“Todos os bancos reportaram um risco de crédito significativamente mais alto no primeiro trimestre devido à atualização dos pressupostos financeiros da covid-19 nos respetivos modelos de crédito. Ainda assim, o primeiro trimestre refletiu apenas o impacto inicial da pandemia, já que na maior parte dos países o confinamento só aconteceu já perto do final deste período, pelo que esta tendência deve continuar”, lê-se numa análise da agência de notação financeira DBRS Morningstar.
Segundo refere, “desde meados de março que a maior parte das economias europeias foram afetadas por encerramentos/paralisações, e embora estejam agora a começar a reabrir, espera-se uma forte contração do produto interno bruto (PIB) e riscos de desemprego mais elevados em 2020, o que terá um impacto negativo na rentabilidade e da qualidade dos ativos dos bancos europeus”.
“O impacto total da covid-19 nas economias europeias e no setor bancário continua a revestir-se de grande incerteza e vai depender, em última análise, da magnitude da crise económica e da duração e extensão da subsequente recuperação”.
A análise da DBRS Morningstar sobre a evolução do risco de crédito focou-se numa amostra de 40 bancos europeus, nomeadamente na França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Noruega, Portugal, Dinamarca, Irlanda e Reino Unido.
As conclusões apontam que “a maioria dos bancos da amostra reportou provisões para risco de crédito “significativamente mais altas” no primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2019, o que se traduziu no “considerável aumento” do custo do risco.
“Para a maioria dos bancos, o aumento do custo do risco no primeiro trimestre refletiu a atualização dos seus modelos de crédito, tendo em conta a degradação das perspetivas económicas. Alguns bancos alocaram provisões para perdas com empréstimos para portfólios de nível 1, 2 e 3, enquanto outros o fizeram apenas para empréstimos de nível 1”, nota a DBRS.
Segundo a agência, os grandes bancos no Reino Unido apresentaram, em média, os níveis mais altos de custo do risco (141 pontos base), enquanto a Finlândia tinha o custo de risco mais baixo (19 pontos base) e os bancos irlandeses registaram o maior aumento homólogo neste indicador.
Os bancos portugueses reportaram um nível médio de custo do risco de 70 pontos base, abaixo da média dos vários bancos analisados, o que a DBRS considera “relativamente baixo, particularmente tendo em conta o significativo impacto económico esperado em 2020” na sequência da pandemia.
A mesma apreciação é feita relativamente aos bancos em Espanha e Itália (cujo custo de risco se situou nos 105 e nos 87 pontos base, respetivamente), com a agência a considerar, tal como para Portugal, que as provisões feitas são baixas tendo em conta “a dependência das respetivas economias face a setores que deverão ser severamente afetados pelo confinamento, como o turismo, assim como o considerável peso de pequenas e médias empresas” no tecido económico destes países.
“À medida que a evolução económica se vai desenrolando, os bancos deverão continuar a atualizar os pressupostos económicos dos respetivos modelos de crédito, o que se traduzirá em crescentes provisões para perdas com empréstimos", refere.
Adicionalmente, acrescenta, "à medida que a qualidade dos ativos começa a deteriorar-se, particularmente quando se aproximar o final das moratórias de crédito, é previsível que as provisões para risco de crédito passem a incorporar perdas em empréstimos cujo risco de crédito aumentou significativamente desde a avaliação inicial (empréstimos de nível 2) e em empréstimos vencidos (de nível 3), sustenta a vice-presidente sénior da DBRS, Maria Rivas.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 402 mil mortos e infetou mais de sete milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.479 pessoas das 34.693 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano passou a ser o que tem mais casos confirmados, embora com menos mortes.
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