Sim, João Félix está lesionado. Sim, Dyego Sousa (ainda se lembra que foi um dos convocados para a Liga das Nações?) está “escondido” na China, sem competir durante praticamente todo o mês de outubro. E sim, estamos na fase final da qualificação para o Europeu do próximo ano e adversários como a Lituânia e o Luxemburgo prometem jogos em que a Seleção Nacional passará mais tempo no meio-campo adversário do que a defender um resultado (ou, pelo menos, assim se espera). Mas regozijemo-nos com um facto: afinal, Portugal tem pontas-de-lança, ainda que não sejam “de raiz” – não amamos estas metáforas arbóreo-futebolísticas?

Foi mais ou menos há um ano (20 de novembro de 2018) que Éder, o “nosso” Éderzito, o homem que fod... lixou os franceses naquela noite de julho de 2016, envergou pela última vez a camisola da Seleção Nacional. O jogo era um Portugal-Polónia a contar para a Liga das Nações. O avançado do Lokomotiv de Moscovo jogou três minutos numa partida que terminou com um empate a uma bola.

De lá para cá, Éder terminou e recomeçou mais uma época na capital russa (desta vez sem a companhia do compatriota Manuel Fernandes, entretanto transferido para o Krasnodar) e nestes primeiros meses da temporada apontou cinco golos em 14 jogos. Mais dois golos do que em todos os 35 jogos que disputou na época passada (esses três golos, de resto, foram todos marcados antes dos seus últimos três minutos a envergar a camisola das Quinas).

Não são números arrebatadores mas são, ainda assim, mais golos do que marcaram João Félix e André Silva ao serviço de Atlético Madrid e Eintracht Frankfurt (três golos cada), respetivamente, homens que têm tido mais regularidade nas convocatórias do Engenheiro-do-Penta-que-é-também-Engenheiro-do-Euro. E apenas menos um golo que um tal de Cristiano Ronaldo marcou esta época (seis golos em 13 jogos para o capitão da Seleção).

Éder, contudo, não era o nome mais aclamado – nos cafés (ainda se fala de bola nos cafés? Espero que sim) e nas redes sociais desta vida. Gonçalo Paciência, filho da antiga glória portista Domingos Paciência (também ele antigo ponta-de-lança do FC Porto, Tenerife e Seleção), era já “exigido” pela chamada “opinião pública” desde o final do passado mês de agosto, altura em que Fernando Santos proferiu a já famosa frase de que “Portugal não tem pontas-de-lança”.

“O que considero um ponta-de-lança puro já quase não existe”, voltou a referir o homem que guiou Portugal à conquista do Euro 2016 na conferência de imprensa em que anunciou os regressos de Éder e de Gonçalo Paciência às convocatórias da equipa das Quinas.

E se a “travessia do deserto” do herói do Euro 2016 demorou um ano, a de Gonçalo Paciência levou o dobro do tempo. Foi a 14 de novembro de 2017 que o atual avançado do Eintracht Frankfurt jogou pela primeira (e última vez) com as cores da Seleção Nacional, numa amigável frente aos EUA que terminou empatado a uma bola. Foram 45 minutos que serviram para o inscrever na lista de internacionais portugueses mas que não tiveram continuidade. Até ontem.

Autor de nove golos em 22 jogos, seis deles na Bundesliga (onde é o terceiro melhor marcador ex-aequo com Hennings e atrás de Timo Werner e Lewandowski), tem sido um dos destaques da equipa de Frankfurt e foi inclusivamente um dos nomeados para Jogador do Mês de outubro no principal campeonato alemão.

A viver aquele que, provavelmente, será o melhor momento da sua carreira, Paciência (que está apenas a dois tentos de igualar o seu melhor registo goleador numa época, quando apontou 11 ao serviço do Vitória de Setúbal há duas épocas) regressa assim à Seleção Nacional pela mão do homem que lhe proporcionou a estreia há cerca de dois anos.

Éder e Gonçalo Paciência que, contudo, não são os portugueses mais goleadores desta convocatória. Esse “ceptro” é de Luís Miguel Afonso Fernandes, Pizzi no mundo do futebol, que com 12 golos em 16 jogos é o português a jogar nos principais campeonatos europeus que mais golos marcou nesta temporada.