"Estas plataformas giratórias em que os amigos circulam pelos lugares no aparelho do Estado, onde temos mais do mesmo com os mesmos, foi um dos motivos que me fez candidatar à presidência do CDS-PP para mudar os hábitos e introduzir alguma renovação no sistema. Parece-me que é um mau exemplo que está a ser dado ao país e CDS reitera: à mulher de César não basta ser, é preciso parecer", disse Francisco Rodrigues dos Santos.

O líder do CDS-PP, que falava aos jornalistas à margem de uma visita a uma fábrica de ourivesaria localizada em Gondomar, no distrito do Porto, recordou que o "CDS foi o primeiro partido a dizer que por uma questão de princípio, não se pode passar de governante a governador", isto porque, acrescentou, "o árbitro não pode passar a jogador".

"Não faz sentido que o ex-ministro Mário Centeno, que era responsável por tutelar o setor financeiro e da banca, que tem motivado tantas desconfianças dos portugueses, venha agora a passar de arbitro a jogador. Não é legitimo, nem eticamente e moralmente aceitável alimentar-se uma dúvida de que há conflito de interesses ou é colocada em causa a autonomia e independência de uma entidade supervisora como é o Banco de Portugal", referiu.

Francisco Rodrigues dos Santos frisou que este "não é um ataque pessoal ao ex-ministro Mário Centeno", mas sublinhou a ideia de que "há promiscuidade no poder político e nas entidades reguladoras", o que no seu entender "tem provocado bastantes prejuízos aos bolsos dos portugueses nos últimos anos".

"Temos de ter mecanismos e sistemas em Portugal que sejam transparentes e promovam a confiança dos portugueses na política. Por isso é que o CDS propôs que a nomeação do governador do Banco de Portugal devia ser realizada pelo Presidente da República sob proposta do Governo e ouvida a Assembleia da República", descreveu.

O presidente do CDS-PP voltou a defender que se deve aguardar pelo parecer do Banco Central Europeu e disse, quanto a possíveis futuras votações, que "se há partidos que têm problemas de coerência não é o CDS".

Convidado a explicar se com esta frase está a acusar algum partido de incoerência, Rodrigues dos Santos foi direto na resposta ao acusar o Bloco de Esquerda.

"Tem sido incoerente ao longo dos últimos anos, critica as políticas governamentais ao nível da economia e das finanças e aprova todos os orçamentos do Estado. Neste caso votou o período de nojo de cinco anos para impedir a passagem de governantes a governadores e agora na especialidade parece que vai recuar (?). Enquanto acharmos que esse exercício de retórica teatral e que roça a hipocrisia é rentável em Portugal teremos uma democracia com muito pouca qualidade e teremos políticos que querem tentar fintar os portugueses e estar bem com Deus e com o diabo", concluiu.

Em 25 de junho, o Governo comunicou ao presidente da Assembleia da República a proposta de nomear o ex-ministro das Finanças Mário Centeno para o cargo de governador do Banco de Portugal.

A escolha de Centeno foi polémica, pelo facto de este responsável passar quase diretamente do Ministério das Finanças (onde foi ministro até junho) para o Banco de Portugal e, em 09 de junho, foi mesmo aprovado no parlamento, na generalidade, um projeto do PAN que estabelecia um período de nojo de cinco anos entre o exercício de funções governativas na área das Finanças e o desempenho do cargo de governador.

Contudo, em 17 de junho a esquerda parlamentar (PCP e BE, sendo já sabido que PS era contra) demarcou-se da intenção do PAN de estabelecer esse período de nojo e, em 25 de junho, o parlamento suspendeu por quatro semanas a apreciação na especialidade do projeto do PAN até chegar o parecer pedido ao Banco Central Europeu (BCE), no mesmo dia em que o executivo comunicou oficialmente a sua escolha.

O atual governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, termina hoje (08 de julho) formalmente o segundo mandato à frente do banco central (onde está há 10 anos), mas irá manter-se em funções até à tomada de posse do sucessor.