A chuva empurrou cerca de 24 horas a despedida de João Sousa do circuito profissional de ténis, mas o tímido sol que aclarou hoje, 3 de abril, o Clube de Ténis do Estoril, palco do único torneio português do circuito ATP250, ajudou no Adeus, em definitivo, ao maior tenista português de todos os tempos.
35 anos celebrados no passado sábado, Sousa escolheu a terra batida do Estoril Open para guardar as raquetes no saco. À sua espera, as bancadas quase cheias do Estádio Millennium, que se despediram com uma Guarda de Honra.
“Depois de tantos anos dedicado ao ténis, à minha paixão terminar aqui é sempre muito bom. Não podia ter escolhido melhor palco para terminar a minha carreira”, disse acompanhado na hora do adeus em pleno court depois de ter perdido na ronda inaugural do quadro principal do Estoril Open frente a Arthur Fils pelos parciais de 7-5 e 6-4.
Estoril Open onde tudo começou
Foi no torneio português que o tenista natural de Guimarães experimentou, pela primeira vez, o peso dos sets num quadro principal do ATP (wild card), em 2011 e ali começou a voar na carreira internacional, um caminho iniciado em 2005, aos 15 anos, quando aterrou em Barcelona.
Profissional desde 2005 (o ATP considera-o a partir de 2008), em 2012, atingiu pela primeira vez na areia nacional os quartos de final de um torneio do circuito principal do ténis mundial. A relação de amor com a prova portuguesa termina num climax no court principal do Millennium Estoril Open quando venceu o penúltimo título da carreira, em 2018.
Perdeu oito finais e conquistou quatro torneios ATP, todos na categoria 250, em 9 anos. Em Kuala Lumpur, 2013, então com 24 anos, Sousa obteve a primeira vitória portuguesa no ATP World Tour e venceu o primeiro título profissional sénior. Seguiram-se Valencia, 2015, Estoril, 2018 e Pune, 2022.
Ao longo de quase 20 anos, ganhou quase tanto quanto perdeu. Em qualquer uma das superfícies. Terra batida, piso rápido ou relva, ao ar livre ou indoor, em pares ou singulares, no circuito ATP venceu 220 partidas e perdeu 268. Uma estatística que incluí Grand Slams (27-38) e ATP 1000 Masters (29-51). Os números e o rácio invertem quando se desce dois níveis abaixo, ao Challenger (120-85) e aos ITF (108-75).
Contas feitas, totaliza, de acordo com a Associação de Tenistas Profissionais, 8,332,784 milhões de dólares em prize-money, sendo que 90 por cento do bolo foi ganho em cheques entregues no ATP.
Do pó de tijolo do Clube de Ténis do Estoril, o maior tenista português de sempre, que poderia ter sido futebolista ou médico,
guarda ainda a última memória um duplo encontro ao estilo speed date com o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O abraço antes do triunfo e a posterior visita ao balneário e interrupção do duche do vimaranense por Marcelo naquela hora de celebração nacional.
A última saída do court ao lado das pessoas mais importantes
Arthur Fils, 19 anos, número 37.º da hierarquia, foi o tenista a quem saiu em sorte fechar a última e mais bonita página do ténis português.
À sua frente esteve o antigo número 28 do mundo que se despediu na 272.ª posição do ranking ATP, um tenista que fala seis línguas, português, espanhol, catalão, francês, italiano e inglês, somou o maior número de internacionalizações na Taça Davis, 32, mais duas que João Cunha e Silva e o único português a ter estado em duas edições dos Jogos Olímpicos (Rio2016 e Tóquio2020) a disputar os quadros de singulares.
Fils foi parco em palavras na hora da celebração e deixou o adversário a soprar as velas.
João Sousa alongou-se um pouco mais. Na despedida, depois de ter jogado 1h50 dedicou a carreira ao público, agradeceu “muitas pessoas” e por um “dia especial em que despeço-me do ténis profissional, isto não é um adeus, é um até logo”.
Entre os agradecimentos, não esqueceu “provavelmente as pessoas mais importantes da minha vida ...é agora que começo a chorar”, a mãe, Adelaide, o pai, Armando, o irmão, Luís e o treinador, Frederico.
Assinou a lente, sabe que terá um adeus mais cerimonial no sábado, entre as meias-finais, recebeu a visita dos seus amigos no ténis, Pedro Sousa, Nuno Borges, Jaime Faria, entre outros e saiu, pela última vez do court, acompanhado pela família e treinador. A razão de tudo.
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