para o ”médio e longo prazo”. Pelas suas mãos passa tudo. Tudo são “ações ou obrigações”, ressalvando, no entanto, que “não investe em ações diretas” porque “é difícil controlar o mercado e um balanço de uma empresa”.
Procura encontrar os melhores ativos num investimento que é global. “Temos 130 mil fundos a nível mundial e criamos critérios a volta de 100 mil, definimos uma shortlist, falamos com as sociedades gestoras e depois, em função disso, fazemos a alocação de uma carteira em função das geografias que fazem sentido e em função do perfil do cliente. Se é conservador não pode ter tanta exposição a fundo de ações, se é mais agressivo já pode ter um pouco mais”, desvenda.
Reitera por diversas vezes na conversa que “nunca ninguém sabe tudo”, que os mercados “são instáveis” e “há muita especulação de curto prazo que acaba por ser prejudicial para umas carteiras de investimento”. Mas se olhar numa ótica a “médio e longo prazo, com uma fundamentação bem definida, as carteiras de investimento acabam por compensar”, sublinha.
O ideal, opina, é ter uma “carteira equilibrada e diversificada” sem estar exposta a “riscos que são demasiado específicos” e “sem ficar à espera que o ativo suba quando o ativo não tem dimensão para subir”. Reconhece que podia dar exemplos, mas encerra o assunto com um “ficamos por aí”.
Deixa igualmente um conselho a quem quer investir: “vivemos num mundo global e quando vamos investir não o devemos fazer só a olhar para a nossa caixa. Temos que olhar para um todo. A nossa economia é uma economia dependente dos outros. E existe formas de investir em qualquer parte do mundo. Em qualquer ativo”, finaliza.
Quando o mundo do futebol entra em campo na esfera dos investimentos
Enquanto jogador acompanhava o PSI-20. “Quando era novo investia em ações porque pensava que era fácil e rápido ganhar dinheiro. É difícil. Podemos ter sorte que suba 20%, mas podemos ter azar de cair 20 % e não sabemos como vamos reagir”, avisa. “Cometemos erros de investimento. Se soubesse o que sei hoje talvez o meu património fosse maior. Mas é normal. Aprendemos com a experiência”, admite.
Diogo Luís jogava futebol quando rebentou a crise (2007). “É um barómetro para o que vivemos nos dias de hoje. Estudei-a (a crise), vi o que aconteceu aos ativos financeiros, a derrapagem e depois percebemos que existe capacidade de resposta”, recorda.
Se no relvado foi defesa esquerdo, com fato e gravata não joga nem muito à defesa, nem muito ao ataque. A tática é: “temos que ser aquela equipa que não sofre muitos golos, nem se expõe demasiado. Mas no final do dia temos que ganhar. Temos que ter um equilíbrio e explicar e fundamentar todas as opções de investimentos”, explica.
Do futebol, que acompanha enquanto comentador, mantém amigos e alguns “ex-futebolistas como clientes”, informa. “O mercado do futebol é complicado. Não vendo sonhos. Digo a realidade e a realidade assusta um pouco”, contra-ataca. “Não digo que vou dar 6% ou 10% ao ano. Não. Digo que vou fazer uma carteira estruturada e planear economicamente o futuro para daqui a uns anos ter um bom pé-de-meia”.
Reconhece que o mundo da bola funciona ainda muito “na base da amizade” num processo que se desenrola a partir de “aquele que é amigo daquele e que me vai ajudar. Os jogadores não olham tanto para aquilo que a pessoa sabe mesmo”.
Dá um exemplo que vem dos Estados Unidos da América e do basquetebol. “Já o Magic Johnson dizia quando perguntava aos jogadores sobre quem estava a gerir as suas poupanças. Se a resposta fosse o pai ou a irmão, dizia logo: esquece que comigo não trabalhas. O pai quer o melhor, mas pode não ter as competências necessárias para ajudar naquela área”, adverte Diogo Luís, ex-jogador profissional de futebol que virou gestor de património, um percurso ao longo do qual conseguiu e consegue manter vivo as duas paixões: “futebol e os mercados financeiros”, remata.
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