“Conforme já anunciado pelo Presidente da República (Emmanuel Macron), a França opõe-se à assinatura do tratado do Mercosul. Digo-o em alto e bom som”, declarou Attal a um grupo de agricultores, numa exploração pecuária em Haute-Garonne (sul).
Este acordo comercial, negociado há décadas, registou um ponto de viragem em 2019, quando foi alcançado um acordo político entre o bloco europeu e os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e atualmente também Bolívia).
Para o primeiro-ministro francês, este tipo de acordos “são uma lei da selva” que acabam por afetar os agricultores franceses.
A crítica do Governo francês ao acordo já tinha sido feita em dezembro, na cimeira COP28, por Macron, que alegou a falta de reciprocidade das normas ambientais entre a Europa, consideradas as mais exigentes do planeta, e a América do Sul.
A recusa da França surge dois dias depois de governantes do Mercosul, numa reunião em Assunção, darem como certo o desejo dos seus países de avançarem na negociação das questões pendentes com a UE, com vista a finalizar a assinatura de um acordo equilibrado assim que possível.
Com a oposição de França, o acordo será inviabilizado porque é necessário o apoio de todos os 27 parlamentos dos Estados-Membros da EU.
Os opositores do Presidente Emmanuel Macron estão a aproveitar as manifestações dos agricultores para criticar o desempenho do seu Governo antes das eleições europeias, marcadas para junho.
A líder da extrema-direita, Marine Le Pen, cujo partido está bem posicionado nas mais recentes sondagens, culpa os acordos de comércio livre, as importações e a burocracia pelos problemas económicos dos agricultores.
Os líderes dos protestos prometeram que os agricultores vão analisar as medidas do Governo antes de decidirem novos passos de contestação.
“A determinação é total. Esperamos medidas urgentes”, assegurou na quinta-feira Arnaud Rousseau, presidente do influente sindicato agrícola FNSEA.
Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, abriu um painel de discussão para tentar colocar a agricultura como tema prioritário na política comunitária, prometendo ter em conta algumas das queixas levantadas pelos manifestantes em França.
O chamado diálogo estratégico surge num momento em que a campanha para as eleições do Parlamento Europeu, de 06 a 09 de junho, está a ganhar força e onde o destino do setor agrícola é uma questão controversa.
“Todos concordamos que os desafios são, sem dúvida, crescentes, seja a concorrência externa, seja o excesso de regulamentação interna, sejam as alterações climáticas, ou a perda de biodiversidade, ou seja um declínio demográfico, apenas para citar alguns dos desafios”, reconheceu Von der Leyen.
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