Em 1993, a comunicação social brasileira dava destaque a um feito inacreditável. Uma das equipas de formação do Grémio tinha derrotado uma equipa local de Porto Alegre por 23-0. Aos 90 minutos, a folha que assinalava os tentos apontava um só nome como autor das mais de duas dezenas de golos. O responsável? Um miúdo de 13 anos chamado Ronaldo de Assis Moreira.

O nome pode soar estranho aos mais desatentos. O mundo do futebol haveria de o apelidar de Ronaldinho - porque Ronaldo já havia um, 'O Fenómeno', e mais nenhum - e Gaúcho porque, bem, vinha de Porto Alegre, a capital dos gaúchos, nome dado aos habitantes dos campos do Rio Grande do Sul, descendentes de europeus e de índios, que forjaram, ao longo dos anos, um estilo de vida muito próprio.

Ronaldinho Gaúcho era isso mesmo, um índio do Rio Grande do Sul, com um estilo muito próprio - único - no mundo do futebol. Um índio que viveu livre e feliz na sua natureza, entre as quatro linhas, ou as quatro paredes, que delimitavam um campo de futebol.

É por isso que será sempre recordado. Não por ter sido o melhor de todos os tempos, não por ter jogado ao mais alto nível do princípio ao fim da sua carreira, mas por ter sido feliz e nos ter feito felizes, a nós, amantes do futebol. Por ter jogado com um sorriso na cara desde que vestiu a camisola das camadas jovens do Grémio, na altura em que jogava à bola com o seu pai, até aos dias em que fez os seus últimos jogos de futebol profissional no Brasil.

Podia ter sido Pelé, mas escolheu ser Garrincha. Podia ter sido de outro planeta, mas foi terráqueo. Foi um génio imperfeito, como foram todos os outros que ousaram ser felizes e livres dentro e fora da sua ciência.

Ronaldinho existe porque Roberto existiu

O sorriso e a boa disposição a que nos habituou foram herança do pai que partiu cedo, quando Ronaldinho tinha apenas 8 anos de idade.

créditos: EMERT/CAMERA PRESS/REDUX/DR

“O papai é quem dizia para você para usar e abusar da sua criatividade em campo; é ele quem dizia para você fazer o jogo bonito – para você apenas brincar com a bola. Ele acreditou em você mais do que qualquer outra pessoa”, escreveu o craque brasileiro numa carta dirigida ao seu ‘eu’ de 8 anos e publicada no site The Players Tribune.

A morte do pai foi a certeza de que Ronaldinho jogaria feliz, a brincar com a bola, tal como o seu progenitor lhe ensinou. “Há uma coisa que você sempre terá que lembrar dele. É uma foto de você e ele jogando futebol juntos. Você está sorrindo, feliz com a bola em seus pés. Ele está feliz em te ver. Jogue como ele disse para você jogar. Brinque com a bola.”, relembra.

“Todas as vezes que você estiver com a bola nos pés, papai estará com você”

 

Antes de o pai de Ronaldinho morrer, ainda teve a oportunidade de ver o seu filho mais velho, Roberto Assis, também ele um craque da bola, a chegar à equipa principal do Grémio. Foi um orgulho que João de Assis Moreira ainda pode presenciar. Mas o pai avisava: “Roberto é muito bom, mas prestem atenção no irmão mais novo dele que está chegando”. E foi porque tinha o irmão, porque o irmão foi pai, porque o irmão foi ídolo, que o mundo ‘prestou atenção’ a Ronaldinho.

“Você tem sorte porque você tem Roberto. Mesmo que ele seja dez anos mais velho do que você, ainda que ele já esteja jogando pelo Grêmio como profissional, Roberto estará sempre ao seu lado. Ele não será apenas seu irmão, ele será como um pai para você. E mais do que isso: ele será seu herói”, escreve Ronaldinho na mesma carta.

O primeiro dia do resto da vida de Ronaldinho

Ronaldo de Assis nasce no dia 21 de março de 1980. 14 anos depois nasce Ronaldinho, ainda distante no tempo, de saber que o mundo do futebol o chamaria assim. À data de 17 de julho de 1994, o jovem brasileiro viajava com a equipa juvenil do Grémio para um jogo em Belo Horizonte. Nesse dia, o Brasil disputava com Itália a final do Campeonato do Mundo, a primeira final da canarinha em 24 anos.

