Novo treinador, nova época. Novo timoneiro, novos métodos. Novo homem no leme, nova mentalidade. No primeiro dia de trabalhos no Centro de Treinos do Olival, em Gaia, Sérgio Conceição deve ter tido uma conversa aberta com os seus jogadores. Não estando presentes, apenas podemos especular sobre o que por ali foi dito. Assim, avaliando o arranque portista, vamos assumir que foi um diálogo algo semelhante há aquele que decorreu no terceiro episódio da 7ª temporada (alerta spoiler!) de Guerra dos Tronos quando Tyrion Lannister (o anão) esboça o seu plano para enfrentar alguém e partilha as ideias com os presentes na sala sobre uma batalha que visa enfrentar esse alguém. É neste contexto que Lady Olenna Tryll, interpretada pela veterana Diana Rigg, lança uma questão a Daenerys Targaryen (a menina com farta cabeleira loira):
— "És uma ovelha? Não, és um dragão. Sê um dragão."
Ora, não sabemos bem se o guião de Conceição foi bem este, mas os trâmites do discurso empregue na alma dos seus rapazes devem coincidir com o intento desta pergunta na série da HBO — ou não somassem apenas vitórias no campeonato e não viessem de um importante triunfo em pleno principado do Mónaco. É, portanto, nesta situação que o dragão visitante chega a Alvalade: a esbaforir confiança, firmeza e golos. E no domingo espera sair do reino do ‘leão’ como entrou. Mas não se avizinha uma missão fácil — de todo. Do outro lado do campo vai estar um adversário também ele motivado pela boa época em curso e que vai contar certamente com quase 50 mil almas a torcer pela turma de Jorge Jesus.
O FC Porto soma 21 pontos à entrada para a 8ª jornada, leva 19 golos (média de 2,71 por jogo) marcados e sofreu apenas três (dois deles frente ao Portimonense, na última jornada). Em casa, goleia (marcou, no mínimo, sempre 3) e faz sonhar até os portistas mais desconfiados. Fora do Estádio do Dragão, apresentou um futebol mais pragmático, rigoroso e estruturado. Não obstante, ainda que sem a famosa “nota artística”, contou com aquilo que realmente interessa: a vitória, os três pontos e apresentou-se seguro de si.
Só que é preciso avaliar o grau de dificuldade das deslocações efetuadas para perceber que não se pode pedir a Conceição que grite dracarys e que os azuis e brancos incendeiem as redes adversárias sempre em todos os encontros que disputam e que a bola rola. Visitar a Pedreira (0-1, Corona) e a Vila do Conde (1-2, Danilo Pereira, Marega) admite inerentemente uma jornada tradicionalmente complicada.
Chegar, ver e vencer à Conceição não é para todos. Ter um aproveito de 100% à 7ª jornada no campeonato, também não. É um grupo restrito. Ao atingir esta meta, criva o seu nome ao lado do de Jesualdo Ferreira e o polaco Miguel Sika (1939/40). Note-se que, à memória, salta o feito alcançado por Villas-Boas em 2010/2011. Nesse ano, à entrada para a 8ª jornada, o FC Porto tinha um registo de 7 vitórias e 1 empate (14 golos marcados, 3 sofridos) e terminou a temporada invicto a 19 pontos do rival da Luz.
No último jogo a contar para o campeonato nacional, a equipa portuense passou com distinção na receção ao recém-promovido Portimonense, ao vencer por 5-2, com destaque para o ‘bis’ de Brahimi e para mais um golo de Marega, o sexto na Liga, que faz do avançado do Mali o segundo melhor ‘artilheiro’.
O Portimonense não conseguiu acompanhar o ritmo 'frenético' dos 'azuis e brancos', vendo-se, por isso, obrigado a concentrar-se, essencialmente, na sua grande área. Essa postura deu ao FC Porto maior liberdade ofensiva, que, com alguma inspiração à mistura, deu abertura para um festival de golos.
Já o ‘balão’ do Sporting à primeira vista parece ter esvaziado um pouco nas últimas semanas, período em que averbou três jogos consecutivos sem vencer: além do empate em Moreira de Cónegos, ficou-se por um ‘nulo’ na receção ao Marítimo, para a Taça da Liga, e perdeu em casa por 1-0, com o FC Barcelona, para a Liga dos Campeões.
