Benfica, na Luz, e Sporting, em Turim, defrontam hoje dois colossos do futebol europeu e mundial em jogo da 3ª jornada da Liga dos Campeões.
Manchester United FC e Juventus FC, para além dos inúmeros títulos nacionais e europeus, partilham uma identidade corporativa. Ambos os clubes estão nas mãos de famílias. Famílias milionárias que os controlam. No caso da formação italiana esse controle mora na casa dos Agnelli há quase 100 anos. Já o clube inglês tem uma voz de comando americana, a família Glazer, há pouco mais de uma década. A Juve vai na quarta geração do mesmo apelido. O Man United é gerido pelos filhos do comprador.
A origem do Manchester United remonta a um outro nome de batismo. Newton Heath, em 1878. Hoje é um gigante do futebol global, mas no ano de fundação da Liga Inglesa (1888) não se julgava suficientemente poderoso para fazer parte a fundação da mesma, começando a competir só em 1892, ano em que se separou da companhia de ferro, Lancashire e Yorkshire Railway, os seus primeiros donos.
A ameaça de falência levou Jonh Henry Davies, industrial e empresário cervejeiro a investir no Newton. Mudou de nome para o atual Manchester United, em 1902, no tempo em que o equipamento era verde e amarelo. O primeiro título surge em 1908. Primeiro e segundo, já que no mesmo ano conquistou a Supertaça Inglesa (atual FA Community Shield) e a Division One (atual Premier League).
Quase 10 anos depois do antecessor do Man United ter conhecido a luz do dia, em Itália, um grupo de amigos letrados, na altura somente com 17 anos, estudantes do Liceo Classico Massimo D’Azeglio, criam a 1 de novembro de 1897 a Juventus (gioventù em Latim). Debaixo da presidência de Eugenio Canfari, debutam no campeonato vestindo uma camisola cor-de-rosa. Em 1900, três anos mais tarde, importam as cores preto e branco de Nottingham e em 1905 surge o primeiro título com novo presidente, Alfredo Dick, suíço de nacionalidade, que viria, após contestação dos adeptos, a fundar o Torino, o clube rival da cidade.
Os Agnelli entram na Juve nos anos 20 do século passado. Glazer compram o MU em meados da primeira década deste século.
Em 1923, a “societá” muda de mãos e vai parar à família Agnelli. Edoardo Agnelli (figura à direita na imagem de ilustração do artigo), filho dos fundadores da FIAT é eleito presidente numa Assembleia Geral. Uma relação com os donos da marca automóvel que ainda hoje de mantém.
Ao invés, o Manchester United que nasce com uma base ligado ao proletariado, permaneceu em mãos privadas durante quase 100 anos até o seu capital virar público.
Apetecível, foi, desde meados dos anos oitenta do século XX, alvo de várias propostas de compra, em especial de dois magnatas dos media, Robert Maxwell e Rupert Murdoch, anos antes de um milionário americano, um tal de Malcolm Glazer (figura à esquerda na imagem de ilustração do artigo) que virou herói no SuperBowl (futebol americano) e dono do Tampa Bay Buccaneers, anunciar e começar a comprar o clube “aos pedaços”, em bolsa, a partir de setembro de 2003.
Malcolm e família comparam ações do MU em bolsa (London Stock Exchange) até deterem 75%, em 2005, altura em que retiraram o clube de bolsa, dois anos depois de terem iniciado a aventura compradora em Terras de Sua Majestade.
Donos então da Zapata Corporation, uma holding do Gás e Petróleo que tinha sido propriedade do presidente dos Estados Unidos da América, George Bush (pai), entretanto vendida em 2005, e da First Allied Corporation (que possui diversos centros comerciais nos EUA), a entrada dos Glazer nos Red Devils não foi pacífica entre os adeptos. Uns começaram um movimento “Love United, Hate Glazer” (Ama o United, odeie o Glazer) celebrizado pelas cores verde e amarelo (cores do Newton Heath, o clube que deu origem ao Manchester United) e outros, indo mais longe, criando um novo clube: o Football Club United of Manchester.