O Brasil venceria o encontro nos penalties e coroava-se campeão do mundo, no país onde o futebol é soccer. Nesse dia nascia em Ronaldinho uma certeza. “Eu vou jogar pelo Brasil”, disse a si próprio. Rendido ao feito épico de um seleção onde alinhavam nomes como Dunga, Romário e Ronaldo, ficava “bem claro” aquilo que queria fazer a partir daquele dia. É, aliás, nesse momento que o próprio confessa que finalmente compreende “o que o futebol representa para os brasileiros” e quer fazer parte disso. Estava ainda longe de saber que também ele seria sinónimo de futebol e sinónimo de alegria.

Do mito ao início da lenda

Poucos dias após a vitória brasileira no Campeonato do Mundo, Ronaldinho é chamado à seleção sub-17 do Brasil. A convocatória levaria a que aos 17 anos, o ‘dentuças’, como era conhecido, conquistasse o seu primeiro grande título: o Mundial de sub-17.

Conta a lenda que durante esse marco da idade juvenil que são os 17 anos, nesse longínquo ano de 1997, Ronaldinho esteve em Portugal a treinar-se no Estrela da Amadora, numa história que coincide com a passagem do seu irmão Roberto por Portugal, onde jogou pelo Estrela e pelo Sporting Clube de Portugal. Contou-se, durante anos, que Ronaldinho Gaúcho treinou-se nos juniores do Estrela, mas regressou ao Brasil porque pediu 1000 euros por mês, uma verba considerada exagerada. Um mito que, no final do ano passado, Roberto desfez: "Essa história dos testes do Ronaldinho no Estrela... Nunca existiu! Foram informações que saíram na imprensa e que não correspondiam à verdade", explicou.

Certo é que um ano depois, Ronaldinho estava na boca do mundo e subia à equipa principal do Grémio, um feito que teria deixado o seu pai orgulhoso e que só não foi mais memorável por não ter sido partilhado com irmão dentro das quatro linhas.

No primeiro treino da seleção, os jogadores só falavam sobre como Ronaldinho driblou Dunga

No ano seguinte é chamado pela primeira vez à seleção A do Brasil. E a primeira chamada é recebida com uma autorização para se juntar aos restantes jogadores um dia mais tarde. Porquê? Porque o 10 do Grémio ia disputar a final do Campeonato Gaúcho com o Internacional de Portalegre. Contra o Internacional onde alinhava Dunga, o capitão que liderou a seleção brasileira na conquista do Campeonato do Mundo.

A maneira como os eventos se desenrolaram parecia permitir antecipar que Ronaldinho seria o herói da partida, aquele momento épico de uma história em que o jovem, talentoso e promissor herói se supera ao herói já consagrado. E foi. Um golo e uma excelente exibição, repleta daqueles pormenores técnicos que fazem levantar estádios, que levam os comentadores brasileiros a dizer "que show de bola", feitos com a mesma naturalidade de quem respira, fizeram do médio do Grémio o homem do jogo.

O feito foi tão grande que no dia seguinte, na chegada à concentração da seleção, ainda todos falavam daqueles 90 minutos. Ainda todos comentavam o toque de bola daquele miúdo com a camisola tricolor. “Eles vão falar de como você driblou Dunga. Eles vão comentar a respeito do golo do título, marcado por você”, antecipa Ronaldinho ao seu jovem 'eu' na carta à The Players Tribune.

A entrada de Ronaldinho na seleção mudaria a sua vida para sempre e colocava o mundo de olhos postos no menino olhos esbugalhados e de um sorriso cheio de dentes.