Para uma equipa que tinha vencido oito dos nove jogos anteriores, muitos dirão que a formação ‘leonina’ parece estar num momento mais complicado desde o início da época, ainda que apenas a ‘escorregadela’ no Minho possa considerar-se realmente comprometedora, até por deixar o Sporting em posição subalterna antes do ‘clássico’.
A confiança via ‘Champions’
Tal como as pessoas não esquecem o filme de Spielberg, ainda que tenha estreado há 35 anos, Jorge Jesus deverá saber de memória aquele nome por muitos e longos anos. Até lhe pode chamar “baixinho” e fingir que não se lembra do seu nome, mas será fácil arriscar que umas horas não chegam para esquecer um “Extraterrestre”.
Só para o encontro desta terça-feira, o técnico português deve ter passado horas a matutar estratégias para impedir que o astro argentino, Lionel Andrés Messi de seu nome, fizesse das suas — algo que até conseguiu através do 4x4 do seu meio-campo, o sempre disponível Battaglia (e Mathieu, para sermos justos), mas que não impediu que lhe fossem beijar os pés.
Não que seja permissível de se afirmar que jogou mal, apenas não fez das suas — ainda que tenha partido dele o cruzamento para infortúnio de Coates.
Foi um jogo em que o Sporting mostrou estar devidamente composto e que, apesar da derrota, o conjunto não deve sair com a moral em baixo. Existiu um plano que estava a correr bem até ao início da segunda parte (momento do autogolo). Depois, correndo atrás do prejuízo, houve Ter Stegen.
Perder pela margem mínima enquanto se mostra fiel aos seus princípios, não deverá comprometer, nem dar azos a que os azuis e brancos sintam que vão estar em campo com vantagem direta sobre o seu adversário. Até porque uma vitória por parte dos ‘leões’ significa ficar no topo do trono. E logo sem partilhas, isolados. Isto, ao mesmo tempo que impunham a primeira derrota no campeonato e vincavam um importante ponto [statement] perante os que lutam pelo título.
Por seu turno, o FC Porto, contou no Estádio Louis II, no Mónaco, à mesma hora que o Sporting jogava com o Barcelona, com a inspiração do avançado camaronês Aboubakar, que marcou aos 31 e 69 minutos os dois primeiros golos da partida, antes de o mexicano Miguel Layun fechar a contagem aos 89, com os ‘dragões’ a somarem os primeiros pontos, depois da derrota em casa com o Besiktas na estreia.
Máxima força
Sporting deixou fugir no comando da prova o FC Porto, que passou a deter dois pontos de vantagem sobre os ‘leões’ e a assumir-se como a única equipa 100% vitoriosa, em vésperas do ‘clássico’ entre ambos no estádio José Alvalade.
Mas a história dita que em dia de clássico estes elementos pouco ou nada interessam. Só quando os 22 jogadores pisarem o relvado se vai conseguir tirar as ilações sobre quem vai garantir o triunfo e os três pontos no final dos 90’.
Em vésperas de jogo, sabe-se que os dois treinadores dispõem das equipas quase na máxima força, sem jogadores influentes ausentes devido a lesão ou suspensão, ainda que o avançado sportinguista Doumbia possa ficar afastado devido a uma lesão muscular sofrida frente ao FC Barcelona.
Sporting deixou fugir no comando da prova o FC Porto, que passou a deter dois pontos de vantagem sobre os ‘leões’ e a assumir-se como a única equipa 100% vitoriosa, em vésperas do ‘clássico’ entre ambos no estádio José Alvalade.
Será a 226.ª partida oficial entre os dois clubes, o histórico de confrontos regista uma igualdade de vitórias para cada lado (81, com 63 empates), mas, para o campeonato, em Alvalade, o balanço é claramente favorável ao Sporting, que venceu 45 jogos, empatou 19 e perdeu 19.
O jogo entre o Sporting, segundo classificado do campeonato, com 19 pontos, e o líder FC Porto, que contabiliza 21, realiza-se no domingo, no Estádio José Alvalade, em Lisboa, com início às 19:15 horas, com arbitragem de Carlos Xistra, da associação de Castelo Branco.
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