A compra também não foi menos controversa. O esquema, complexo e arriscado, tem um nome: leveraged buyout (compra de uma empresa financiada com dívida). Ou seja, Malchom, que viria a falecer em 2014, e os seis filhos, endividaram-se, compraram até 90% das ações e passaram as dívidas para o clube. Que ainda hoje está a pagar, pese embora a melhoria de resultados, muito fruto do processo de internacionalização.
Em Turim e na Juventus, a estabilidade acionista é maior e mais duradoura. Cotada em Bolsa em Itália (Mercato Telematico Azionario), o clube é controlado pela EXOR, dos Agnelli, que detém 63,8% da formação preta e branca. 10% estão nas mãos da Lindsell Train, um fundo de investimento e os restantes 26,2% dispersos em bolsa.
A participações da Exor, para além do futebol e da indústria automóvel (grupo Fiat Chrysler Automobiles), estende-se à banca e à mediadora imobiliária Cushman & Wakefield.
As empresas e os órgãos de comunicação social são outro negócio em que a presença da família Agnelli se faz sentir. São donos da revista “Economist”, do diário La Stampa e são os maiores acionistas do grupo RCS Mediagroup (que tem no portfólio o Corriere della Sera). O presidente executivo da Exor, John Elkann, primo de Andrea Agnelli tem ainda assento no conselho de administração da NewsCorp de Rupert Murdoch, o tal que pretendeu comprar o Man United.
Andrea Agnelli é, desde 2010, o quarto familiar com Agnelli como último nome a assumir a presidência e destinos do clube. Como ele a Juventus conheceu um feito único: 6 títulos consecutivos na Liga Italiana. A que acrescenta três Taças de Itália.
Contas da Juventus e MU em alta. Contabilidade dos portugueses nas quatro linhas entre o saldo negativo e o zero
A enfrentar uma suspensão por um ano, nem por isso abala a sua permanência à frente dos destinos do clube. O primo, John Elkann, e a restante família, garantem que os Agnelli e a Juventus seguem juntos. Na partilha dos sucessos desportivos e financeiros.
A propósito de contas, na época passada o clube italiano fechou o exercício com um lucro de 42.6 milhões de euros e um volume de negócios que se cifrou em 562.7 M€, um crescimento de 45% face a período homólogo.
Nas ilhas Britânicas, no primeiro ano de Mourinho, o Manchester United consegui um recorde de receitas de 581,2 milhões de libras (cerca de 659 milhões de euros) a que se soma êxitos desportivos marcados pela conquista da Liga Europa, Taça da Liga inglesa e Supertaça inglesa, e pelo regresso à Liga dos Campeões.
Sporting e Benfica estão ambos cotados em bolsa e os clubes são donos e senhores dos respetivos emblemas. O Sporting tem a maioria do capital da SAD, sendo a Holdimo, o segundo maior acionista. Por seu lado, o Benfica detém mais de 60% da Sociedade Anónima Desportiva, sendo que José António dos Santos, presidente da Valouro, é o no principal investidor a título individual da sociedade, com quase 13 por cento.
Propriedade à parte, em campo, as estatísticas entram para as contas deste rosário em noite de Liga dos Campeões. Em relação às águias, nos nove confrontos com os ingleses, os Red Devils venceram por seis vezes, perderam um, empataram duas. Em golos marcados, a vantagem dobra: 22 para os diabos vermelhos contra 11 das águias.
Leões e Juventus estão a zero para jogos oficiais das competições europeias. Somente defrontaram-se em jogos particulares (1994, 1995 e 2011) e na Taça Latina (Juventus venceu por 3-2, em 1952). A zero está igualmente as vitórias do Sporting com equipas transalpinas, em Itália: somam 10 derrotas e somente 3 empates.
Hoje, o treinador (Jorge Jesus) que ao serviço do Benfica eliminou a poderosa Juventus numa meia final da Taça UEFA pode inverter a história leonina. O mesmo poderá acontecer na Luz, com Rui Vitória a enfrentar o treinador José Mourinho, no local onde tudo começou para o treinador português com maior sucesso.
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