Semana de apertos, emoções fortes, “adeus”, confirmações e aparições no Mundial de futebol de 2018. A fase de grupos já acabou (podia durar para sempre, não?) e com esse fecho metade das selecções participantes já estão a caminho de casa, apesar de que algumas mereciam ter ficado um pouco mais.
O Mundo ficou virado do avesso em diversos momentos, como no Egipto-Arábia Saudita. O egípcios estavam a tentar garantir uma vitória para fechar da melhor forma a presença de Salah na Rússia. Todavia, o avançado (que falhou um golo cantado na 1.ª parte de forma incrível) foi uma sombra de si mesmo e permitiu que outro fantasista decidisse o encontro: Salem Al-Dawsari.
O pequeno mágico saudita foi um autêntico gremlin para a defesa do Egipto, fugindo a todas as coberturas, abrindo espaços suficientes para boas movimentações dos seus colegas e descobrindo formas de passar com a sua panóplia de truques infindável. No final, foi responsável pelo golo da vitória da Arábia Saudita já quando o juiz de jogo ia apitar para o seu fim… um remate raso e lançado terminou no fundo das redes do ancião Essam El-Hadary.
O festejo de Al-Dawsari foi um autêntico Mundo virado ao contrário!
E o que dizer da Twilight Zone em que os homens de Joachim Löw entraram? A campeã do Mundo Alemanha nunca foi avistada na Rússia, e já se iniciaram as buscas a nível internacional por Reus, Müller, Ozil, Neuer, Hummels e as outras estrelas todas, aparentemente, estiveram "desaparecidas". O futebol pragmático, dominante, de remates eficazes e de frieza, foi detonado, surgindo no seu lugar um desespero total, uma falta de concentração inimaginável e uma ausência de concretização inacreditável (entre Müller, Brandt, Gomez, Draxler, Werner, ninguém conseguiu fazer golos) que culminaram na triste apoteose da eliminação alemã.
A reação final dos jogadores alemães, em contraste com os coreanos, é uma boa ilustração para a tal maldição que existe sobre os campeões do Mundo em título (quatro das cinco últimas selecções a levantarem o título ficaram de fora da fase de grupos no Mundial seguinte).
Mas será que a imagem de semana vai para El Pibe de Oro, Diego Armando Maradona. O Barrilete Cósmico (alcunha dada pelo comentador de rádio Victor Morales durante o Mundial de 86’, e que significa “papagaio cósmico”, pois os marcadores de Diegueito ficavam tão perdidos nas fintas do astro, como quem persegue um papagaio em fuga) sofreu como ninguém na vitória da Albiceleste ante a Nigéria. El Pibe injuriou pessoas na bancada, abraçou outras tantas, chorou com os seus próximos e sentiu a Argentina de uma forma apaixonada, um prolongamento da relação amor-ódio que sempre marcou a sua história pela seleção. A Adoração dos Magos de Da Vinci, Botticelli ou Sequeira, fica perfeitamente substituída pela Adoração a Diego por Giuseppe Cacace (um Da Vinci contemporâneo?). Como um ser divino, Maradona é adorado pelos seus seguidores, representados com a cor da sua fé, a Albiceleste.
Será que a passagem aos oitavos-de-final (ultimada pelo ex-Leão, Marcos Rojo) foi um milagre de El Díos Maradona?
O talento e a magia brasileira
Os adeptos mais desatentos ao que se vai passando na Rússia poderiam pensar que este subtítulo tem um destinatário óbvio: Neymar. Pois não podiam estar mais enganados. O craque do Paris Saint-Germain ainda não brilhou nesta Copa (como lhe chamam os seus conterrâneos) e a magia brasileira tem estado concentrada num nome: Philippe Coutinho. A nova estrela do Barcelona chegou à Rússia com a corda toda e tem sido o maior destaque do Brasil.
A sua qualidade tem sido constante e o jogo com a Sérvia foi mais um exemplo brilhante disso mesmo. Depois de ameaçar com dois ou três passes magistrais, Coutinho rasgou a defesa adversária metendo um passe “de morte” para o companheiro Paulinho. O médio não desperdiçou e fez o 1-0 para os canarinhos. O segundo golo foi todo de jogadores do Paris Saint-Germain (canto de Neymar, cabeceamento de Thiago Silva) mas o jogo foi, todo ele, pautado ao ritmo de Coutinho.
Com descidas para buscar jogo, com tabelas constantes e arranques certeiros, Coutinho brilhou mais que toda a gente. Foi o jogador mais em foco desta terceira ronda e está a ser um dos melhores deste Mundial. A pouca rotação de Neymar é esquecida com a qualidade e talento de Coutinho. Um génio, mais um a vestir a canarinha.
