Era à partida um encontro desproporcional, aquele que esta terça-feira opôs o SL Benfica e o Liverpool para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Se os reds vivem um dos melhores períodos da história do clube, que teve, para já, como pontos altos a conquista da Liga dos Campeões em 2018/19 e da Premier League em 2019/20, após um interregno de 29 anos sem vencer a liga inglesa, e praticam, a par do Manchester City, também de Inglaterra, o melhor futebol do mundo, os encarnados ainda se tentam reerguer desde a última grande conquista, o campeonato português em 2018/19. Desde então, processos judiciais que visaram o ex-presidente Luís Filipe Vieira, o maior investimento da história do clube que não teve retorno desportivo e o um regresso em falso de Jorge Jesus ao clube onde já tinha sido tão feliz, empurraram o emblema da Luz para uma realidade alternativa sem troféus e de um futebol pouco expressivo, em contraste com o que tinha sido alcançado na última década.
A atual temporada do Benfica é a expressão de tudo o que correu mal nos últimos anos. O primeiro lugar da liga está a 15 pontos de distância e o segundo a nove, a Taça de Portugal acabou relativamente cedo, nos oitavos-de-final, aos pés do FC Porto, e a Taça da Liga foi perdida na final diante do Sporting CP. Por tudo isto, o percurso dos encarnados na Liga dos Campeões parecia algo irreal e impermeável a tudo o que corria mal. O clube da Luz não só passou um grupo onde também estava o FC Barcelona e o Bayern Munich, como eliminou nos oitavos-de-final o Ajax que nas últimas épocas tem brilhado na Champions, tendo, inclusive, em 2018/19, chegado às meias-finais.
As palavras simpáticas de Jürgen Klopp na conferência de antevisão ao jogo não diminuíram a distância evidente entre as duas equipas. Só as palavras de esperança de Nélson Veríssimo, treinador que pela segunda vez orienta o Benfica, pela segunda vez a prazo e após um período difícil, podiam ter aqui algum efeito.
O início do jogo foi por isso inevitavelmente intenso. A esperança abundava nas bancadas da Luz e nos primeiros cinco minutos, qualquer ação bem conseguida do Benfica, fosse uma movimentação ofensiva ou um corte, era celebrada com a mesma euforia de um golo.
Provavelmente, Veríssimo desejava que a esperança fosse crescendo sobre o Liverpool à medida que a equipa portuguesa aguentava o nulo ou, na melhor das hipóteses, fazia um golo em contra-ataque. Mas aos 17 minutos, Konaté respondeu a um pontapé de canto de Robertson com um cabeceamento exemplar, de cima para baixo, como mandam as regras, e inaugurou o marcador.
Dezassete minutos, depois, novo golo dos Reds, com Luis Diaz, ex-FC Porto, a assistir Sadio Mané para o 2-0. O Benfica, sem oportunidades a assinalar na primeira parte, recebia o intervalo como uma dádiva.
No segundo tempo, os encarnados entraram com outra força e deram aos adeptos uma esperança renovada com um golo de Darwin Nunez que não se fez rogado e aproveitou um erro de Konaté na grande área para colocar a bola no funda da baliza.
Impulsionado pelo golo e ovacionado em cada contra-ataque, as águias fizeram por brilhar no segundo tempo. Aos 60 minutos, Alisson foi obrigado a uma enorme defesa para negar o golo a Éverton Cebolinha. Sete minutos depois, Darwin caiu na área após um duelo com Virgil van Dijk. Pediu-se grande penalidade, mas nada foi assinalado.
A esperança é essencial nesta competição. Dá a um clube teoricamente sem possibilidades de ganhar a Liga dos Campeões a possibilidade de sonhar, coloca os chamados underdogs do tamanho dos adversários, teoricamente e realmente, maiores. Mas se a esperança consegue ser eufórica na concretização, também sabe ser dramática na sua morte. Foi assim que as possibilidades do Benfica chegar às meias-finais da competição caíram, com um golo de Luis Diaz, antigo jogador do rival FC Porto, que numa jogada individual fechou o placard em 1-3.
Resta agora ao Benfica a dura realidade de uma época infeliz e o desafio de ir a Anfield Road fazer um jogo digno da prestação dos adeptos nesta competição. E, não menos importante, de aproveitar esta reta final da temporada para preparar a próxima, com um estilo de jogo mais declarado e com prestações menos permeáveis aos insucessos.
Já o Liverpool segue sereno numa época em que, à já conquistada Taça da Liga inglesa, pode juntar a Champions, a Premier League e a FA Cup, certo do caminho, movido a resultados em vez de esperança, combustível que desde a primeira 'orelhuda' que deixou de ser preciso nesta equipa.
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