De um lado Mário Centeno, ministro de Estado e das Finanças portuguesas; do outro Mário Centeno, presidente do Eurogrupo. A entrevista desta quinta-feira ao jornalista Vítor Gonçalves, na RTP3, teve esta dualidade. Eis os principais destaques.
Mário Centeno, o ministro português:
- "Este não é o tempo de pensar na fatura", começou por dizer.
- Sobre o desemprego, avançou que "há mais 75 mil pessoas registadas nos Centros de Emprego face a abril do ano passado";
- Até final de 2020, Mário Centeno acredita que a taxa de desemprego "possa vir a crescer 3 ou 4 pontos percentuais";
- Quando questionado sobre se a taxa de desemprego ficaria abaixo dos 10%, Mário Centeno confirmou que "poderá ser ligeiramente abaixo desse número";
- Num momento em que muito se fala d'"a curva", o Ministro das Finanças disse que "a crise económica, como tem origem na crise sanitária, seguirá exatamente a curva da crise epidemiológica";
- E sobre o PIB? "As quebras de atividade em abril podem ter retirado ao PIB qualquer coisa como 6,5% em 30 dias úteis. É um valor muito significativo (...) Podemos estar a observar uma queda em termos nominais no PIB superior a 15 mil milhões de euros, em termos anuais";
- Centeno "não tem dúvidas que abril foi o pico mais dramático, do ponto de vista económico, desta crise sanitária";
- E os próximos meses? "O terceiro trimestre [de 2020] vai ser um trimestre de forte recuperação; o quarto abrandará um pouco";
- Na RTP3, o Ministro das Finanças previu ainda que "daqui a dois anos [em 2020] estejamos a recuperar os níveis de atividade de 2019";
- E sobre como vamos viver esta crise? "Dada a sua incerteza, vai ter de ser vivida mês a mês e com decisões muito coordenadas";
- Sobre os mercados, Centeno clarificou que estes "têm colocado Portugal numa posição não muito diferente da do final de 2019";
- Relativamente às taxas de juro, o ministro garantiu que "hoje estão abaixo dos valores de há um mês e abaixo das de há um ano";
- Mário Centeno disse também que do défice nas contas públicas que será registado em 2020, "dois terços desse impacto vai ser por via da redução das receitas, quer fiscais, quer contributivas, quer em termos da própria atividade do Estado", sendo o restante terço proveniente de despesa do Estado.
- A terminar a entrevista, a TAP: "A responsabilidade com que o Governo tratou nos últimos quatro anos a TAP vai manter-se". O governante não excluiu a hipótese de nacionalização, alinhando-se com os restantes membros do Governo, dizendo também que as questões estratégicas da TAP "colocar-se-ão, mas não neste instante, porque há muita incerteza sobre o que vai acontecer" no setor da aviação.
- Questionado sobre se "é uma grande ironia" depois de ter sido o primeiro ministro das Finanças a obter um saldo orçamental positivo em democracia, "em dois ou três meses tudo desaparecer", Centeno reconheceu que era verdade. "Mas, enfim, os poetas estão fartos de escrever sobre isso", concluiu.
Mário Centeno, o homem à frente do Eurogrupo:
- O líder do Eurogrupo é claro: "As instituições europeias reagiram de forma célere e de uma forma muito coordenada";
- Por onde passa a recuperação económica europeia? Para Centeno passa "por refazer o Mercado Interno e retomar a livre circulação de trabalhadores";
- Em que ponto estamos? "A primeira reação de emergência foi concretizada e agora estamos a discutir a parte da recuperação", disse;
- "Foi dado um prazo às diferentes para terem fundos disponíveis a partir de 1 de junho";
- "Na Europa temos muito a vontade de olhar para um precipício que parece estar sempre à nossa frente". Mário Centeno recorreu a esta frase para comparar a capacidade, mais rápida, de reposta da Europa, por exemplo, face aos EUA.
- "Em dez dias preparámos os instrumentos que estão agora quase disponíveis para os Estados, coordenámos a nossa resposta sanitária de uma forma sem paralelo, o Banco Central Europeu reagiu de forma muito rápida e efetiva (...) Na Europa aprendemos a lidar com estas questões. Não vale a pena estar a fazer uma avaliação do que aconteceu em 2008, desta vez tudo foi diferente".
- Do Terreiro do Paço para a Europa: "Lisboa foi o centro das atenções, onde a Europa se coordenava. Foram longuíssimas horas. Foi uma reunião [do Eurogrupo, a 8 de abril] com momentos de tensão e momentos de grande sucesso (...) Mas nunca deixei que a reunião entrasse numa situação de não haver entendimento".
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