A sua história, ou a sua audaciosa aposta, é relatada no filme "A queda de Wall Street", lançado em 2015, no qual o ator norte-americano Steve Carell interpreta o personagem Mark Baum, Steve Eisman na vida real. À medida que o país se afundava na crise, o bolso e o portfólio de Eisman aumentava.

De cabelo grisalho e com o físico de um jogador de rugby, este cinquentão distingue-se pela sua forma franca de falar, que contrasta com a linguagem quase codificada dos corretores de Wall Street.

A partir de 2004 e até o início de 2007, Eisman, casado com uma ex-banqueira, geriu portfólios do fundo FrontPoint Partners. O seu trabalho consistia em investir o dinheiro de clientes ricos em títulos financeiros.

Formado em Direito na Universidade de Harvard, Steve Eisman não entendia muito bem os produtos financeiros com siglas estranhas com que lidava, e não era o único, como percebeu rapidamente numa conferência em Las Vegas, em 2004.

Eisman descobriu ao viajar pela Florida, Califórnia, Nevada e Arizona, epicentros dos empréstimos subprime [crédito de risco], o laxismo dos bancos e das empresas que concediam os créditos, e que nem sequer conheciam a situação financeira dos seus clientes.

"Como podíamos outorgar um empréstimo imobiliário a um cliente que só podia pagar os três primeiros anos [de hipoteca]?", questiona Eisman numa entrevista à AFP no escritório do fundo Neuberger Berman, o seu novo empregador, no coração de Manhattan. "Nos primeiros três anos davam às pessoas uma taxa atraente de 3%, e depois a subiam para 9%", lembra.

Contactou então a agência de qualificação Standard & Poor's, que dava o famoso triplo A, a melhor nota possível, aos produtos financeiros CDO (obrigação da dívida colateral) e RMBS (títulos financeiros vinculados a empréstimos hipotecários). A S&P confirmou-lhe que os seus modelos não integravam hipóteses negativas.

Então o financeiro identificou uma quantidade considerável de créditos duvidosos e decidiu apostar no seu fracasso, convencendo o Goldman Sachs e o Deutsche Bank a criar seguros destinados a proteger-se no caso de um credor não poder reembolsar um empréstimo (Credit Default Swaps, ou CDS).

"É difícil discutir com alguém que acha que é Deus porque ganha muito dinheiro".

Aposta contra o Deutsche Bank

No início de 2007, a interrupção de pagamentos por parte dos lares norte-americanos multiplicava-se. Em oito meses, 84 empreses de créditos hipotecários nos Estados Unidos encontrava-se em ruína. E o valor do portfólio de Steve Eisman aumentou, passando de 700 milhões de dólares para 1,5 mil milhões, e continuou a crescer.

"Sentia-me como Noé" na sua arca, conta Eisman, retomando a imagem bíblica, mas rejeitando a ideia de que se aproveitou da miséria de milhões de americanos. "Você acha que Noé estava feliz?", pergunta.

Para ele, se existem culpados pela crise estes são os banqueiros e corretores, que estavam convencidos de que eram omniscientes. "É difícil discutir com alguém que acha que é Deus porque ganha muito dinheiro".

O financeiro, que se tornou uma das vozes mais influentes de Wall Street, culpa também os reguladores, entre os quais Alan Greenspan, então presidente da Reserva Federal (o Banco Central norte-americano) e fervoroso defensor da desregulação financeira.

"Os reguladores dos bancos tinham duas missões antes da crise: garantir a segurança do sistema bancário e proteger os consumidores dos maus atores. Fizeram um trabalho péssimo".

E qual será a sua próxima aposta? "Não tenho, porque os créditos para a compra de automóveis ou os empréstimos estudantis americanos não comportam riscos sistemáticos como os subprime. Além disso, hoje os bancos americanos são mais saudáveis e robustos", afirma o financeiro. Mas "não diria a mesma coisa dos bancos europeus, sobretudo o Deutsche Bank", acrescenta. Eisman aposta num colapso das ações do banco alemão e já colheu os primeiros frutos por conta das crescentes dificuldades do banco.

*Por Luc Olinga / AFP