Com os Jogos Olímpicos a acontecerem desde o dia 26 de julho, e a terminarem já no próximo domingo, as polémicas a envolver atletas ou as condições da Cidade das Luzes e da Aldeia Olímpica foram vários. Nas redes sociais, a incredibilidade com as situações tem sido manifestada pelos atletas, comités e fãs, que seguem, atentamente, tudo o que se passa em Paris.
No entanto, o 'burburinho' começou bem antes do início da competição.
Como noticiou o Diário de Notícias, a 13 de julho, acompanhada pelo campeão paralímpico de triatlo, Alexis Hanquinquant, a ministra francesa do Desporto, Amélie Oudéa-Castéra, mergulhou no Rio Sena. Junto à 'Pont des Invalides', local onde se realizam as provas de maratona de natação e de triatlo, Oudéa-Castéra mergulhou para provar que a qualidade da água era boa.
Antes, a presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, já havia dito que o iria fazer para contrariar as opiniões de especialistas, que defendiam que as águas não estavam prontas para receber as modalidades olímpicas.
Há mais de um século que a natação no Rio Sena era proibida devido à má qualidade da água. A organização dos Jogos, contudo, investiu 1,4 mil milhões de euros para preparar o rio para o evento.
Depois de uma primavera e início de verão com muitas chuvas, as autoridades locais trabalharam para que, pelo menos, os limites estivessem dentro dos parâmetros autorizados pela competição. Uns dias melhores que outros, a dúvida sobre a possibilidade de competir no Sena continuou a pairar no ar até ao primeiro dia dos Jogos, quando os ensaios da cerimónia de abertura dos Jogos tiveram mesmo de ser adiados.
A competição arrancou e, até hoje, vários treinos e provas têm sido cancelados devido aos maus resultados da qualidade da água e ao elevado caudal do rio. Já quanto às provas ainda assim realizadas, não tardaram em surgir as consequências.
Ora vejamos, entre esta e outras situações, o que se passou em Paris nos últimos 13 dias:
- Poluição do Rio Sena
Entre tudo o que, de bom e de menos, se passou na cidade parisiense, esta não deixa de ser uma das situações mais marcantes. Desde que os Jogos Olímpicos tiveram início, as provas no Rio Sena já foram canceladas, pelo menos, cinco vezes.
Houve até quem tenha decidido não participar, como foi o caso da equipa da Bélgica, depois de a sua atleta, Claire Michel, ter contraído uma infeção da bactéria E. Coli, após competir na prova individual de triatlo, como noticiou a AFP. E não foi a única.
Ainda durante as provas masculina e feminina de triatlo, alguns atletas sentiram-se mal. Embora não seja claro que a água tenha sido a causa, o certo é que o estado em que alguns triatletas terminaram a competição não são comuns, tal como foi o caso do suíço Adrien Brifford, mais tarde diagnosticado com uma infeção intestinal, explica o Público.
Nos últimos dias, também os triatletas portugueses Vasco Vilaça e Melanie Santos desenvolveram infeções gastrointestinais depois da realização da prova.
Sendo ou não pela qualidade da água, vários outros atletas disseram ter passado por algumas dificuldades ainda dentro de água e queixaram-se de terem saído indispostos das maratonas aquáticas.
- "De pernas para o ar"
A cerimónia de abertura é, habitualmente, um dos momentos mais esperados nos Jogos Olímpicos. Este ano, o espetáculo ficou marcado logo de início… A bandeira olímpica foi hasteada ao contrário: os dois anéis em cima e os outros três anéis em baixo. O momento, ainda que breve, rapidamente se tornou viral nas redes sociais.
- Coreia do Nor… Sul
E depois da bandeira, outra 'gafe'. No momento em que a comitiva da Coreia do Sul desfilava nas águas do Rio Sena, foi apresentada com o nome oficial da Coreia do Norte em francês e em inglês, “Republique populaire democratique de Coree” e "Democratic People's Republic of Korea”, respetivamente.
As críticas não tardaram em surgir. Irritado, o Comité Olímpico da Coreia do Sul exigiu que o mesmo não voltasse a acontecer.
Mais tarde, através da rede social X, o Comité Olímpico Internacional (COI) escreveu: “Pedimos desculpa pelo erro que ocorreu na apresentação da equipa sul-coreana durante a transmissão da cerimónia de abertura”, em coreano.
