Ao contrário do que se poderia imaginar como sendo uma tarde típica de futebol inglês, o sol decidiu comparecer e premiar quem foi ao estádio com um dia radiante e uma temperatura ideal, não só para quem ia jogar, mas para quem ia assistir ao jogo das bancadas. Da estação de comboios de Paddington, em Londres, à estação de Southampton Central são pouco menos de 150 quilómetros, que se fazem em pouco mais de uma hora e trinta minutos. Pelo caminho, são muitos os adeptos do clube londrino que vão ‘apanhando’ o comboio e no final, chegados ao destino, o mar de apoiantes faz-se notar. Apesar de já conhecer bem o caminho até ao estádio, caso não soubesse, não havia necessidade de perguntar. As milhares de pessoas que vão em romaria em direção ao mesmo fazem com que tenhamos apenas que nos deixar ir e em pouco mais de quinze minutos já conseguimos vislumbrar o St. Mary.
Em nota de curiosidade, a perceção, ao falar com um pequeno grupos de adeptos do Chelsea a caminho do estádio, é de que Conte sairá no final da época. A temporada tem sido, segundo um adepto, muito pior que a época 2015/16 em que terminaram em décimo. Nessa altura tudo estava perdido e os adeptos rapidamente se conformaram que a época estaria, também ela, perdida. Hoje, é diferente. Esta época tem sido feita de altos e baixos, o que torna tudo uma agonia constante, confessou-me o adepto em questão.
Mas visto estarmos em Southampton e a visitar o estádio dos Saints, tínhamos que parar para falar com os adeptos da casa. Uma senhora, que frequenta o estádio há mais de 30 anos, prontamente se disponibilizou a responder a algumas questões:
Quais as hipóteses do Southampton na batalha pela manutenção?
Não muito boas, tendo em conta os golos que não conseguimos marcar esta época, mas eu ainda acredito. Acho que hoje vamos conseguir o empate e ganhar balanço. Jogámos muito bem contra o Arsenal, acho também que o Chelsea poderá estar a pensar no jogo da semana que vem para a Taça. Se conseguirmos somar pontos hoje, tendo um jogo por jogar com o Swansea, e talvez com um empate em Leicester, acho que podemos conseguir. Façamos figas, temos que acreditar.
Tendo terminado as últimas três épocas sempre acima do oitavo lugar, o que acha que correu mal esta época?
Não acho que a equipa seja a mais indicada para o futebol que tentávamos praticar com o Pellegrino. Acho que ele era muito defensivo, saíamos a jogar de trás e fazíamos constantemente jogo de posse, não resultou. Acho ser um estilo interessante para a Europa, mas não para a Premier League. Nós acreditamos num futebol mais atacante. Muitos passes e poucas oportunidades. Controlávamos o jogo a maior parte do tempo e acabávamos por perder.
Como lhe disse, sou português. O que acha dos jogadores portugueses que recentemente vestiram a camisola do Southampton?
Adoro o Fonte. Tenho muita pena que ele se tenha ido embora. Teria ficado muito feliz se ele tivesse ficado, poderia ser o nosso capitão até ao final da sua carreira e fazer parte do clube para sempre. Quanto ao Soares, é fantástico. Gostava muito que ele permanecesse connosco, mas acho que não o fará. É muito novo e ambicioso, tenho a certeza que quererá melhor. Tenho pena em dizê-lo, mas é a verdade.
Agora uma pergunta com rasteira. Se pudesse escolher um jogador português para a assinar pelo Southampton na próxima época, quem seria?
Cristiano Ronaldo, claro!
Esse era o alvo irrealista que eu também tinha em mente. Mas se fosse uma alvo realista, quem seria?
Não sei. Vocês tem médios muito bons. Gosto dos que jogam cá, como o Bernardo (Silva) e o (João) Mário. Seria bom a nossa equipa de olheiros trazer uma ou duas promessas, tenho a certeza que nos iriam dar muitas alegrias.
