“Este é um sistema de especulação total. Começa na própria emissão monetária. Na Zona Euro, a moeda criada através do mecanismo de crédito, a moeda escritural, representa mais de 90% da moeda em circulação”, argumentou.
Landeiro Vaz, que dirigiu o Instituto para o Desenvolvimento e Estudos Económicos, Financeiros e Empresariais (IDEFE) do ISEG, salientou que “se se pensar que esta moeda em circulação é emitida pelo sistema bancário (…) maioritariamente privado (…), tem-se aqui uma emissão privada de moeda”.
É a esta emissão privada que o economista atribui a forte componente de especulação e aos créditos malparados subsequentes, tema em voga em toda a Europa. “Se formos ver, o Deutsche Bank tem crédito malparado em grande escala, tal como os bancos italianos, como tivemos aqui os nossos bancos”, exemplificou.
“Mas a especulação não pára aí (emissão de moeda escritural), continua depois nos mercados de títulos, onde titularizam as obrigações hipotecárias e outro tipo de títulos, mas também os derivados e os derivados de derivados. É um sistema em que esticamos a especulação desde a emissão monetária até aos mercados de ativos reais, de títulos e de derivados. Temos um sistema especulativo”, acrescentou.
Em todo o caso, “a origem do problema está na emissão de moeda escritural”, insistiu, uma vez que, “no fundo, é emissão monetária especulativa; e como é especulativa…”.
A situação não significaria que a banca deixasse de conceder crédito.
“Não poderia (era) dar crédito da mesma maneira. Assim é que não pode ser”, criticou.
E é com a ideia que “o sistema não tem condições de continuar”, que propõe, mais do que o regresso ao Glass Steagall Act (legislação dos EUA, de 1933, que separou banca comercial da de investimento), que a possibilidade de emissão de moeda seja retirada aos bancos privados.
“Até porque há um contrassenso. Se são entidades públicas que emitem notas e moedas, por que é que a moeda escritural é emitida maioritariamente por entidades privadas? Esta é uma grande contradição do sistema, na qual está alicerçada toda esta civilização. Todo este sistema económico está sobre isto. É o domínio dos bancos sobre os cidadãos. Porque os cidadãos e os Estados são obrigados a resgatar bancos com o dinheiro dos contribuintes. E evidentemente que é isto que se quer perpetuar, mas isto não pode continuar”, justificou.
Landeiro Vaz considerou ainda que “o problema da moeda, e da sua emissão escritural, é talvez o problema mais importante da atualidade”.
Perspetivar a moeda no século XXI, os confrontos entre os modelos e as crises, vai ser o objetivo da conferência que vai dar no ISEG, em 07 de novembro, moderada por João Ferreira do Amaral, António Mendonça e Luís Vaz.
No século XXI, adiantou, existem dois pontos fundamentais. Um, que tem a ver com a emissão monetária, no domínio da moeda escritural, cada vez mais privada (“por isso não se quer os bancos públicos no sistema”); o outro é o das moedas digital e virtual.
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