Segundo a edição de outubro do “Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito”, hoje divulgada pelo banco central, para esta evolução “contribuíram a maior perceção e a menor tolerância de riscos por parte dos bancos”.

Para o último trimestre deste ano, os bancos preveem restrições adicionais no crédito a empresas, enquanto as condições do crédito a particulares se deverão manter “praticamente inalteradas”.

No crédito a empresas, no terceiro trimestre destacou-se “a perceção de riscos associados à situação e perspetivas em setores e empresas específicos e, em menor grau, de riscos associados à situação e perspetivas económicas gerais e às garantias exigidas”.

“Neste segmento de crédito, os ‘spreads’ aplicados nos empréstimos de maior risco aumentaram e a maturidade, as garantias exigidas e o montante do empréstimo tornaram-se ligeiramente mais restritivos”, precisa o BdP.

Já no crédito a particulares, foi “a perceção de riscos associados à situação e perspetivas económicas gerais” que esteve na base da maior restritividade nos empréstimos à habitação e ao consumo, tendo os bancos também indicado “uma menor tolerância de riscos nos empréstimos ao consumo”.

Ainda assim, os termos e condições dos empréstimos à habitação e ao consumo “permaneceram praticamente inalterados” e a proporção de pedidos de empréstimos rejeitados “permaneceu essencialmente inalterada no crédito a empresas e no crédito à habitação, mas aumentou no crédito ao consumo”.

De julho a setembro, o BdP reporta que a procura de empréstimos por parte das empresas “reduziu-se ligeiramente, e de forma mais acentuada no caso de grandes empresas, influenciada sobretudo pela redução das necessidades de financiamento para investimento, para fusões/aquisições e para restruturação empresarial”.

No caso dos particulares, a procura aumentou ligeiramente no crédito à habitação e permaneceu inalterada no crédito ao consumo.

“O nível geral das taxas de juro contribuiu para aumentar a procura, especialmente de empréstimos à habitação, e, em sentido contrário, a confiança dos consumidores contribuiu para a sua diminuição, sobretudo no segmento do consumo”, nota o banco central.

Para o quarto trimestre de 2020, os bancos anteveem uma diminuição da procura de crédito por parte das empresas, transversal ao tipo de empresa e maturidade do empréstimo, mas mais acentuada nas PME (pequenas e médias empresas) e nos empréstimos de longo prazo.

Já no caso dos particulares, os bancos antecipam um aumento da procura de crédito ao consumo e uma estabilização da procura de crédito à habitação.

No relatório hoje divulgado, o regulador deu ainda conta do resultado do inquérito feito aos bancos sobre outras questões não permanentes, nomeadamente o financiamento a retalho e por grosso, os programas do Banco Central Europeu (BCE) de compra de ativos, o impacto da taxa de juro negativa aplicada pelo BCE à facilidade permanente de depósito e a terceira série de operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (ORPA direcionadas III).

As respostas obtidas indicaram que, no terceiro trimestre, verificou-se uma melhoria no financiamento a retalho, especialmente através de depósitos de curto prazo, e, em sentido contrário, uma “ligeira deterioração” na capacidade de transferência do risco de crédito para fora do balanço.

Quanto aos programas de compras de ativos do BCE (o APP e o Programa de Compras de Emergência Pandémica), os inquiridos dizem ter contribuído para o aumento do total dos ativos dos bancos, designadamente obrigações soberanas da área do euro, assim como para a melhoria da posição de liquidez global do banco e das condições globais de financiamento no mercado.

Segundo os bancos, estes programas também contribuíram para uma ligeira melhoria do rácio de fundos próprios.

Sobre a taxa de juro negativa aplicada pelo BCE à facilidade permanente de depósito, foi reportado que, nos últimos seis meses, teve “um impacto negativo na margem financeira e, consequentemente, na rendibilidade global dos bancos”.

“Em simultâneo, o nível desta taxa de juro contribuiu ligeiramente para o aumento dos ‘spreads’ aplicados em empréstimos a empresas e a particulares para aquisição de habitação e para o aumento do volume de crédito concedido a empresas”, refere o BdP.

Relativamente às ORPA direcionadas III, os cinco bancos da amostra portuguesa participaram na operação de refinanciamento de prazo alargado (ORPA) direcionada III de junho de 2020 e um banco participou na operação de setembro, sendo que quatro bancos indicaram que não pretendem participar nas futuras operações ORPA direcionadas III e um referiu que a participação ainda não estava decidida.

Nos últimos seis meses, as ORPA direcionadas III contribuíram para uma melhoria da situação financeira dos bancos por via da posição de liquidez, da rendibilidade e das condições de financiamento no mercado, assim como da capacidade para cumprir os requisitos regulamentares e prudenciais, tendo ainda contribuído ligeiramente para o aumento do volume de crédito concedido a empresas.

O questionário que esteve na base do relatório hoje divulgado pelo BdP foi enviado aos bancos no dia 21 de setembro e o envio das respostas ocorreu até ao dia 06 de outubro.