Prémios “de final de ano” aos trabalhadores começam a surgir aqui e ali, uma medida que o Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes vê como uma espécie de “adoçar a boca” para que não haja a tentação de sair à procura de melhores condições.
O coordenador daquele sindicato, Francisco Vieira, garante à Lusa que há mesmo empresas que estão a dar “gratificações” aos trabalhadores que consigam convencer trabalhadores de outras empresas a ingressarem nos seus quadros.
“Por cada trabalhador que consigam convencer a ‘assinar’ pela sua empresa, ganham um x”, refere, aludindo, por exemplo, a profissionais como costureiras ou tecelões, que “são alvo de uma procura muito grande e que escasseiam no mercado”.
No Vale do Ave, duas empresas têxteis de Guimarães anunciaram a atribuição de “prémios” aos trabalhadores, neste final de ano.
Numa delas, a Lameirinho, com cerca de 700 trabalhadores, o prémio foi de 500 euros e juntou-se ao ordenado normal e ao subsídio de natal.
A empresa diz que, desta forma, quis partilhar uma parte dos resultados com os trabalhadores, agradecendo-lhes o seu contributo para o cumprimento dos seus compromissos com os clientes.
A outra é a Polopiquê, que distribuiu um prémio de 200 euros por cada um dos cerca de mil trabalhadores.
Ambas as empresas, adianta Francisco Vieira, já estão também a pagar ordenados acima dos 700 euros, quando atualmente o salário mínimo nacional se cifra em 665 euros.
Medidas que, diz ainda o sindicalista, visam esbater as dificuldades de recrutamento de trabalhadores e evitar o “bater de asas” dos que já lá trabalham.
“As empresas estão a ser obrigadas a abrir os cordões à bolsa, a dar alguns ‘miminhos’ aos trabalhadores, para segurar os seus efetivos e para convencer outros de que necessitam a ingressarem nos seus quadros. Porque a verdade é que, se há dificuldade em encontrar mão de obra, isso deve-se essencialmente aos salários que não são atrativos”, sublinha.
Seja como for, Francisco Vieira frisa que o paradigma do têxtil no Vale do Ave está a mudar, para melhor.
“É claro que nem tudo são rosas, que há ainda um longo caminho a fazer em termos de salários e de condições de trabalho, mas as coisas estão a mudar. As empresas começam a entender o valor do trabalhador têxtil. Hoje em dia, quase se pode dizer assim, só não trabalha quem não quer”, atira o sindicalista.
Como exemplo, aponta a insolvência, decretada este ano, da Coelima, também em Guimarães, com 250 trabalhadores.
“A empresa foi comprada e os trabalhadores todos aproveitados. Só não ficou quem não quis. É muito saber de experiência feito que está nas mãos de quem trabalha há décadas no setor e que as empresas não se podem dar ao luxo de desaproveitar. Profissionais assim não se formam num mês, nem em dois, nem em três. Demora muito tempo. E tempo é dinheiro. Uma costureira fica hoje sem trabalho e amanhã já está contratada, nem precisa de meter os papéis para o desemprego”, adianta.
Para o dirigente sindical, é esta necessidade de profissionais “que sabem o que fazem” que está a forçar a mudança do panorama laboral no mundo têxtil do Vale do Ave.
“O desemprego já era. Agora, começa a sentir-se a falta de mão de obra. E este jogo de procura e oferta vai, inevitavelmente, beneficiar o trabalhador”, atira.
Admite que há um longo caminho que ainda é preciso trilhar para humanizar cargas laborais e esbater a pressão que, por vezes, conduz a situações de esgotamento.
Mas, sublinha, o caminho faz-se caminhando. E, garante, enquanto houver estrada para andar, trabalhadores e sindicatos vão continuar a lutar por um têxtil com mais justiça social e dignidade laboral e salarial.
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