Em 2001, numa transferência polémica, Ronaldinho ruma a Paris, para alinhar no Paris Saint-Germain. O Grémio não queria deixar o seu ‘puto maravilha’ sair e o processo chegou mesmo a avançar para instâncias judiciais que fizeram com que o brasileiro ficasse meia época parado; o que não o impediu de chegar ao campeonato francês e encantar. Embora não tenha conquistado nenhum título as suas exibições no Parque dos Príncipes valeram-lhe a convocatória de Luiz Felipe Scolari para o Mundial de 2002  na Coreia e no Japão.

E foi precisamente nesse Campeonato do Mundo, num jogo dos quartos-de-final, realizado no Japão, que opôs Brasil e Inglaterra, que Ronaldinho teve um dos momentos mais marcantes da sua carreira.

Com a seleção canarinha a perder, Ronaldinho Gaúcho assistiu Rivaldo no golo do empate, depois, num livre épico em que todos esperavam um cruzamento, a mais de 30 metros da baliza defendida por David Seamn, o médio bateu direto e colocou o Brasil na frente do marcador. Finalmente, para tornar uma jornada de 57 minutos ainda mais épica, o craque brasileiro acabou expulso.

Sem poder alinhar na meia-final frente à Turquia, acabaria por ser um dos 11 titulares do encontro decisivo diante da Alemanha. Após o apito final, Ronaldinho viveria na sua própria pele o momento que o fez sonhar, em 1994, vestir a camisola amarela, e erguia a taça de campeão do mundo. Era o capítulo maior da epopeia do 10 na canarinha, ele que venceria tudo: Copa América (1999) e Taça das Confederações (2005).

A revolução, primeiro da paixão, depois das conquistas

O mundo ficava boquiaberto quando nesse mesmo ano Ronaldinho voltaria a Paris e não mudava de ares. Em França, ainda que longe de uma liga que figurasse no epicentro do futebol mundial e num PSG muito distante do emblema que é nos dias de hoje, o 10 continuou a brilhar. Mas a falta de títulos fez com que se mudasse, no ano seguinte, para Barcelona. Não sabia, mas viria a revolucionar o futebol espanhol.

Em 2013, numa entrevista ao site do Barcelona, Lionel Messi diria que “Ronaldinho foi o responsável pela mudança no Barcelona. Era uma má altura e a mudança que veio com a sua chegada ao clube foi incrível. No primeiro ano ele não ganhou nada, mas ainda assim as pessoas apaixonaram-se por ele. Depois começaram aparecer os troféus e ele fez todas essas pessoas felizes. O Barcelona deve estar grato por tudo aquilo que ele fez”.

Quando o brasileiro chega a Espanha o Real Madrid era rei e senhor. Na altura, os merengues eram também os galáticos de Figo, Zidane, Raúl, Roberto Carlos e Beckam. O Barcelona era grande, era o clube por onde tinha passado Johan Cruyff, Romário, Hristo Stoichkov, Ronald Koeman ou Diego Armando Maradona, mas vivia afastado do tempo em que as lendas concretizaram os grandes feitos.

“A criatividade te levará mais longe do que o cálculo”

 

Os catalães precisavam de alguém que os apaixonasse e os fizesse feliz. Precisavam de uma revolução. O treinador Frank Rijkard começou-a a partir do banco, Ronaldinho Gaúcho continuou-a no relvado, no jogo jogado. Porque uma equipa com o craque brasileiro elevava-se.

Em três anos, os miúdos, não só de Espanha, mas de todo o mundo, passaram o tempo do recreio a tentar fazer a ‘volta ao mundo’, a usar uma fita na cabeça, a cumprimentarem-se com um ‘shaka’, aquele movimento com as mão de Ronaldinho, de polegar e mindinho esticados, com os restantes dedos para baixo, que o brasileiro tornou moda nos malabarismos com a bola e nos festejos de golo, a utilizarem t-shirts um tamanho acima e a ter uns Nike nos pés.

créditos: EPA/ALBERTO ESTEVEZ

O primeiro ano seria bom, mas despido de títulos. No lugar dos prémios coletivos, o brasileiro vencia a sua primeira Bola de Ouro da FIFA e conquistava o amor dos adeptos catalães. A alegria era contagiante. Ronaldinho destacava-se dentro de campo pela felicidade, sempre a sorrir procurava constantemente ter a bola nos pés, mesmo quando a passava não lhe tirava os olhos de cima. Era uma daquelas relações abertas de que se fala hoje em dia, ela podia ir com os outros, mas no final tinha de regressar a ele. Tinha de voltar para o seu pé, tinha de voltar para sambar com ele, contornar os adversários e para fazer abanar as redes da baliza.

