Quem vive na capital angolana ainda está a sofrer com os efeitos de taxas de inflação acima dos 40% em 2016 e dos 25% em 2017, devido à crise económica, financeira e cambial que se arrasta há quatro anos.
Num país que importa praticamente de tudo e cuja crise da cotação do petróleo reduziu para metade a entrada de moeda estrangeira, a perda de valor do kwanza, admitida pelo Governo angolano, está a causar ansiedade.
Uma medida "precipitada", diz o taxista António Lopes Paulo, preocupado com o que serão os próximos tempos.
"No meu ponto de vista esta medida, a confirmar-se, será bastante crítica para os cidadãos e vai dificultar a vida de muita gente, não só taxistas como eu, mas também certos comerciantes", apontou.
Para o taxista, de 29 anos, o facto de Angola estar muito dependente da importação de bens de consumo vai contribuir diretamente para o aumento dos preços, adivinhando dificuldades em 2018.
"A situação é mesmo preocupante e antevemos dias difíceis porque a tendência era o câmbio do dólar baixar e essa desvalorização do kwanza vai abalar muita gente mesmo, os preços dos bens de consumo vão subir", observou.
Preocupações partilhadas pelo estudante universitário Gildo Salvador Capeça, que diz que esta medida vai afetar "diretamente na vida do pacato cidadão".
"A situação claramente que será difícil, porque uma vez que o dólar já se encontra numa situação mesmo difícil, acredito mesmo que os bens possam subir ainda mais. O Governo tem que velar por isso, porque não é uma boa medida", referiu.
O governador do banco central angolano anunciou na quarta-feira que a moeda angolana não vai ser desvalorizada, por ação do Governo, mas deverá sofrer uma depreciação face a outras moedas, consequência do novo regime cambial, que passa da taxa fixa para flutuante, durante o primeiro trimestre deste ano.
"Quando falamos em desvalorização, regra geral referimo-nos a uma intervenção administrativa da alteração da taxa de câmbio, forçando a perda do poder de compra da nossa moeda em relação a outras moedas, o que estamos a dizer é que não vamos ter desvalorização, mas deveremos ter uma depreciação", reiterou o responsável.
Alguns economistas apontam a possibilidade de uma descida real do peso do kwanza, face ao dólar, entre os 20 a 30%, tendo em conta a cotação atual oficial, que é de 166 kwanzas, enquanto no mercado de rua a nota é transacionada a 430 kwanzas, face à escassez de divisas nos bancos.
Os valores indicativos propostos pelos bancos comerciais angolanos vão passar a definir o novo regime flutuante cambial no país, anunciou entretanto o BNA, que estabeleceu na quinta-feira o intervalo de cotação neste modelo.
Em reunião extraordinária do Comité de Política Monetária (CPM) do BNA, realizada em Luanda, aquele órgão definiu "os limites mínimo e máximo da banda cambial" deste novo modelo, refere o comunicado final da sessão, a que a Lusa teve acesso, mas sem concretizar os valores do intervalo.
Explicações que não convencem a estudante Elivandra Pereira, que também receia a subida dos preços, sublinhando que "a vida dos angolanos já está complicada".
"É uma situação muito preocupante, porque se o kwanza desvalorizar e o dólar subir, automaticamente as coisas também vão subir e com o aumento dos preços, sem o aumento dos salários não sei como vamos viver", apontou.
Já o funcionário público Domingos Samujaia prefere acreditar na ponderação do Governo nas medidas agora anunciadas, considerando que a situação dos angolanos é "crítica e lastimável".
"Nós, como povo, recebemos esta notícia com uma grande tristeza porque a vida em si, da população, já está difícil e agora com esta anunciada desvalorização do kwanza vai tornar mais e mais difícil", disse, apelando a "alternativas".
Recordando, por exemplo, que o saco de arroz de 50 quilos, importado dada a falta de produção nacional, esta já a 6.000 kwanzas (30 euros), prefere "nem pensar" como ficará a curto prazo.
"A situação é preocupante e lastimável, estamos numa nova era e esperamos que o Governo pondere esta medida porque antevemos desde já muitas dificuldades", rematou.
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