O acordo que prevê que o grupo CEFC passe a deter uma posição maioritária no Montepio Seguros (a ‘holding’ da Associação Mutualista Montepio Geral que detém as seguradoras do grupo Montepio, a Lusitânia e N Seguros), passando a controlá-lo, foi assinado esta segunda-feira na cidade chinesa de Xangai entre o vice-presidente do CEFC, Wu Hongbing, e o presidente executivo da Lusitânia, Fernando Nogueira.
O negócio deverá ser feito por aumento de capital, mas o valor do investimento ainda não é conhecido.
Fonte ligada ao processo indicou à Lusa que o valor do investimento deverá reforçar o capital das seguradoras do Montepio.
Para o negócio se concretizar falta a aprovação em Conselho Geral da Associação Mutualista Montepio Geral e a autorização do regulador dos seguros português, a Autoridades dos Seguros e Fundos de Pensões.
Quando o negócio avançar, a Associação Mutualista Montepio Geral (atualmente a única detentora, de forma direta e indireta, da Montepio Seguros) ficará com uma participação minoritária.
Em setembro último, foi conhecido que a Associação Mutualista Montepio Geral fez um acordo com o grupo chinês CEFC para eventuais parcerias a decidir no futuro, excluindo a Caixa Económica Montepio Geral (o banco mutualista). A imprensa adiantou, desde logo, que essa parceria poderia incluir uma participação nos seguros do Montepio.
A CEFC China Energy é um grupo privado chinês, que atua sobretudo na área da energia, mas que tem também interesses também nos serviços financeiros.
Este grupo tem vindo a aumentar a sua operação na Europa. Na República Checa comprou o clube de futebol Slavia Prague e na Rússia adquiriu, em setembro último, uma participação de 14% na petrolífera Rosneft.
No comunicado hoje divulgado pelo CEFC, a que a Lusa teve acesso, o grupo chinês destaca as vantagens de Portugal nos seus negócios, nomeadamente em termos estratégicos de ligação a outros países europeus e a países lusófonos de América Latina e de África.
No caso dos países lusófonos africanos, o CEFC refere que são “particularmente ricos em recursos” e que têm características “complementares com a China”, o que poderá indicar que o grupo quer partir de Portugal para estabelecer negócios em países africanos de língua portuguesa.
“Esta transação [com o Montepio] reforçará ainda mais a influência global da CEFC, é estrategicamente importante para a CEFC estabelecer negócios de seguros no exterior e desenvolver serviços financeiros internacionais”, lê-se no comunicado hoje divulgado.
O grupo anunciou ainda que, no futuro, “estabelecerá a sua sede de negócios financeiros em Portugal” e que espera realizar investimentos em “vários domínios, como finanças, imóveis, infraestruturas, telecomunicações e vinho”.
“Espera-se que esta transação seja um ponto de partida importante para promover as vantagens complementares e benefícios mútuos entre a China e Portugal”, conclui o comunicado.
A entrada de investidores estrangeiros, e nomeadamente chineses, no setor segurador português tem-se intensificado nos últimos anos.
O negócio de maior monta aconteceu em 2014, quando o grupo chinês Fosun passou a deter 80% da Caixa Seguros (que inclui a Fidelidade), que pertencia à Caixa Geral de Depósitos.
Já em outubro deste ano, a seguradora francesa Groupama vendeu a sua operação em Portugal ao grupo chinês China Tianying, não sendo conhecido o valor do negócio.
Quanto a outras seguradoras que operam em Portugal, o grupo norte-americano Apollo comprou em 2015 a seguradora Tranquilidade (que pertencia ao BES e, na resolução, ficou com o Novo Banco) e, mais recentemente, adquiriu a Açoreana (que era do Banif).
Em 2016, o grupo segurador belga Ageas comprou a operação da Axa em Portugal.
O Novo Banco tem atualmente em venda a seguradora GNB Vida (ex-BES Vida), tendo já dito várias vezes que espera conseguir acordo para o negócio até final deste ano.
O presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, Tomás Correia, referiu-se recentemente às transformações do sistema financeiro português nos últimos anos, para concluir que foi tomado por capital estrangeiro.
“O setor segurador antes da crise era 85% dominado por capital social, hoje é 7%. Já se olharmos para o setor bancário, à exceção do banco público [Caixa Geral de Depósitos], Montepio, Crédito Agrícola e algumas instituições mais pequenas, como a Caixa Económica de Angra [nos Açores], tudo o resto está dominado por capital estrangeiro”, disse em 14 de novembro, no Congresso da Economia Social.
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