O que ficou do jogo
Com o estádio praticamente cheio, os 31.764 espectadores foram presenteados por um jogo com cinco golos e uma reviravolta no marcador. Espectáculo, emoção, e todo o drama da potencial descida de divisão da equipa da casa.
Para quem assistiu à partida de forma neutra, fica na memória a forma como o Chelsea é capaz de encostar a equipa adversária às cordas - é impressionante de assistir ao vivo - e, principalmente, a capacidade (muito acima da média!) de Willian e Hazard, quando comparados com a restante equipa londrina.
O ritmo de jogo alucinante e o futebol jogado em ambas as balizas foi uma constante, bem como estádio à beira da loucura com os golos da equipa da casa e, a poucos metros do meu lugar, os três festejos dos quase 3.500 adeptos dos Blues. .
Mas se os golos e o futebol podem ser facilmente acompanhados e perceptíveis na televisão, o ambiente no estádio e, em particular, os cânticos dos adeptos, só conseguem ser apreciados estando nas bancadas.
O cântico mais ouvido, vindo dos adeptos da casa, foi o seu hino, que entoado várias vezes durante a partida, une o estádio a uma só voz. “Oh we’re the Saints, we’re marching on…” - “Oh nós somos os Saints, nós marchamos em frente…” é parte do hino do Southampton.
Já do lado dos adeptos azuis, os cânticos são mais provocantes e direcionados aos Saints que os rodeiam. É tradição em Inglaterra existirem cânticos feitos na hora, ou adequados ao resultado ou situação atual dos clubes.
“If you are going down, sit down.” - “Se estiveres para descer (de divisão), fica sentado” - foi o ‘mimo’ inicial para os adeptos da casa.
“That’s why you’re going down.” - “É por isso que vão descer” - cantavam os adeptos dos Blues aquando do golo empate por parte da sua equipa.
“Two nil and you f***** it up.” - “Dois zero e ‘estragaram’ tudo” - foi a ‘estocada’ final na moral dos adeptos do Saints que, resignados, já não conseguiam responder aos agora entusiasmados adeptos visitantes.
Uma nota final para o ambiente vivido. O denominador comum em todos os jogos que tive o prazer de assistir ao vivo é a celebração dos golos adversários. Para o adepto português, que já assistiu ou assiste com regularidade a clássicos/dérbis de lotação esgotada, a sensação é idêntica. Mas no futebol inglês, não faz diferença ser num jogo grande ou num jogo da quarta divisão: o barulho produzido é semelhante em qualquer dessas ocasiões. Esse é o espetáculo que coloca o futebol inglês num patamar diferente do comum campeonato de futebol: os seus adeptos.
Que futuro para o Southampton?
Num sistema de três centrais que favorece mais o futebol atacante da equipa e, principalmente, as características não só de Cédric, mas também de Bertrand na lateral/ala oposta, a equipa tem conseguido marcar mais golos, ser mais ofensiva e retirar mais do potencial ofensivo dos seus jogadores. Confirmação disso mesmo foi o primeiro golo deste jogo, onde é Ryan Bertrand quem faz todo o corredor e assiste Dušan Tadić. Outra prova disso é o mais recente golo de Cédric em jogo da Taça e as suas duas assistências para o campeonato frente ao Arsenal. O problema é que esta melhoria poderá ter vindo tarde. O potencial para uma época risonha esteve sempre lá, mas o menor aproveitamento das características destes jogadores poderá ter comprometido o excelente trabalho dos últimos anos por parte da equipa, staff e direção.
Poucas parecem ser as hipóteses do Southampton permanecer. No momento em que este artigo é publicado, a equipa do sul de Inglaterra já conseguiu o empate em Leicester que a adepta que entrevistei tanta fé tinha em conseguir. Vencer o próximo jogo é quase obrigatório e, caso não o consiga, será quase impossível vermos o Southampton na Premier League na temporada 2018/19.
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