Fazer história não tem de passar necessariamente por inscrevemos o nosso nome num livro de recordes. Preservar, honrar e lembrar o feito de alguém também é fazer história. Mantendo-a viva.
Foi isso que Jordan Bohannon, jogador do Iowa Hawkeyes, equipa que disputa o Campeonato Universitário de Basquetebol nos Estados Unidos da América, fez, ao falhar intencionalmente um lance livre no jogo do passado domingo contra a equipa de Northwestern.
Antes de o árbitro lançar a bola no centro do terreno e de o jogo ter início, Bohannon entrava com a possibilidade de bater um recorde com mais de 24 anos que persistia na equipa de Iowa: o número consecutivo de lançamentos livres concretizados. Estava à beira de um número redondo: 35. O que significa que os últimos 34 lances livres tinham sido concretizados.
O número 34 era o que persistia no livro dos recordes, que agora também tinha o seu nome. Mas o feito, anterior, pertencia a um antigo jogador dos Hawkeyes, de seu nome Chris Street.
Street era uma jovem promessa do basquetebol em 1993, segundo se conta nos meios de comunicação social por estes dias, e tinha ficado célebre por este mesmo recorde: 34 livres consecutivos pela Universidade de Iowa State. E seria motivo de tristeza exatamente três dias depois de ter estabelecido esse recorde, ao morrer num acidente de carro.
No domingo à noite, quando o placard marcava 73-65 a favor da formação de Iowa, Bohannon dirigiu-se até à entrada do garrafão para lançar. Lançou, a bola ficou "curta" e falhou. E depois apontou para o céu.
A vida dos dois jogadores cruzou-se na infância, uma vez Bohannon cresceu junto da família Street. Essa era uma das razões pelas quais não quis apagar o nome de Chris do livro dos recordes.
“Ele esteve na minha cabeça por um bocado”, afirmou o basquetebolista, admitindo também que “não queria que parecesse demasiado óbvio”.
No entanto, o gesto não passou despercebido a Mike e Patty Street, os pais do falecido Chris, que estavam a assistir ao jogo com camisolas dos Hawkeyes com o número 40 estampado, o número que o seu filho exibia na camisola quando jogava. “É um bom rapaz. Foi especial que ele tivesse pensado no Christopher e no recorde”, disse a mãe do antigo atleta, referindo-se ao gesto de Bohannon.
“Aquele recorde não me pertencia. O recorde merece ficar no nome dele”, acrescentou Jordan Bohannon. “A vida é muito mais do que basquetebol”, sublinhou.
“Um membro da nossa família foi-nos tirado. Nós lembramo-nos disso”, disse Fran McCaffery, treinador da equipa de Iowa, que não precisou do lance livre falhado para garantir a vitória: venceu o jogo por 77-70.
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