“Não penso que devamos ir a estes países e ignorar o que se passa neles. Chegar, divertirmo-nos, e sair. Direitos humanos não deviam ser uma questão política, porque todos temos direito a eles”, disse o atual campeão mundial, na antevisão ao Grande Prémio do Bahrain, o primeiro do ano, a disputar no domingo.
Aquele país tem recebido corridas no circuito de Sakhir desde 2004, num dos momentos de maior visibilidade para um território que, na tabela da Human Rights Watch, está no pior patamar no que toca ao cumprimento dos direitos humanos.
Entre os factos apontados pelos ativistas estão a repressão da população shia, com vários e documentados episódios de tortura, repressão de manifestações, como durante a chamada Primavera Árabe, em 2011, e a destruição de mesquitas.
Na quarta-feira, as equipas, pilotos, e a organização receberam uma carta assinada por 24 grupos e associações de luta pelos direitos humanos, bem como 61 membros da Câmara dos Comuns do Reino Unido, para que abram um inquérito independente aos abusos só relacionados com o próprio Grande Prémio.
Segundo o documento, iniciado pelo instituto pelos Direitos e Democracia do Bahrain, há vários casos em que o impacto da corrida tem piorado a repressão do regime, como em novembro de 2020, em que um menino de 11 anos foi preso por participar num protesto contra a sua realização.
Outros países mencionados são o Azerbaijão e a Arábia Saudita, também acusados de utilizar o desporto para ‘lavar’ a má imagem associada a estes abusos, e presentes no calendário de 2021.
De resto, Hamilton declarou, em 2020, que queria falar diretamente com o rei do Bahrain, Salman Bin Hamad Al Khalifa, sobre a questão, mas hoje, quando questionado, disse querer manter “privadas” as conversas, até para “não prejudicar quaisquer progressos”.
O britânico de 36 anos recebeu ainda três cartas de sobreviventes de tortura, com descrições explícitas e detalhadas dos abusos sexuais e espancamentos que receberam, que “pesaram bastante” na sua consciência.
“Foi a primeira vez que recebi cartas assim. Nos últimos meses, tenho tentado educar-me”, garantiu.
O que gostaria de ver passar para os fãs mais novos do campeonato, acrescentou, é precisamente esse questionamento, o que começa com o ajoelhar, um símbolo de protesto associado ao movimento ‘Black Lives Matter’, que faz com que “pais e filhos tenham de se educar”.
O campeão do mundo disse ainda ter dialogado com vários especialistas e com a Amnistia Internacional, bem como com o embaixador britânico no Bahrain e membros do governo daquele país, enquanto o alemão Sebastian Vettel (Aston Martin) recebeu um pedido para que colocasse uma mensagem pela liberdade do povo no capacete durante a prova de domingo, como fez na Turquia, pela inclusão e igualdade, em 2020.
Segundo o Instituto, a organização da Fórmula 1 respondeu hoje com a garantia de que vai “levantar a questão”, mas reiterou que não é “uma organização de investigação internacional”, pelo que “não podem e não seria apropriado” abrir um procedimento do género.
Comentários