A versão preliminar da auditoria, datada de dezembro de 2017, foi divulgada na semana passada e fez estalar à polémica devido à concessão de créditos mal fundamentada, atribuição de bónus aos gestores com resultados negativos, interferência do Estado e aprovação de empréstimos com parecer desfavorável ou condicionado da direção de risco da CGD.

Uma nova comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD) deve agora avançar, depois de o CDS-PP ter negociado com PS, BE e PSD um texto comum de proposta.

A auditoria avaliou sete operações de crédito com risco grave ou elevado e, só nestas, estimou perdas de mais de 1.000 milhões de euros, estando à cabeça as operações de financiamento da fábrica da La Seda, em Sines.

Ainda entre as operações com perdas elevadas estão empréstimos à Investifino (de Manuel Fino), para compra de ações da Cimpor dando ações do BCP e da Cimpor como garantia, Fundação Berardo, Auto-Estradas Douro Litoral e Vale do Lobo Resort.

Dos gestores referidos nesta versão da auditoria, há pelo menos 17 que continuam ligados à banca e mesmo à CGD.

Aqui destaca-se Maria João Carioca, que foi vogal da administração entre 2013 e 2016 e em 2017 (depois de uma breve passagem pela bolsa de Lisboa) voltou a ser novamente vogal do Conselho de Administração liderado por Rui Vilar e da Comissão Executiva, de Paulo Macedo.

Foi em 01 de fevereiro de 2017 que tomou posse a nova administração da CGD, com Paulo Macedo como presidente executivo, substituindo António Domingues, que teve uma gestão de apenas quatro meses muito atribulada devido à polémica relacionada com a sua declaração de rendimentos e património.

Paulo Macedo tomou, então, conta do banco com a missão de pôr em marcha o plano de reestruturação que tinha sido negociado entre Lisboa e Bruxelas — como contrapartida da recapitalização de 5.000 milhões de euros acordada no verão de 2016, dos quais 2.500 milhões de euros de injeção direta do Tesouro público — com corte de custos, subida de receitas e redução de ativos problemáticos.

Para cortar custos, tal como acordado com Bruxelas, tinha a missão de fazer sair milhares de trabalhadores e fechar centenas de agências, o que provocou polémica e levou a protestos das populações afetadas. Em resposta, a CGD pôs a circular carrinhas que funcionam como balcão móvel em algumas localidades.

Dos 2.200 trabalhadores que o Governo acordou com a Comissão Europeia que saíssem do banco público até 2020 (isto depois das centenas que já tinham saído nos anos anteriores), saíram já mais metade em 2017 (547) e 2018 (cerca de 600, segundo cálculos da Lusa), entre reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo.

Nas agências, das 180 que tinham de fechar, deverá faltar encerrar cerca de 60. A CGD tinha 522 agências em setembro do ano passado.

O banco acordou ainda reduzir as operações fora de Portugal (Espanha, França, África do Sul e Brasil).

Já houve um acordo para a venda do Banco Caixa Geral, em Espanha, ao Abanca (que comprou em Portugal a operação do Deutsche Bank), e do sul-africano Mercantile Bank ao fundo de investimento Capitec Bank Limited, com mais-valias estimadas de 200 milhões de euros, segundo o banco público.

Já a operação de França (48 agências e cerca de 500 trabalhadores), que a Comissão Europeia também queria que fosse fechada ou vendida, vai manter-se.

O Governo disse então que, no âmbito da atualização do plano estratégico, a sucursal francesa foi considerada atividade relevante.

Mais recentemente, a CGD pôs à venda a participação que detém no cabo-verdiano Banco Comercial do Atlântico, mantendo a posição no Interatlântico, também em Cabo Verde.

A subida de comissões e fins de isenções para alguns clientes pela CGD provocou também, nestes dois anos, muita polémica. Em março de 2018, Macedo argumentou que o banco precisa de “aumentar proveitos e reduzir custos” para melhorar a sua rentabilidade, sob pena de ter de pedir mais dinheiro ao Estado.

Apesar disso, repetiu o gestor, muitos clientes continuam a manter isenções de comissões, entre os quais 750 mil jovens e 600 mil reformados.

Cerca de um mês depois de entrar na CGD, Macedo deu a cara pelos prejuízos históricos do banco, referentes a 2016, de 1.859 milhões de euros, num ano em que fez provisões e imparidades (para fazer face a potenciais perdas, sobretudo para crédito) de 3.017 milhões de euros.

Era já o sexto ano consecutivo de prejuízos do banco público. Entre 2011 e 2016 os prejuízos acumulados superaram os 3.800 milhões de euros.

Já em 2017, a CGD regressou aos lucros, ainda que tímidos, de 51,9 milhões de euros, e até setembro do ano passado teve resultados positivos de 369 milhões de euros.

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