Apesar de ter sido cedido apenas a título de empréstimo, Rowe não hesitou em trocar a equipa que o viu crescer desde os dez anos de idade, pelo RB Leipzig, da Bundesliga, liga alemã de futebol. Rowe vem apenas confirmar o que há já dois anos parece ser a norma, para os jovens jogadores ingleses: sair de Inglaterra já não é um problema.
Durante esta época fez uma mão cheia de jogos pelo Arsenal a contar para taças internas e europeias, chegando mesmo a marcar dois golos a contar para a Liga Europa. Desde então, mais precisamente de novembro de 2018, não tem sido opção para o treinador do Arsenal. Com a contínua falta de oportunidades, o jogador decidiu seguir os passos de muitos dos seus compatriotas e, momentaneamente, virar as costas à Premier League.
O objetivo de cada jogador que abandona uma liga da dimensão da liga inglesa será voltar. Ainda assim, este é mais um sinal de que, cada vez mais, é muito difícil para um jovem jogador, mesmo que de qualidade, ter oportunidades na melhor liga de futebol do mundo. A competitividade por um lugar ao sol é cada vez maior e a busca de resultados imediatos não parece favorecer jovens jogadores — ainda que com algum caminho pela frente até atingirem uma maturidade que lhes permita exibirem-se ao mais alto nível, com regularidade.
No entanto, não são só os clubes da Premier League que não se dão ao luxo de dar continuidade à sua formação. O mesmo parece acontecer na Championship, segunda divisão inglesa. Mais do que nunca o dinheiro despendido para dar o salto até à tão desejada Premier League e a sede de resultados imediatos, cegam os clubes para a possibilidade de aproveitar talento próprio e alheio. Vejamos então quais as ligas de topo e quais os jogadores que têm trazido a lume esta que parece ser uma nova "moda", a emigração de jogadores de futebol ingleses.
Ligas de eleição do potencial inglês
Se olharmos em volume, as ligas que mais jogadores de nacionalidade inglesa recebem, são as ligas de menor destaque. Ainda assim, os números nas principais ligas europeias começam a crescer — e parece até que já existe uma liga favorita para os jovens jogadores ingleses.
Se não tivermos em conta, por razões de língua e proximidade, países como Escócia, País de Gales, Irlanda e Irlanda do Norte, os países que mais surpreendem em termos de quantidade terão que ser Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos da América. Mas claro está, ou são países pertencentes à Commonwealth — que facilitam a transição a todos os níveis — ou têm a facilidade da língua, como é o caso dos EUA.
Em Espanha, apesar de serem já 8 os nomes a atuar em todas as ligas, apenas um, Patrick Roberts, joga na La Liga, mais precisamente no Girona. Emprestado pelo Manchester City, o jovem de 22 anos ainda está em idade de dar o salto necessário para regressar à Premier League. Mas se Roberts é o único a jogar na La Liga, Marcus McGuane é o que mais potencial terá. Tendo trocado no início da temporada o Arsenal, à semelhança de Rowe, mas desta feita pelo Barcelona, o médio defensivo de vinte anos é opção regular do Barcelona B e, quem sabe, poderá em breve fazer a sua estreia pela equipa principal.
De Espanha, viajamos até Itália. Com apenas três jogadores em todos os campeonatos, a diferença, é que um terço, joga na Serie A. Ben Wilmot de 19 anos e Vieira Ronaldo, de 20, jogam respetivamente na Udinese e na Sampdoria. O último, tendo nascido na Guiné-Bissau e possuindo passaporte português — passou também pela formação do Sport Lisboa e Benfica — é hoje em dia um jovem internacional inglês sub-21. Em julho de 2018, o meio campista foi contratado pela Sampdoria ao Leeds, a título definitivo, para colmatar a saída de Lucas Torreira, que viajara em sentido contrário, neste caso, para o Arsenal. Maior evidência não poderia existir de que o acesso à ‘piscina’ mundial, que o poder económico dos clubes ingleses permite, está a colocar em causa a utilização de jovens formados no país.
