Fernando Gomes, o histórico avançado português que se notorizou ao serviço do FC Porto, onde venceu a Liga dos Campeões e conquistou duas Botas de Ouro, faleceu este sábado, informou o clube azul e branco.
Vogal da direção do FC Porto para a formação, o ponta-de-lança esteve recentemente internado num hospital do Porto. Tinha 66 anos e foi vítima de doença prolongada.
Nascido em 1956 na freguesia de Campanhã - bem perto do Estádio das Antas -, Fernando Gomes formou-se nos Dragões e vestiu quase toda a carreira de azul e branco, sendo exceção as épocas 1980/81 e 1981/82, em que representou o Sporting Gijón, e 1989/90 e 1990/91, as últimas da sua carreira, em que alinhou pelo Sporting CP.
Na Invicta alcançou alguns dos maiores feitos do futebol mundial, incluindo o título de campeão europeu em 1986/87, a Taça Intercontinental e a Supertaça Europeia. Foi no Porto que foi duas vezes o melhor marcador dos campeonatos europeus, títulos individuais que o batizaram de "bibota", para além de ter somado ainda cinco campeonatos nacionais e três Taças de Portugal.
"Estreou-se na equipa principal do FC Porto logo aos 17 anos. Com apenas 20, sagrou-se melhor marcador da Liga pela primeira de seis vezes e revelou-se decisivo para o quebrar de um jejum que durava há quase duas décadas", relembram os Dragões no site do clube.
Fernando Gomes revelou-se decisivo para o FC Porto interromper um ‘jejum’ de 19 anos em 1977/78 e passar a afirmar-se dentro e fora do país, já sob liderança de Jorge Nuno Pinto da Costa, ajudando na conquista de cinco campeonatos, três Taças de Portugal e outras tantas Supertaças Cândido de Oliveira, além de três inéditos êxitos internacionais.
Com 47 internacionalizações e 13 golos pela seleção portuguesa, que representou nas fases finais do Euro1984 e do Mundial1986, perante a concorrência de pontas-de-lança como Rui Jordão, Manuel Fernandes ou Nené, evoluiu ainda nos espanhóis do Sporting de Gijón (1980-1982) para se despedir dos relvados ao serviço do Sporting (1989-1991).
Fernando Gomes começou por sobressair no andebol dos Salesianos, mas acabaria por chamar à atenção do treinador e coordenador da formação do FC Porto, António Feliciano, num torneio de futebol de salão do Académico, passando a alinhar pelas equipas de base dos ‘dragões’.
A estreia como sénior deu-se aos 17 anos, em setembro de 1974, pela mão do treinador brasileiro Aymoré Moreira, sendo eternizada logo com um ‘bis’ no triunfo caseiro sobre a CUF (2-1), para vaticinar um percurso de elite pautado pela forte intimidade com o golo.
Assumindo rapidamente a titularidade, esperou três épocas para conquistar os primeiros troféus no FC Porto, ao unir o prémio de melhor marcador da edição 1976/77 da I Liga à Taça de Portugal, cuja final ante o Sporting de Braga foi decidida com um golo seu (1-0).
Fernando Gomes revalidou a Bola de Prata nas duas temporadas seguintes (1977/78 e 1978/79), quando o FC Porto se sagrou bicampeão nacional para culminar um ‘jejum’ de 19 anos na I Divisão, antes de viver uma época ‘em branco’ e o ‘verão quente’ de 1980.
Jorge Nuno Pinto da Costa, então chefe de departamento, e o plantel saíram em defesa do treinador José Maria Pedroto, que havia sido despedido pelo presidente Américo de Sá, mas, se a maioria dos dissidentes regressariam às Antas, o dianteiro mudou de país.
Numa altura em que poucos futebolistas lusos emigravam, Fernando Gomes colmatou a partida de Quini, figura lendária do Sporting de Gijón, para o FC Barcelona, embora uma lesão no tendão de Aquiles o tenha limitado a 33 jogos e 16 tentos durante duas épocas.
Pinto da Costa iniciara, entretanto, o ‘reinado’ presidencial no FC Porto e comprometera-se com o regresso do goleador às Antas, de novo sob orientação de José Maria Pedroto, que o levou à quarta Bola de Prata e à primeira Bota de Ouro - 36 golos em 29 jornadas.
O papel de ‘artilheiro’ máximo da I Divisão manteve-se em 1983/84, quando os ‘dragões’ celebraram a Taça de Portugal e a Supertaça Cândido de Oliveira, vacilando na decisão da Taça das Taças frente aos italianos da Juventus (1-2), na estreia em finais europeias.
Fernando Gomes recebeu a carismática alcunha de ‘bibota’ em 1984/85, ao marcar 39 golos nas 30 jornadas para o primeiro campeonato em seis anos do FC Porto, que seria revalidado na época seguinte, entre mais um par de êxitos na Supertaça (1984 e 1986).
Essa melhor fase contemplou cinco golos no percurso até à final da Taça dos Campeões Europeus em 1986/87, experienciando, porém, de fora das quatro linhas o êxito sobre os alemães do Bayern Munique (2-1), em Viena, culpa de uma fratura da tíbia e do perónio.
Recuperou a tempo de capitanear o FC Porto na Taça Intercontinental, abrindo a vitória ante os uruguaios do Penãrol (2-1, após prolongamento), na neve de Tóquio, intercalada pelos dois triunfos (1-0) aos neerlandeses do Ajax para a Supertaça europeia de 1987.
Por essa altura, já o treinador croata Tomislav Ivić, sucessor do campeão europeu Artur Jorge para 1987/88, assumira que a ‘era’ Fernando Gomes estava perto do fim, gerando contestação nos adeptos, diluída após a segunda ‘dobradinha’ de sempre dos ‘dragões’.
A serenidade seria provisoriamente reposta com Quinito, mas o insucesso desportivo fez regressar Artur Jorge e do adjunto Octávio Machado, com quem o atleta se desentendeu, sendo suspenso e alvo de um processo disciplinar até à despedida das Antas, em 1989.
Fernando Gomes rumou ao Sporting para as últimas duas épocas da carreira e manteve intacta a excelência no remate com o pé e de cabeça, além da mobilidade na área e da técnica para combinar com os companheiros de equipa, ao totalizar 79 jogos e 38 golos.
Reconhecido pelo seu profissionalismo, cultura dominante em entrevistas e espirituosas tiradas, o segundo de três lusos a vencer a Bota de Ouro - entre as duas de Eusébio e as quatro de Cristiano Ronaldo - foi figura consensual na modalidade e esteve sempre por perto do FC Porto, cuja ligação reatou formalmente em 2010 através de cargos diretivos.
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