Com ficção à mistura e enredos dignos de filmes policiais, ao longo dos anos as personagens (jogadores) trocaram de papéis (camisolas), umas vezes voluntariamente, outras nem por isso, com “matanças” de borregos à mesa, o “Nas Orelhas da Bola” viajou no tempo e conta histórias do clássico do futebol português que se joga desde 1921.

Nesse ano inaugural do campeonato de Portugal, a tal competição que a Federação Portuguesa de Futebol irá em breve catalogar, o Porto venceu.

A jogar em casa, repetem o feito no primeiro jogo a contar para a 1ª Divisão, em 1935, sendo que na época seguinte goleia por 10-1, naquela que é a maior vitória de sempre nos confrontos entre as duas equipas, e a maior derrota da história dos leões.

Em 83 jogos de duelos, o Porto soma 45 triunfos, contra 14 dos leões, registando-se 24 empates.

Na contabilidade dos jogos entre os dois clubes, o Sporting venceria pela primeira vez em 1944 durante o período dos “Cinco Violinos”. Três vitórias em quatro anos foi o saldo na era dourada leonina.

“Se em Lisboa é canja, no Porto é dobrada”, exclamou Anastácio, interpretado por António Silva, no filme “O Leão da Estrela”. O filme que imortaliza as únicas imagens da famosa equipa leonina, mistura ficção com a realidade. E mais não é que uma junção de dois jogos que coincidem com duas vitórias seguidas dos leões no então Estádio do Lima, casa do Futebol Clube do Porto (os leões só voltariam a vencer fora em dois anos consecutivos em 1961 e 1962).

Correndo a película, a realidade é a vitória dos verdes e brancos. A ficção entra no golo de Travassos (que nunca marcou aos azuis e brancos) e no resultado (1-2), resultado que não se verificou a não ser só em 1997, 50 anos mais tarde. Mas já lá vamos a esse jogo que entra na história do duelo norte-sul.

Se o clássico Porto-Sporting mereceu honras de filme, o que se passou num jogo bem poderia caber num enredo policial ao estilo de Agatha Christie.

Falamos, claro está, do Porto-Sporting disputado nas Antas, em 18 de outubro de 1975, numa noite intensa de nevoeiro em que Alder Dante, o árbitro, validou um golo do avançado portista, Fernando Gomes, golo esse que segundo reza a história foi marcado por um apanha-bolas (José Matos) que estava atrás da baliza de Vítor Damas.

Ninguém no estádio se apercebeu e do lado dos leões, os protestos foram muitos, em especial de Damas. Como curiosidade, o facto de ter sido nesse ano o único ano em que Jorge Jesus (jogador) andou de leão ao peito e, de nesse jogo, ter estado sentado no banco de suplentes.

O Sporting acabaria por vencer. Mas teria de esperar 21 anos para voltar a sair da casa do Porto com uma vitória a contar para o campeonato nacional. Octávio Machado, um ex-Dragão, “matou o borrego” nas Antas, em 1997.

Jogos em que o título entrou em campo

Dez anos depois, Paulo Bento volta a dar a vitória aos leões na Invicta (golo de Tello), num jogo que, então, relançou a questão da luta do título e em 2015-2016, Jorge Jesus, agora sentado no banco leonino enquanto treinador, volta a arrancar os 3 pontos na casa do adversário.

Hoje à noite, em partida da 25ª jornada, Porto e Sporting entram separados por 5 pontos, com vantagem para Dragões. Decisivo, ou não, para as contas do título, espreitamos na história outros dados curiosos.

Em 1993-1994, à 27ª ronda Benfica e Sporting lutavam palmo a palmo pela liderança, com o Porto afastado da luta. Na jornada anterior o Benfica havia perdido frente ao Salgueiros (golo de Sá Pinto) o que animou o clássico.

Bobby Robson, despedido por Sousa Cintra depois da goleada sofrida em Salzburgo, orientava agora o Porto que tinha despedido Tomislav Ivic. Carlos Queiroz era o treinador dos leões numa equipa onde pontificava Valcx, Paulo Sousa, Figo, Balakov, Capucho, Pacheco, Juskowiak e Iordanov.

A formação verde e branca perdeu do Estádio das Antas por 2-0 (Drulovic e Vinha) e o árbitro Carlos Valente expulsou três jogadores do Sporting.

Nos últimos jogos nos anos em que dois clubes foram campeões, mais três expulsões marcaram o empate (2-2) arrancado pelos leões (campeões nesse ano) nas Antas, em 2002, numa equipa com João Pinto, Rui Jorge, André Cruz, Quiroga e o trio que acabaria expulso, Pedro Barbosa, Jardel e Paulo Bento. Vestidos de azul e branco estavam Costinha, Jorge Andrade, Ricardo Carvalho, Söderström, Capucho e Pena.

E em 2012, no Dragão, os portistas (que viriam a conquistar o titulo) venceram por 2-0 com golos de James e Jackson num plantel com Danilo, Otamendi, Alex Sandro, enquanto, no outro lado, Oceano estreava-se no banco comandando Boulahrouz, Schaars, Pranjić, Elias, Jeffrem, Izmailov, Valentino Viola e Carrillo.

Trocas e baldrocas entre leões e dragões

Ontem, o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol apresentou o Conselho de Veteranos, órgão consultivo que reúne 10 ex-jogadores portugueses. Olhando para a constituição detetamos jogadores que vestiram as duas camisolas (Eurico Gomes e Paulo Futre) ou só uma Jorge Andrade (Porto), Hugo Viana, Beto e Osvaldo Silva, (Sporting). Simão Sabrosa (Sporting e Benfica) e Carlos Manuel (Benfica e Sporting), António Simões e Nuno Gomes (Benfica) e Carla Couto, fazem igualmente parte do grupo de senadores do mundo do futebol

Se no caso de Paulo Futre e João Moutinho (com os portistas a pagarem a cláusula de rescisão) as mudanças não foram tão pacificas, tal como nas idas e vindas de Jaime Pacheco e Sousa que apanharam o Intercidades nos dois sentidos, Fernando Gomes, Bino, Rui Jorge, Clayton, Postiga, Miguel Lopes e Nuno André Coelho viajaram para sul, enquanto Costinha, Peixe, Ricardo Fernandes, Ismailov e Varela, compraram o bilhete para a Campanhã.