O confronto entre Everton e Liverpool começou por ser chamado de ‘dérbi amigável’, tal era o número de famílias que tinham adeptos de ambos os clubes. Não só se podiam encontrar vários adeptos do Everton e Liverpool no seio de uma família, como este era um dos poucos, se não o único, dérbi local a não ter que segregar os adeptos de ambas as equipas dentro do estádio. Para a história fica a final da taça da liga de 1984 - em Wembley - onde se pode apreciar as cores azul e vermelha em perfeita harmonia por todo o estádio, com os adeptos de ambos os clubes misturados por todo o recinto e sem que isso significasse qualquer tipo de problema entre os mesmos. Não só os adeptos se misturavam com naturalidade, como alguns dos cânticos eram partilhados - como são exemplo disso “Merseyside, Merseyside” e “Are you watching Manchester?” (traduzindo, “Estás a ver Manchester?”) -, numa clara alusão à rivalidade entre as cidades (da qual já aqui tive oportunidade de falar) e também para mostrar que, segundo os adeptos de ambos os clubes, em Liverpool um dérbi pode ser um evento civilizado, ao contrário do dérbi de Manchester. Mas se na ressaca dos anos 60 e 70 o amor reinava e o dérbi amigável preenchia uma página diferente nas rivalidades inglesas, desde a fundação da Premier League como a conhecemos hoje em dia, que a história é bem diferente.
Da separação à formação
Para se ter uma noção mais precisa do que liga ambos os clubes, temos que mencionar que estes já foram, em tempos, um só. Isso mesmo, o Everton, fundado em 1878, era o único grande clube da região de Liverpool até 1892 quando as diferenças entre os membros da direcção se tornarem incompatíveis. Com ideologias políticas muito diferentes, a maioria dos membros da direcção resolve abandonar John Houlding - então presidente e dono do estádio de Anfield. A maioria dos membros da direcção do Everton abandona então Houlding e o estádio de Anfield Road e constrói Goodison Park, actual estádio do Everton, que se encontra a apenas um kilómetro de distância de Anfield e que tem apenas um parque a separá-los. O que faz uma pessoa que tem um estádio em perfeitas condições, mas que viu a sua equipa ‘abandoná-lo’? Cria uma equipa, claro está. E foi isso que John Houlding fez. Assim nasce o Liverpool FC.
Desde cedo que ambos os clubes atraíram as atenções da população da cidade e desde sempre que, apesar da rivalidade, ambos se apoiam em tempos mais difíceis, como foi o caso do desastre de Hillsborough onde adeptos do Liverpool e Everton se uniram em homenagem às vitimas do acidente no estádio do Nottingham Forest.
Dérbi explosivo
Futebolisticamente, como referi acima, desde a criação da Premier League que a rivalidade é diferente. A partir daí, o dérbi de Liverpool é o jogo do campeonato em que mais cartões vermelhos são exibidos. No fundo, um jogo que já foi apelidado do mais explosivo e indisciplinado da liga. Um jogo de tudo ou nada.
É verdade que o que não faltam são rivalidades na Premier League, mas a de Merseyside, pelo que liga ambos os clubes e pela sua proximidade geográfica, para o bem e para o mal, torna todas as emoções mais intensas e leva a que, na era moderna, este seja um encontro muito especial. Com 48 partidas disputadas - na era moderna da Premier League - o Liverpool lidera com 20 vitórias contra apenas 9 do Everton. Sendo que nas últimas 16 ocasiões (para o campeonato) o Liverpool não perdeu uma única vez e a última vez que se encontraram, já com Klopp no comando dos Reds, o Liverpool venceu por categóricos 4-0. O número de expulsões, esse é impressionante. Nas mesmas 48 partidas disputadas foram expulsos um número extraordinário de 21 jogadores.
O dérbi de segunda feira, dia 19, tem imensos detalhes a aguçar o seu interesse. Mas há um que se destaca: o árbitro Mike Dean foi o escolhido para o jogo e a polémica já estalou. Razão? O facto de Mike Dean não arbitrar um jogo do Everton desde há dez anos a esta parte e de, nunca, na sua carreira, ter arbitrado um jogo que fosse do Liverpool. A razão é simples, o árbitro inglês é natural de Merseyside e os seus filhos são adeptos do Liverpool e detentores de bilhetes de época em Anfield Road. Não querendo isso dizer que o árbitro estará, à partida, condicionado para arbitrar o jogo, o facto é que a Premier League sempre o afastou dos jogos do Liverpool e ultimamente do Everton e agora, sem que nada o fizesse prever, este foi escolhido para o escaldante encontro. Como seria de esperar os adeptos do Everton já se fizeram ouvir e não serão poucas as oportunidades para polémica em mais um fantástico encontro da melhor liga do mundo.
"Devido à indisponibilidade de Steven Gerrard para arbitrar o dérbi de Merseyside, a Premier League decidiu que Mike Dean seria a segunda melhor escolha.” Adepto do Everton via twitter.
Estamos a meio do mês de Dezembro e este fim de semana joga-se a terceira jornada da Premier League dos últimos sete dias. Com as previsões feitas a semana passada chegou a hora da verdade para Manchester City e Arsenal. Com o Citizens a facilitar frente ao campeão Leicester City há duas jornadas atrás e com o Arsenal a escorregar a meio desta semana, precisamente contra o Everton, os dados estão lançados. Já não restam muitas ‘vidas’ aos restantes clubes, até o Chelsea fugir de vez na luta pelo mais desejado título inglês. A pressão para não deixarem escapar o líder é grande e a par do dérbi de Merseyside este é o grande atrativo da jornada. A jornada arranca já no sábado, dia 17, com o Chelsea a visitar os também londrinos, Crystal Palace.
Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra e tendo passado por clubes como o MK Dons e o Luton Town, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24.
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