- Agora... O hino do Sudão do Sul, por favor!
Durante o jogo de basquetebol entre as seleções de Porto Rico e do Sudão do Sul, ouviu-se o hino porto-riquenho e… outro hino que os sul sudaneses não identificaram.
Os jogadores ficaram perturbados ao ouvirem o hino errado e, juntamente com os adeptos, aplaudiram em uníssono até que o hino do país foi tocado corretamente.
- O polémico jogo entre Argentina e Marrocos
O primeiro jogo realizado no futebol masculino, entre as seleções da Argentina e de Marrocos, ficou marcado pela confusão. Os africanos ganhavam 2-1, quando o argentino Cristian Mediana empatou a partida aos 61 minutos. Logo a seguir, o jogo foi interrompido devido a uma invasão de campo por parte dos adeptos.
Após mais de uma hora de jogo suspenso, o VAR analisou a jogada e anulou o golo da Argentina. Revoltados, os adeptos arremessaram objetos para o relvado e envolveram-se num conflito ainda nas bancadas.
Argentina e Marrocos voltaram ao relvado para terminarem o duelo, mas o placar não se alterou e a seleção marroquina venceu mesmo por 2-1.
- Os atletas expulsos
Falar de Paris 2024 é também falar das expulsões dos atletas por comportamentos inadequados.
A atleta britânica, Charlotte Dujardin, de 39 anos, foi expulsa ainda antes de competir, depois de partilhar um vídeo, nas redes sociais, a chicotear o seu cavalo 24 vezes durante um minuto.
Por outro lado, a ginasta japonesa, Shoko Miyata, de 19 anos, foi apanhada a fumar e a beber. No Japão, as bebidas alcoólicas só são permitidas a partir dos 20 anos. Contrariando as regras do país, a atleta foi expulsa e não se apresentou em competição.
A nadadora do Paraguai, Luana Alonso, de 20 anos, já tinha terminado a sua participação em Paris, mas foi obrigada a abandonar a Aldeia Olímpica por visitar a Disneyland sem pedir autorização.
Também a nadadora brasileira Ana Carolina Vieira, de 22 anos, foi expulsa, acusada de má conduta. A atleta saiu com o namorado Gabriel Santos, também ele nadador da comitiva brasileira, para passearem pelos jardins da Torre Eiffel. Mas sem autorização. Punidos com uma advertência, Ana Carolina não gostou e contestou, levando à sua expulsão.
Já o judoca da Geórgia, Guram Tushishvili, de 29 anos, foi expulso depois de ter respondido com um empurrão ao derrube do francês Teddy Riner. O combate continuou, mas o conflito não terminou e o júri deu a prova como encerrada. A vitória, que pertenceu ao francês, foi contestada por Tushishvili, posteriormente, expulso por falta de desportivismo.
- A (não) polémica com a lutadora de boxe
A boxeadora argelina, Imane Khelif, venceu a italiana Angela Carini, em 45 segundos, com um golpe no rosto.
Sentindo-se injustiçada, a atleta da Itália abandonou o combate. Este sentimento surgiu na sequência de Khelif ter chumbado no teste de género no Mundial de 2023. O teste diz respeito aos níveis de testosterona identificados que, de mulher para mulher, são diferentes e podem indicar vários cenários.
Neste caso, levantou-se a hipótese de a atleta da Argélia ser transgénero, o que não se verifica. O COI reforçou que Khelif foi aprovada no critérios médicos da competição, e que tem todo o direito a estar presente como qualquer outro atleta.
- Doping, drogas e abuso
O primeiro caso de doping em Paris 2024 surgiu logo no primeiro dia. O judoca iraquiano, Sajjad Sehen, testou positivo a substâncias anabolizantes, metandienona e boldenona, que são proibidas. O atleta de 28 anos, que ia competir na categoria -81kg, foi, de imediato, suspenso da competição.
Um outro atleta da comitiva grega, cujo o nome não foi revelado, também foi expulso por testar positivo ao doping.
Já durante esta semana, os holofotes vivaram-se para outros atletas. Thomas Craig, de 28 anos e jogador de hóquei australiano, foi detido enquanto tentava comprar uma grama de cocaína no centro de Paris.