Igualmente no verão passado, outro jovem talento, desta feita formado no Chelsea, terá trocado um dos seis grandes ingleses por uma oportunidade mais sólida, neste caso em França, no AS Monaco. Jonathan Panzo fez a sua estreia no campeonato francês a 19 de dezembro do ano passado onde ajudou a sua equipa a conquistar três pontos e a manter a sua baliza a zero. O jovem defesa inglês ajudou igualmente a seleção inglesa de Sub-17 a ser campeã do mundo, em 2017 e prepara-se para se afirmar no Monaco de Leonardo Jardim, sendo um dos principais nomes a apontar ao futuro da selecção A inglesa.
Por fim, Alemanha, aquela que parece ser a liga de eleição do jovem talento inglês. A Bundesliga parece ser a principal e mais fiável opção para os jogadores com uma qualidade acima da média e com dificuldades em ter espaço nas suas equipas de formação. Dando continuidade ao seu processo evolutivo e consequentemente jogando ao mais alto nível, a aposta dos clubes alemães parece não só ter vindo para ficar, como parece estar a dar frutos.
Na Alemanha, são já cinco os jogadores formados em Inglaterra a jogar no campeonato principal, e seis a jogar na segunda divisão, sendo que dos seis a jogar na segunda divisão, quatro jogam em equipas B de equipas que, cujas equipas A jogam igualmente na primeira divisão. Com um campeonato onde a cultura do passe e da decisão mais correta, é um valor estabelecido de início, os clubes alemães parecem agora estar a recorrer à magia do produto da formação inglesa para dar mais cor à sua liga.
Exemplo máximo disso é Jadon Sancho. O campeão do mundo de Sub-17 ao serviço da seleção inglesa em 2017 tomou, nesse mesmo ano, aquela que parecia uma decisão extremamente arriscada, quando trocou o gigante e poderoso Manchester City pelo Borrusia Dortmund. Criticado por muitos, Sancho tem provado, a cada jogo, que muito provavelmente terá mesmo tomado a decisão mais correta. Com acesso a futebol de alta qualidade, Sancho está a ter a oportunidade que, por exemplo, Phill Foden, seu colega de seleção e muito provavelmente o melhor jogador inglês da sua idade, não está. Foden tem jogado e tem tido oportunidades, mas não tem sido peça-chave e valor inquestionável da equipa principal como Jadon Sancho o é no Dortmund. Ainda que esteja numa excelente posição, Foden parece ser a exceção, e Sancho parece estar a abrir espaço para ser a regra.
Sancho tem feito as delícias dos adeptos com a sua excelente capacidade técnica
Não só o antigo jogador do Manchester City tem sido notícia em Inglaterra e Alemanha. Nomes como Reiss Nelson (Arsenal/Hoffenheim), Ademola Lookman (Everton/RB Leipzig — neste momento já de volta ao Everton), Keanan Bennetts (Tottenham/Borussia Mönchengladbach), Reece Oxford (West Ham United/FC Augsburg) e Eddie Nketiah, que esteve muito perto de assinar, também por empréstimo, pelo FC Augsburg — só não está também no campeonato alemão neste momento devido à falta de opções no ataque do Arsenal, situação que levou Unai Emery a não prescindir do avançado inglês.
Estes são apenas alguns dos nomes a perfilar no campeonato alemão, mas a tendência é para que sejam apenas os primeiros de muitos. Para concluir, toda esta dinâmica poderá ser benéfica, já que, de uma forma ou de outra, a continuidade está a ter lugar e a seleção inglesa beneficiará com isso. Equipas inglesas campeãs do mundo e da europa recentemente, podem assim ter os seus jovens jogadores a evoluir, com novas e enriquecedoras experiências que os tornaram mais rapidamente em melhores jogadores, como em pessoas mais maduras.
Poderá ser este o pilar que faltava para um título internacional inglês? Esta conclusão poderá parecer um passo maior que a perna, mas parece-me fazer sentido e poderá ser a chave que faltava à seleção dos três leões para voltar à ribalta do futebol internacional.
Esta semana na Premier League
Com a corrida pelo título mais viva que nunca, o Manchester City tem mais uma prova de esforço pela frente. Desta feita, é o Chelsea a visitar um dos candidatos ao título e a poder ter influência na direção a levar pelo título mais desejado em Inglaterra, o título de campeão da Premier League. A não perder este domingo, pelas 16h, em mais um jogo que promete colocar as emoções à flor da pele.
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