“O Bloco de Esquerda considera que esta entrega do Novo Banco (NB) ao fundo Lone Star é um erro, que terá custos muito avultados no futuro, e portanto o BE não concorda nem viabilizará esta medida”, disse Catarina Martins, à margem da apresentação do candidato do partido à Câmara Municipal de Sintra, na Biblioteca Ruy Belo, em Queluz, nos arredores de Lisboa.
“Mantemos o que sempre dissemos: para entregar o NB à Lone Star, perdendo o dinheiro que lá foi posto, e ainda por cima, ficando com a hipótese de perdas futuras, é algo que o BE nunca viabilizará", explicou Catarina Martins.
A líder do BE defende outro caminho: "Discutir uma outra solução, ainda que tenha algum custo agora, mas que nos permita, no futuro, reaver o que já foi posto no banco, e não ter perdas para próximos governos, é algo para o qual o BE está disponível e essa solução chama-se nacionalização”.
A nacionalização do NB, referiu a líder do Bloco, “foi já defendida por pessoas do Partido Socialista e até pelo seu porta-voz [João Galamba], com contas, que mostrava que era a solução mais barata que protegia a economia, o próprio ministro das Finanças [Mário Centeno] chegou a pôr essa solução em cima da mesa”.
A coordenadora do BE disse que já transmitiu esta “posição clara do Bloco” ao primeiro-ministro.
O Governo, disse Catarina Martins, “está convencido que esta medida não terá custos no imediato e portanto que pode avançar", mas para o BE "é um erro".
"Porque ainda que possa a vir ter custos nos governos futuros, e não neste, cabia-nos a nós agora uma solução que protegesse esses custos futuros, e essa é que seria uma ação responsável”, acrescentou.
O BE afirmou junto do Governo que “não viabilizaria esta solução”, referiu Catarina Martins, acrescentando, que mostrou “toda a disponibilidade para discutir uma outra" que "embora tivesse custos no imediato, tivesse menos custos para os contribuintes a prazo, e que tivesse até alguma hipótese de reaver algum dinheiro que já foi posto no Novo Banco”.
“Entregar à Lone Star perdendo todo o dinheiro dos contribuintes que já lá foi posto e prometendo perdas futuras que outros futuros governos vão ter de pagar, isso o BE não viabilizará", sublinhou.
Catarina Martins afirmou que o seu partido mantém a disponibilidade para a solução da nacionalização, que “permita proteger a economia portuguesa e limitar as perdas”, reconhecendo que “é uma solução difícil”.
“Sabemos que o que a direita fez foi de tal forma desastroso, que não há nenhuma solução sem alguns custos, mas menos do que entregar à Lone Star", disse, numa referência ao Governo PSD/CDS liderado por Pedro Passos Coelho.
A solução defendida pelo BE pode não agradar a Bruxelas, referiu a dirigente, acrescentando que a Comissão Europeia "não tem querido nenhumas das medidas que têm permitido ao país a recuperação económica, a consolidação orçamental e a criação de emprego".
"Se há alguma coisa que este Governo aprendeu, é que se obedecêssemos a Bruxelas estávamos cada vez pior, e se há alguma recuperação da economia é porque temos tido a coragem de tomar decisões de que Bruxelas não gosta mas protegem o país e esta, [a nacionalização do NB], é uma dessas decisões", sublinhou.
Quanto aos fundos de arte e documentais do ex-Banco Espírito Santo (BES), afirmou que essas coleções “se encontram agora num limbo jurídico”, devem “ser inventariadas e se os serviços técnicos do Ministério da Cultura chegarem à conclusão que são obras com relevo para a cultura portuguesa, devem ser classificadas, de modo a não saírem do território nacional” e poderem "ficar à disposição do povo português, para que as possam ver”.
“Não queremos que seja repetida a situação que aconteceu com os [quadros de] Miró”, advertiu a líder do BE, referindo que há “artistas de relevância nacional” nas coleções do ex-BES, nomeadamente Josefa d’Óbidos, e os vencedores dos antigos Prémios BES-Photo.
“O BE já entregou um projeto na Assembleia da República para garantir essas coisas, que a obras de arte são inventariadas, que sabemos o que está nas coleções, e ainda por cima, sabemos que, infelizmente, essas obras de arte proporcionam fugas de ativos, não registados e portanto queremos tudo inventariado”, disse.
Catarina Martins acrescentou que "as obras de arte são também ativos que valem muito dinheiro, há aqui uma parte patrimonial, de riqueza que tem de ser controlado".
“Seria ridículo que Governo não fizesse nada e quem ia resolver era um fundo abutre norte-americano. O Lone Star pode dizer o que quer, mas o Estado português é que tem de fazer o seu trabalho”, rematou.
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