Uma surpresa azul e amarela
Uma Suécia sem Zlatan nem parece uma verdadeira Suécia, mas a verdade é que a grande surpresa da terceira ronda viajou para a Rússia desde Estocolmo. Os suecos venceram o primeiro jogo com a Coreia do Sul por 1-0, sem encantar. A derrota no limite perante a Alemanha parecia poder deixá-los de fora, uma vez que na última ronda precisavam de fazer frente ao México um resultado tão bom ou melhor do que a Alemanha frente à Coreia do Sul.
O descalabro alemão será explorado mais abaixo, mas mesmo ganhando o jogo, não seria fácil superar o resultado sueco. Depois de uma primeira parte apagada e de expetativa, os suecos resolveram acabar com as dúvidas. As oportunidades da primeira parte concretizaram-se à séria na segunda. Aos 50 minutos, um remate falhado acaba nos pés de Augustinsson que fuzila para o 1-0. Grande festa dos suecos, mas a festa estava longe de estar terminada. Ao minuto 60, Berg entra na área mexicana e é derrubado. Assinalada a grande penalidade, foi o capitão Granqvist a assumir a responsabilidade. Ochoa ainda adivinhou o lado mas não teve qualquer hipótese. Penálti muito bem marcado e 2-0 no marcador. Com esse resultado a Suécia não só estava qualificada como era já líder do grupo, passando o México na diferença de golos. Não contentes com a surpresa do 2-0, os suecos chegaram ao terceiro: cruzamento traiçoeiro que acaba com um toque infeliz de Álvarez para a própria baliza para fixar o resultado final. A Suécia venceu, assim, o grupo onde não era sequer projetado que conseguisse passar à fase seguinte.
A surpresa da ronda é uma das maiores surpresas do Mundial: os suecos, mesmo sem “Deus Zlatan” estão fortes e prontos para enfrentar qualquer equipa.
Auf Wiedersehen, Deutschland
Naquilo que podia ter sido uma ronda de desastre por completo para os “cabeças-de-série” deste Mundial, só a Alemanha é que foi ao tapete. O Brasil estava ameaçado pela Sérvia mas sobreviveu, a Argentina passou “entre os pingos da chuva” e lá marcou uma final antecipada contra a França, Espanha e Portugal ainda ganharam para o susto, mas foi a Alemanha a cair na esparrela.
"Só" tinha de ganhar à Coreia do Sul, algo que já o tinha feito em dois jogos anteriores. Com os jogadores todos disponíveis, Joachim Löw "só" tinha de incentivar a equipa em direção da baliza coreana. Porém, para tal acontecer era necessário que conseguissem voltar à fórmula de 2014, algo que não se sucedeu durante os 99 minutos de jogo.
Foram vários os erros dos alemães durante este encontro (e no geral, na prova), principalmente na frieza na hora de decidir na grande área, com Hummels a ter três oportunidades para fazer o 1-0, algo que também tocou a Mario Gomez ou Timo Werner. Mas a falta de aceleração entre os centrais e o meio-campo, a fraca exuberância por parte de Mesut Özil e Marco Reus e ausência por completo de uma unidade de liderança foram outros problemas que o 11 alemão foi exibindo ao longo a competição.
Observando a questão da criatividade, ou melhor, da falta dela, Özil teve sérias dificuldades em encontrar soluções, ocupando mal o seu espaço no terreno e não assumindo, por inteiro, o seu peso na liderança de jogo da Alemanha. Marco Reus, que andou meses a lutar contra lesões nos últimos anos, tentou ser algo mais para os campeões do Mundo, sem que o conseguisse ser. Nunca teve sorte ou génio para dar aquela vitamina-extra ao ataque, falhou no dinamizar dos timings de jogo e perdeu-se por completo no meio-campo defensivo da Coreia do Sul.
O fracasso alemão desmonta por inteiro a famosa expressão do avançado inglês Gary Lineker, que afirmou que "o futebol é um jogo simples - são 22 homens a correr atrás de uma bola durante 90 minutos e no final ganha a Alemanha", provando que nem uma selecção com mais de 40 possíveis jogadores selecionáveis sobrevive à estagnação, à falta de renovação e de uma ausência de verdadeiros líderes.
Não terá tudo começado mal quando Manuel Neuer obteve a titularidade sem ter jogado mais que 400 minutos em toda a temporada? O factor lugares cativos derrubou a Espanha em 2014, a Itália em 2010 e a França em 2002. E, talvez, a Alemanha em 2018.
Onze da 3.ª jornada
GR – Cho Hyun-woo (Coreia do Sul),
DF – Andreas Granqvist (Suécia), Pepe (Portugal), Thiago Silva (Brasil)
MF – Coutinho (Brasil), Adrien Silva (Portugal), Quintero (Colômbia) e Al-Dawsari (Arábia Saudita)
AV – Paolo Guerrero (Peru), Luis Suarez (Uruguai)
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