Este acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, cuja conclusão tem sido sucessivamente adiada ao longo dos últimos anos, em parte por causa de obstáculos levantados por Estados-membros europeus, é uma das principais expectativas de António Costa em relação à futura presidência espanhola.

Em várias intervenções públicas, o líder do executivo português tem defendido a perspetiva de a União Europeia possuir uma maior autonomia estratégica, mas, ao mesmo tempo, assinalou a sua recusa face a perspetivas neoprotecionistas, quer em relação aos Estados Unidos, quer em relação ao continente sul-americano.

Em fevereiro, numa conferência do Fórum Toja, em Lisboa, António Costa abordou esta questão de forma particularmente incisiva, considerando que Portugal e Espanha podem dar “um contributo relevante” para uma política externa mais aberta por parte da União Europeia.

“Portugal e Espanha têm uma vantagem sobre muitos outros países europeus. Sendo europeus, conhecem o mundo e têm um horizonte mais vasto do que quem vive num enclave entre montanhas”, referiu nessa conferência, antes de deixar uma advertência: “A Europa tem de fazer um esforço de alguma humildade e de compreender que neste mundo global se deve esforçar mais por fazer amigos”.

“Se a Europa tivesse andado mais depressa na negociação do Mercosul, provavelmente os nossos parceiros do Mercosul teriam agora uma compreensão mais assertiva sobre o momento que estamos a viver na Europa”, admitiu, numa alusão à intervenção militar russa na Ucrânia.

Neste ponto, o primeiro-ministro manifestou então a sua esperança de que a presidência espanhola da União Europeia, no segundo semestre deste ano, “dê um forte impulso para se concluir o acordo com o Mercosul.

“A janela de oportunidade é muito estreita, porque o Presidente Lula da Silva acaba de ser eleito e já disse claramente que é vontade do Brasil fechar o acordo; o Presidente da Argentina, Alberto Fernández, diz o mesmo. Portanto, é altura de se compreender que não há um quilo de bife produzido na Europa que justifique continuarmos a atrasar a celebração do acordo do Mercosul — o acordo com maior económica que pode haver e que pode contribuir para criar uma grande aliança transatlântica”, sustentou.

Uma estratégia comum na energia é outra das aspirações de António Costa em relação aos dois países ibéricos, defendendo, designadamente, que devem unir-se e trabalhar em conjunto na exploração das reservas de lítio.

De acordo com a tese do primeiro-ministro português, Portugal e Espanha têm uma grande oportunidade de cooperação transfronteiriça, porque os dois países possuem em conjunto as maiores reservas de um recurso natural fundamental para a mobilidade elétrica dos próximos anos: O lítio.

Para António Costa, mais do que competir para cada um ter a sua fábrica de baterias e cada um ter a sua refinaria, importa que Portugal e Espanha tenham a capacidade de desenvolver em conjunto uma estratégia para valorizar em comum um recurso que, sendo a maior a reserva europeia, é ainda assim insuficiente.

Sendo insuficiente, apesar da dimensão das reservas existentes nos dois países, tal, de acordo com o primeiro-ministro, implicará sempre a importação de mais lítio para se criar uma fábrica sustentável de produção de baterias, o que aconselha “um trabalho conjunto” entre os dois países.

Ainda neste domínio da energia, perante a Câmara do Comércio Luso Espanhola, António Costa estimou que Portugal e Espanha, em conjunto, podem suprir cerca de 30% das necessidades energéticas da Europa e frisou que os dois países ibéricos estão agora perante uma oportunidade única neste domínio.

A Península Ibérica, em virtude da capacidade já instalada, sustentou, “tem condições para a prazo suprir quase 30% das necessidades da Europa”.