Desde o aumento das taxas de juro, nomeadamente a Euribor que serve de referência para o cálculo do prémio dos Certificados de Aforro, este produto de poupança com base na compra de dívida do estado nunca esteve tão popular entre os investidores. Porém, de acordo com economista João Moreira Rato, talvez seja necessário “interromper emissão de Certificados de Aforro”.

As declarações do economista que, entre 2012 e 2014, esteve à frente do IGCP (Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública), o Instituto que gere a dívida pública em Portugal, foram feitas numa entrevista à CNN Portugal.

“Pode-se anunciar ao público que vão ter mais três meses [para subscrever Certificados de Aforro] e que depois, apenas estará disponível um montante mais pequeno, ou então interromper a emissão de Certificados durante três ou quatro meses para reiniciar mais tarde, mas com um aviso prévio”, refere o especialista que também é chairman do Banco CTT.

Recorde-se que de acordo com com o Banco de Portugal, no final de abril, os portugueses tinham mais de 30 mil milhões de euros aplicados neste produto de poupança do Estado a que se juntam mais de 13 mil milhões de euros em Certificados do Tesouro, o que coloca quase 15% da dívida pública nas mãos dos portugueses. Este tipo de investimentos já levou Governo a ponderar avaliar os certificados de aforro em função de novas subscrições, segundo declarações do  Ministro das Finanças, até agora sem nenhum efeito prático.

João Moreira Rato, sublinha que "dívida a taxa variável [como é o caso dos Certificados de Aforro] provavelmente não deveria ser muito mais do que 15% do total".

O economista salienta ainda a existência de outros de produtos de compra de dívida do Estado, como os Certificados do Tesouro, que tem taxas mais baixas. “Neste momento, as taxas são mais baixas que as dos Certificados, depois, podem não ser ao longo do ciclo, mas têm uma previsibilidade que não lhes dá os Certificados. E para gerir a dívida pública essa previsibilidade também tem algum valor”, refere.

Neste sentido, refere que o Governo deve evitar estar "demasiado dependente de um só tipo de instrumento e por isso, neste momento, a emissão de Certificados de Aforro acaba por pôr em causa um bocadinho de tudo o resto”, sublinha.

Esta sugestão acontece tendo em conta que corrida aos Certificados de Aforro tem sido de tal forma expressiva que o IGCP já cancelou duas emissões de Bilhetes do Tesouro face à situação de tesouraria favorável que vive neste momento.

Neste sentido, para o especialista, "deve evitar-se estar demasiado dependente de um só tipo de instrumento e por isso, neste momento, a emissão de Certificados de Aforro acaba por pôr em causa um bocadinho de tudo o resto”.