“É um documento muitíssimo bem feito, aliás, não é para surpreender, porque o seu autor é uma pessoa que pensa muito bem e tem as ideias muito ordenadas e muito precisas. Li-o com gosto, mas ao mesmo tempo com uma sensação de frustração”, admite o economista.

Bagão Félix diz que o Plano Costa Silva dá “uma magnífica visão da economia e da sociedade portuguesa”, mas “é mais um diagnóstico muito bem feito, mas não tem grandes novidades”.

O antigo governante que, entre outros cargos, foi ministro da Segurança Social e do Trabalho no Governo liderado por Durão Barroso e ministro das Finanças no governo liderado por Santana Lopes, aponta mesmo “três falhas importantes”.

Uma das falhas, segundo Bagão Félix refere-se à poupança, ou, mais concretamente, à sua quase ausência no Plano Costa Silva.

A baixa taxa de poupança é um enorme problema português, segundo Bagão Félix mas, apesar disso, “a palavra poupança aparece uma vez” no Plano.

Portugal “tem uma taxa de poupança das famílias e das empresas baixíssima”, salienta o antigo ministro das Finanças sublinhando que “não há progresso, não há crescimento, não há desenvolvimento, sem poupança.

Porque sem a poupança ou não investimos, ou investimos endividando-nos”.

A segunda falha do Plano Costa Silva, segundo Bagão Félix, tem a ver com a produtividade.

“A produtividade é falada, obviamente, mas é falada” de passagem, “no contexto das outras coisas” e para o economista, “o documento exigiria um capítulo específico sobre a produtividade porque é na produtividade e na poupança que estão dois fatores essenciais e duas variáveis decisivas para o nosso crescimento e para o nosso desenvolvimento”.

A terceira falha diz respeito à corrupção.

“Zero vezes”, salienta Bagão Félix, adiantando que o crescimento económico português “está sempre atrofiado por fenómenos de corrupção ou de elisão fiscal”.

“São os três fatores que são mais ausentes, não direi negativos, mas por omissão: poupança, produtividade, corrupção”, conclui o economista.

Apesar destes aspetos, Bagão Félix também destaca alguns pontos positivos no Plano Costa Silva.

“A opção pelo investimento na ferrovia”, que “é crucial do ponto de vista económico, ecológico e ambiental”, sublinha o economista. Outro aspeto salientado por Bagão Félix prende-se com a ideia defendida no Plano de “gradual diminuição do IRS, por aumento gradual de impostos sobre a poluição”, uma ideia que o antigo ministro diz também defender.

A “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030”, servirá de base ao Plano de Recuperação e Resiliência que o Governo irá apresentar à Comissão Europeia e que deverá ser aprovado no Conselho de Ministros de 14 de outubro.