“Estamos a terminar este ano o pagamento do último empréstimo que financiou esta operação”, disse à Lusa o presidente da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, adiantando que o valor final do estádio com as acessibilidades e o estacionamento deverá rondar os 70 milhões de euros, mais do dobro do investimento apontado inicialmente.
O autarca que assistiu ao jogo inaugural do estádio, entre as seleções de Portugal e da Grécia, em 2003, disse que o então presidente da autarquia, o socialista Alberto Souto, “não fez as contas bem”, embora reconheça que a decisão tenha sido tomada “na lógica mais sensata que tinham ao seu dispor”.
“Eu nunca faço julgamentos da história. As coisas são o que são. Acho que se tivéssemos ponderado há 20 anos que este estádio ia custar 70 milhões de euros ninguém o fazia”, afirmou, considerando que se tratou de um investimento “grande de mais, desproporcionado e absurdo”.
Agora, diz que não vale a pena olhar para trás, defendendo que é preciso cuidar do estádio para receber o Beira-Mar, que é o clube residente, a seleção nacional, como aconteceu recentemente na preparação para o Euro2024, ou a Supertaça, como irá acontecer em agosto.
“Entendemos que outras teses, nomeadamente a tese de demolir o estádio, não fazia qualquer sentido e, por muito que possamos discordar hoje daquilo que se fez, não podemos reescrever a história e, portanto, procuramos gerir o melhor possível esta infraestrutura”, vincou.
A rentabilização não desportiva deste gigante de betão colorido, que custa cerca de meio milhão de euros por ano em termos de manutenção, tem-se revelado um problema para a autarquia.
Sem querer iludir os munícipes, Ribau assume que o objetivo é rentabilizar socialmente o estádio, mantendo “uma cooperação muito intensa” com a Federação Portuguesa de Futebol “para uma vez por ano, sempre que seja possível, ter aqui uma competição importante à escala nacional, seja uma supertaça, ou um jogo da seleção nacional”.
No entanto, para que isso seja possível, diz que será necessário investir mais cerca de 10 milhões de euros nos próximos dois anos na reabilitação da cobertura e na substituição das placas de revestimento exterior, uma situação que, na opinião do autarca, se ficou a dever a “erros de gestão” dos seus antecessores, que receberam a obra com “problemas estruturais”.
“Em vez de obrigar o consórcio empreiteiro a resolver os problemas, a Câmara negociou reduções de divida e assumiu os problemas que estavam já cadastrados”, disse Ribau, adiantando que a solução, agora, passa por encontrar a solução técnica mais indicada e fazer a obra.
Na zona em redor do Estádio, já foi construído o Complexo de Campos de Treinos do Beira-Mar e a Aldeia do Futebol da Associação de Futebol de Aveiro, estando previsto, nos próximos anos, a construção de um pavilhão desportivo municipal e da piscina municipal.
A Câmara tem vindo a trabalhar também com a empresa Visabeira, com quem tem uma parceria na sociedade anónima Parque Desportivo de Aveiro, para se começar a investir na área da habitação, comércio e serviços, tendo em vista o desenvolvimento urbano daquela área.
O recém-eleito presidente do Beira-Mar, Nuno Quintaneiro Martins, reconhece que o estádio está sobredimensionado para o município e para realidade do Beira-Mar, mas diz que isso deve ser encarado como uma oportunidade de “voltar a colocar o clube na elite do futebol nacional”.
“Enquanto vários clubes para chegarem aos campeonatos nacionais têm enormes dificuldades, por causa das limitações impostas pelas suas infraestruturas, o Beira-Mar tem uma infraestrutura que está mais do que preparada e quer é precisamente estar nos grandes palcos”, observou.
Projetado pelo arquiteto Tomás Taveira, o Estádio Municipal de Aveiro tem uma lotação para cerca de 32 mil pessoas, sendo o quinto maior estádio português. Foi inaugurado em 15 de novembro de 2003, tendo acolhido dois jogos do Euro2004, ambos da República Checa, com Letónia e Países Baixos.
A sua utilização resume-se à vertente desportiva, com destaque para alguns jogos da seleção nacional e a Supertaça Cândido de Oliveira, que já se realizou em Aveiro 13 vezes desde 2009, tendo sido também a casa emprestada de Académico de Viseu, Tondela e Oliveirense.
Atualmente, é utilizado pelo Beira-Mar, que disputa o Campeonato de Portugal, o quarto escalão do futebol nacional. Além do futebol sénior, o clube aveirense tem aqui a funcionar várias secções do clube, designadamente o judo, jiu jitsu, kickboxing, bilhar, xadrez e o atletismo, pagando à Câmara um valor mensal de 1.500 euros.
*José Duarte Neves (texto) e Paulo Novais (fotos) / LUSA
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