Em comunicado a AIP-CCI sublinha que nunca houve tantas pessoas empregadas, mas não são suficientes.

"Portugal vive praticamente em situação de pleno emprego, com muitas empresas a sentirem enormes dificuldades em encontrar os perfis que necessitam para reforçar as suas equipas para prosseguirem com as suas estratégias de crescimento. Os recursos humanos são, por isso, vistos como o maior entrave ao crescimento, mas também à competitividade das empresas portuguesas, superando até a carga fiscal que recai sobre o tecido empresarial", referem.

Uma em cada quatro empresas que participaram no mais recente Inquérito à Atividade Empresarial realizado pela AIP-CCI aponta o “Mercado de Trabalho” como o maior desafio que enfrentam, sendo ao mesmo tempo o maior entrave à competitividade. Este resultado verifica-se numa altura em que há um recorde de 5,1 milhões de trabalhadores empregados, assistindo-se a uma crescente necessidade de trabalhadores estrangeiros para suprir as necessidades nacionais.

“Há um crescimento expressivo no número de empresas que enfrenta um problema grave de falta de recursos humanos. Há negócio, há vontade de crescer e de internacionalizar, mas muitas vezes vemos as empresas de mãos atadas por falta de pessoas qualificadas que possam ajudar a esse crescimento”, refere Paulo Alexandre Caldas, Diretor de Economia, Financiamento e Inovação da AIP-CCI, responsável pelo Inquérito à Atividade Empresarial.

A dificuldade em contratar novos trabalhadores surge como fator de stress para a gestão das empresas portuguesas, sendo até maior que os fatores financeiros. Tendo em conta os resultados apurados neste inquérito realizado desde 1995, o “Mercado de Trabalho” fica à frente do “Sistema Fiscal” (23%) enquanto responsável pelo baixo crescimento e competitividade das empresas.

Portugal apresenta um regime fiscal muito pouco competitivo em que as empresas e os trabalhadores são sobrecarregados com uma série de impostos. José Eduardo Carvalho, Presidente da AIP, vê nas respostas dadas pelas empresas o respaldo para o que tem vindo a defender: “Não podemos continuar com um quadro fiscal que é composto por 4.300 impostos e taxas e, ainda por cima, quando neles incidem e 451 benefícios fiscais. Não faz sentido. É preciso que o Governo olhe para este problema que asfixia as empresas e a economia”, diz.

À falta de recursos humanos, à fiscalidade excessiva, junta-se, obviamente, o contexto internacional, seja pelo nível de tensão geopolítica, seja pela conjuntura macroeconómica desafiante, enquanto fatores que limitam a capacidade das empresas portuguesas de crescer e de serem competitivas num mercado global. Isto apesar de, globalmente, as empresas respondentes revelarem uma situação financeira estável, com vontade de investir.

As empresas estão financeiramente estáveis

Segundo o inquérito, quando questionadas sobre a sua situação financeira, 52% das empresas consideram como "Normal" e cerca de 40% consideram como sendo "Boa” ou mesmo “Muito Boa”. Entre as cerca de três centenas de empresas que responderam no início do segundo semestre deste ano, apenas 7% dizem que é “Má” e 1% assume como sendo “Muito má”.

Tendo em conta o panorama positivo da situação financeira das empresas, há 35% que faz uma gestão assente exclusivamente em fundos próprios, sendo que 49% assume que pontualmente recorre a capitais alheios e 16% trabalha regularmente com crédito bancário. Neste ponto, é importante salientar a muita reduzida expressão de outras fontes de financiamento como sejam emissões de dívida ou o recurso ao mercado de capitais.

A dependência do financiamento bancário é reflexo de uma reduzida literacia financeira por parte de muitas empresas.

Investimento passa ao lado da “Investigação & Desenvolvimento”

Das empresas que participaram 47% consideraram que o valor do investimento realizado/a realizar situar-se-á num nível “Igual” ao realizado em 2023. Apenas 22% consideraram que o investimento será num nível “Superior” ao do ano passado e 6% dizem que será “Muito Superior”.

Este investimento será canalizado essencialmente para “Equipamento Produtivo” (29%), seguido de áreas como as “Tecnologias de Informação e Comunicação” (11%) e a “Qualificação de Recursos Humanos” com 10,8%. Estes resultados deixam transparecer a necessidade que as empresas sentem de reforçar a produção, mas também de serem cada vez mais digitais, essencial para o seu crescimento, bem como o foco na qualificação e retenção de talento num contexto desafiante para a atração de novos colaboradores.

Preocupante é o facto de a grande maioria das empresas ignorar a importância do investimento e “Investigação & Desenvolvimento” para o futuro das suas organizações. Das empresas que responderam, 47% revela que raramente investe nesta área fundamental para a diferenciação dos seus negócios, sendo também motivo de preocupação a reduzida relevância atribuída ao investimento em “Ambiente/Sustentabilidade”, isto num momento em que a transição energética se assume como determinante para o crescimento sustentável das empresas.