“Nuno Mendes não tinha conhecimento de que a gente ia, porque não era oficial. O grupo não era só gente da Juventude Leonina, iam outras pessoas”, disse Tiago Silva, conhecido por Bocas, na 32.ª sessão do julgamento da invasão à academia de Alcochete, que decorre no tribunal de Monsanto, em Lisboa.
Tiago Silva, que à data dos factos, 15 de maio de 2018, tinha 28 anos, disse em tribunal ter sentido que os jogadores não o respeitaram, a ele e a todos os sócios, enquanto adepto e, por isso, achou-se no direito de contestar.
“Eu na altura só vivia para o Sporting, achei que tinha o direito de perguntar aos jogadores o que se passava, eu só vi Sporting”, disse, acrescentando que o objetivo da ida à academia “não era bater, era falar num tom mais agressivo, era dar um aperto e incentivar os jogadores, pedir que jogassem à bola por amor à camisola”.
O arguido, que se emocionou e chorou em tribunal dizendo que na altura “só via o Sporting” e estava “triste com os maus resultados”, era um dos elementos mais ativos em alguns dos grupos de ‘WhatsApp’ que serviram para combinar o ataque à academia.
Numa das mensagens, Tiago Silva terá incentivado outros elementos a levarem tochas, que, explicou hoje, pretendia usar “para fazer cânticos de incentivo depois do treino”.
Tiago Martins, que segundo a juíza, Sílvia Pires, “enviou mensagens incendiárias nos grupos de ‘WhatsApp’, assumiu que a ida à academia foi “uma iniciativa de um grupo de adeptos” e não foi “mandada por ninguém”.
O arguido, que disse ter informado Bruno Jacinto, o oficial de ligação com os adeptos, de que um grupo de apoiantes ia deslocar-se à academia, explicou que entrou de capuz e óculos de sol porque “sabia que ia entrar sem autorização e que ia ter problemas”.
Tiago Silva admitiu ter “ficado surpreso” quando viu toda a gente a correr para a academia, porque “pensava que se ia entrar de forma ordeira”, afirmando que quando saiu do carro no exterior da academia viu “um outro grupo a correr em direção à academia”.
“Fui sempre atrás para tentar dissuadir o outro grupo” afirmou, explicando que quando chegou ao balneário “estava uma grande confusão e já tinham sido deflagradas tochas”.
O arguido disse que “a única coisa que ia fazer era confrontar o Battaglia” e que depois de ter sido atingido por uma geleira afirmou: “Isto vai trazer-nos problemas, vamos embora daqui”.
Tiago Martins afirmou ter assistido ao vivo à derrota do Sporting no terreno do Marítimo (2-1), dois dias antes da invasão à academia, e admitiu ter estado no aeroporto do Funchal, juntamente com Fernando Mendes, também arguido, a falar com os jogadores.
“Gerou-se uma grande revolta para os adeptos na altura. O Acuña insultou os adeptos e eu ia dirigir-me a ele, mas o Battaglia intercetou-me e fui insultado por ele”, explicou.
No final da sessão, e após mais de três horas de audição, o arguido mostrou-se “revoltado e triste” com o que fez e disse ter aprendido “que há vida para além do Sporting”.
“Sinto-me revoltado e triste pelo mal que fiz às vítimas. Na altura pensei que era a forma justa e correta de pedir justificações. O que fiz foi o oposto, prejudiquei gravemente as vítimas, a instituição Sporting, que ainda hoje não se conseguiu levantar, a Juventude Leonina e o seu líder. Aprendi que há vida além do Sporting”, disse.
O processo da invasão à academia tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, ‘Mustafá’ e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.
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