Por outro lado, um treinador da comitiva do Canadá, Rana Reider, foi expulso por abuso sexual, informou um jornalista do The Times através da rede social X.
- O calor e as condições
Embora os jogos tenham começado debaixo de chuva, as temperaturas têm rondado quase sempre os 30ºC. Estas altas temperaturas, juntamente com as condições oferecidas na competição, têm dificultado as prestações dos atletas.
Face ao fenómeno, a organização, que se mantém sem grandes reações, não tem sido poupada às críticas. Desde as filas intermináveis de fãs para encher as garrafas de água, aos atletas que nem sempre veem satisfeitos os seus pedidos por garrafas de água durante as provas.
As dificuldades vão desde o espaço exterior da competição ao espaço interior do descanso.
Na Aldeia Olímpica, os quartos não têm ar condicionado, o que tem dificultado a recuperação dos atletas, obrigando-as a procurar lugares mais frescos. O atleta italiano, Thomas Ceccon, de 23 anos, foi visto a dormitar num jardim público da capital francesa. Em declarações, o nadador olímpico dos 100 metros costas, disse: "não há ar condicionado na Aldeia, está calor e a comida é má. Estou desiludido por não ter chegado à final, mas estava demasiado cansado. É difícil dormir à noite e à tarde. Normalmente, quando estou em casa, durmo sempre à tarde: aqui tenho dificuldade em lidar com o calor e o barulho", cita o MaisFutebol.
As queixas não se ficam por aqui. Há relatos de que os transportes entre a Aldeia Olímpica e os locais de competição são insuficientes para a quantidade de atletas e os atrasos são enormes. Há atletas que chegaram, inclusive, às provas de táxi ou... De skate, como foi o caso da brasileira Rayssa Leal, de 16 anos.
Já as próprias condições dos autocarros, os meios de transporte disponibilizados pela organização, deixam muito a desejar. Sem ar condicionado, seis nadadores sul-coreanos alojaram-se num hotel próximo do local onde iam competir, de forma a evitar as longas viagens ao calor.
Seis nadadores sul-coreanos deixaram a Vila Olímpica e foram para um hotel próximo do local de competição devido a reclamações sobre longas viagens ao calor. Outros atletas têm optado pelo transporte de um ventilador portátil para aguentarem as altas temperaturas e se refrescarem.
Por outro lado, há ainda queixas sobre os erros de percurso e nos locais de desembarque.
A quantidade do número de casas de banho tem sido um outro problema. A tenista Coco Gauff partilhou nas redes sociais que havia apenas duas casas de banho para dez mulheres. Depois de um seguidor sugerir o alojamento da norte-americana num hotel, a mesma confessou que cinco colegas tinham optado por o fazer.
E já para não falar das famosas "camas de cartão", ou "antissexo", conhecidas desde Tóquio 2020.
- Comida insuficiente e... com vermes
As queixas sobre a comida surgiram logo após as primeiras refeições. A quantidade não só era insuficiente, como a carne chegou a ser servida crua. Ao The Times, o britânico Andy Anson contou que faltavam certos alimentos como "ovos, frango e carbohidratos".
Por sua vez, também o nadador britânico Adam Peaty confessou aos jornalistas que a comida no refeitório da Aldeia Olímpica não é a melhor. O atleta confessou mesmo que alguns colegas encontraram "minhocas" no peixe servido no local.
Talvez a prever o que pudesse acontecer, a comitiva da Grã-Bretanha levou um cozinheiro para garantir a boa alimentação dos seus atletas.
- Furtos e desaparecimentos
Logo nos primeiros dias houve ainda espaço para queixas de furtos. Como denunciou o jornal O Jogo, uma dessas queixas foi feita pelo treinador da seleção australiana de hóquei, Colin Batch. O australiano notificou o furto e a utilização fraudulenta do seu cartão bancário, que terá sido retirado do seu quarto.
As queixas seguiram-se até aos últimos dias. Desde o furto de uma aliança de casamento, a colares, a dinheiro, malas e outros pertences. Furtados dentro dos quartos, na entrada do hotel ou durante os treinos, o certo é que será difícil reaver qualquer objeto. Mesmo com as autoridades francesas em alerta e a investigar, na Aldeia Olímpica não existem câmaras de videovigilância, o que dificultará o processo de procura pelo material e por culpados.
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