Em 2005 seria coroado com mais uma Bola de Ouro, desta feita em uníssono, com a FIFA e a France Football a distingui-lo como o melhor jogador de futebol do mundo. Na época 2004/05, o brasileiro tinha guiado o Barcelona na conquista do primeiro campeonato no novo século XXI ao ritmo dos dribles e da felicidade. “A criatividade te levará mais longe do que o cálculo”, dizia o brasileiro. E levou-o.

Ter Ronaldinho num onze significa ter de atribuir dez papéis a dez jogadores e nenhum ao número 10. Porque não se dá ordens a um índio, apenas objetivos. O objetivo do Barcelona era ganhar, e o de Ronaldinho era o de fazer aquilo que mais gostava, com a felicidade de quem joga só porque sim, e para fazer os outros felizes na partilha da sua paixão. Os dois fins cruzavam-se, era o cálculo pelos títulos e a criatividade que guiou os blaugrana até aos triunfos.

O brasileiro começou a tornar-se num símbolo, num ídolo. As crianças deixavam de olhar para as camisolas de Beckam, Figo e Ronaldo nas montras das lojas para passar a puxar as saias da mãe e pedir para comprar a do 10 do Barcelona. A do Gaúcho, a do índio. Aquela camisola que aquele brasileiro de uma alegria quase infantil envergava. À Four Four Two, foi inesperadamente humilde ao sugerir o porquê de tantas miúdos terem gostado tanto dele: “acho que é por parecer, também, uma criança!”.

Só com esta disposição e humildade é que em 2005 Ronaldinho poderia ter protagonizado um momento do qual se fazem as lendas. No dia 19 de novembro desse mesmo ano, o brasileiro bisou na vitória por 0-3 do Barcelona no Santiago de Bernabéu, casa do Real Madrid, e acabou a ser aplaudido pelos adeptos do clube rival.

Com Espanha e o mundo a seus pés, como melhor jogador do mundo, venceria a Liga dos Campeões com os blaugrana. Há 14 anos que a ‘orelhuda’ não ia para a Catalunha. Era apenas a segunda Champions da história do Barcelona, mas seria o início de uma mudança fabulosa no paradigma do clube.

Já com Messi na equipa principal, aquele que era um 10 como Ronaldinho, ágil como Ronaldinho, aquele que Ronaldinho apelidou de “um garoto diferente” que simplesmente sabia que ia “ser mais do que um grande jogador de futebol”, o jogo em Camp Nou ganhava outra magia. Dribles, passes… um futebol diferente começava a nascer com Frank Rijkard e seria consolidado por Pep Guardiola, numa altura em que Ronaldinho deixava Espanha, mas que o estilo permanecia pelos pés de Lionel Messi.

Era diferente aquele futebol. Era definido e tinha um atrevido. Tinha Ronaldinho, livre, num sistema de jogadores disciplinados e eficazes, astutos taticamente. Era como se o futebol de rua irrompesse no futebol profissional. Era como é hoje com Messi que parte do papel criado por Ronaldinho. Era um Barcelona que mudaria e cresceria até alcançar o poderio que tem hoje, muito assente naquilo que é a herança do brasileiro.

“Ele poderia ter sido o Pelé de sua época, mas preferiu ser Garrincha – a alegria”

A última época de Ronaldinho ao serviço do Barcelona foi o início de um espiral de baixo rendimento, abrilhantado por momentos épicos aqui e ali pelos clubes onde passou - AC Milan, Flamengo, Atlético Mineiro, Querétaro e Fluminense.

Depois de desentendimentos com a direção do Barcelona, devido ao grande gosto pela vida noturna e desregrada que o brasileiro vivia em Espanha, aos 29 anos, Ronaldinho sai para o AC Milan de Carlo Ancelotti. E assim que se somam as duas épocas e meia com o emblema rossoneri ao peito, percebemos que passou tudo depressa demais. Havia tanto mais que Ronaldinho podia dar ao futebol, e em Itália ficámos com aquela sensação de quem acaba de ver um filme muito bom com um final morno. “Ainda podia ter dado mais”, dizemos nós enquanto sacudimos as últimas pipocas do pacote. “Ele podia ter feito muito mais”, pensámos nós no dia 17 de janeiro quando Roberto de Assis confirmou que o irmão tinha pendurado as botas.

O estilo livre de Ronaldinho era bom dentro de campo, mas a liberdade com que ele vivia fora dele mataram-lhe a eternidade. Não foi Messi, não foi Cristiano Ronaldo porque a sua natureza não o deixou. E porque se o tivesse deixado, então Ronaldinho não teria sido Ronaldinho. Não teria sido “O Génio Imperfeito” como a revista Veja o apelida, não teria sido “O último futebolista de rua”, que Diogo Pombo, no Expresso, relembra.

A edição online da Veja, do Brasil, num artigo intitulado “Ronaldinho: o adeus melancólico de um gênio imperfeito”, Luiz Felipe Castro escreve que “ele poderia ter sido o Pelé de sua época, mas preferiu ser Garrincha - a alegria”. E foi.

Para Juca Kfouri, comentador de futebol da rádio CBN, citado na edição da revista brasileira Época de 15 de maio de 2006, que levou à capa a pergunta “Ronaldinho, melhor do que Pelé?, a comparação assenta que nem uma luva: 'Como Garrincha, é um jogador capaz de fazer o estádio explodir em gargalhadas. Sua capacidade de surpreender parece infinita", diz Kfouri. "Pelé foi o atleta do século XX. Podemos estar vendo nascer o atleta do século XXI", assumia na altura o jornalista desportivo.

Quando o 10 brasileiro despontou, vivia-se uma banalização do adjetivo Pelé. Apesar de ser desnecessário - numa altura em que a seleção brasileira era recheada por ídolos de categoria mundial - a comunicação social apelidava vários jovens craques de novos Pelé. A pressão acabou por fazer com que miúdos com muito talento passassem só a ser bons jogadores e que outros passassem ao lado de uma grande carreira. Porque o mundo quis-se antecipar.

Quando a pergunta surgiu sobre Ronaldinho, de forma unânime, já o brasileiro estava em Barcelona e já se sabia a resposta. A interrogação era assim feita de uma forma mesquinha, sabia-se que Ronaldinho a ser alguém seria Garrincha. Estava espelhado naquele sorriso, no samba daquele futebol. A nível matemático, o índio do Rio Grande do Sul que tinha aterrado em Espanha nunca poderia ser melhor do que o Rei: “Pelé é imbatível. Ele detém o recorde absoluto de gols. Foram 1.283 em 1.375 jogos, uma média de 0,93 por partida. Com 26 anos, a idade de Ronaldinho [a quando da publicação desta edição da Época], Pelé vencera duas Copas do Mundo, participara de uma terceira e marcara cerca de 750 gols. Em 454 partidas, Ronaldinho marcou 199 gols. É menos de um terço do que fez Pelé. A média é de 0,43 por partida. Outras marcas colocam Pelé no topo. Quando ganhou a Copa de 1958, com 17 anos, ele já tinha 98 gols como profissional. Em toda a sua carreira, venceu 83% das partidas que disputou e marcou 95 gols com a camisa amarela. Pelé transformou o então pequeno Santos na maior equipe de futebol de todos os tempos”.

A pergunta não é se Ronaldinho foi o melhor do que Pelé ou se foi o melhor de todos os tempos, mas sim porque é que o vamos relembrar. Vamos relembrá-lo pela sua humanidade que lhe roubou um génio maldito dentro de campo. Vamos recordá-lo porque nos revemos. Ele faz-nos erguer o queixo e olhar para cima, porque ele chegou lá, e a maior parte de nós não. Ele viveu o seu sonho de criança com alegria. E nós sonhámos em ser Ronaldinho.

Vamos relembrá-lo porque queríamos mais.