Quando questionado sobre se o ministro português das Finanças é a pessoa indicada para presidir ao Eurogrupo, o prémio Nobel da Economia de 2001 respondeu: "Sim, acho que seria bom para o Eurogrupo ser liderado por alguém com um grande conhecimento da diversidade da zona euro", disse Stiglitz numa conferência de imprensa integrada nas Conferências do Estoril.
O professor da Columbia University acrescentou que "é tempo de o Eurogrupo ser representado por alguém que tem mais conhecimento das dificuldades que a zona euro como um todo enfrenta".
Esta consideração do economista surge depois de - de acordo com a 'newsletter' da versão europeia do jornal norte-americano Politico - o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, ter comparado o ministro das Finanças português, Mário Centeno, ao jogador de futebol Cristiano Ronaldo, na última reunião do ECOFIN, o que adensou a possibilidade do ministro português vir a assumir a presidência do Eurogrupo. Centeno não o descarta, mas afirma que não é a sua prioridade, disse em entrevista ao Expresso.
Se Centeno ajuda a 'alinhar' Stiglitz e Schauble, o facto é que estes têm visões muito diferentes noutras matérias. O economista já criticou no passado as políticas económicas alemãs, acusando o país de beneficiar do euro à custa dos seus vizinhos, o que poderia conduzir ao fim da zona euro. Estávamos em outubro de 2016. Schauble discordava, defendendo que todos os países da Zona Euro se devem submeter às regras orçamentais do grupo.
Jeroen Dijsselbloem devia ter-se demitido
Joseph Stiglitz referiu-se também ao atual presidente do grupo dos ministros das Finanças da área do euro, considerando que Jeroen Dijsselbloem devia ter-se demitido depois das polémicas afirmações sobre os países do sul da Europa.
"Como uma pessoa que está de fora, fiquei horrorizado com as afirmações de Dijsselbloem. São um exemplo das disfunções na Europa. E, quando fez afirmações como aquelas, devia ter-se demitido. Achei profundamente perturbador", defendeu.
Em causa estão declarações proferidas em março, altura em que o presidente do Eurogrupo afirmou, em entrevista ao jornal Frankfurter Zeitung, que não se pode pedir ajuda depois de gastar o dinheiro em álcool e mulheres, referindo-se aos países do sul da Europa, declarações que foram criticadas em várias frentes, incluindo pelo Governo português, e relativamente às quais Dijsselbloem veio depois pedir desculpa.
Ainda na sequência deste caso e face à notoriedade alcançada por Centeno entre os seus pares, o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel fez questão de descartar a possibilidade de o ministro português vir a liderar o Eurogrupo substituindo Dijesselbloem. A questão "não se coloca por enquanto" porque o Governo holandês não mudou, disse, escusando-se a responder se estaria disponível para apoiar o nome de Centeno para a presidência do organismo.
Ainda sobre esta matéria, que tem dado que falar internamente, Marques Mendes considerou, no seu comentário regular na SIC Notícias, que "em teoria há uma janela de oportunidade", mas que esta é mais teórica do que prática. Além disso criticou o ministro dizendo que este está "deslumbrado" com a ideia e está "a correr em pista própria [sem apoio do Governo que integra]". "Mário Centeno está a oferecer-se (o que é, de resto, uma figura um pouco ridícula)", considerou.
As agências de rating são "profundamente políticas"
Stiglitz falou ainda no Estoril sobre as agências de 'rating', apontando o fraco currículo destas organizações, que disse serem "profundamente políticas", sublinhando mesmo que nos Estados Unidos há provas de práticas de fraude ainda que não haja condenações.
Interrogado sobre se as agências de 'rating' devem subir a nota atribuída a Portugal, o economista norte-americano disse que sim, mas que é impossível saber: "Espero que as agências subam o 'rating' de Portugal, devem subi-lo, há todas a razões para que o façam. Mas porque são [instituições] políticas, quem sabe o que elas vão fazer?".
Estas afirmações surgem numa altura em que se somam as exigências de uma avaliação mais positiva de Portugal por parte das agências de notação financeira, tanto por parte das autoridades portuguesas como também do lado de Bruxelas.
O comissário europeu dos Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, considerou hoje que o desempenho económico de Portugal merece uma avaliação mais positiva por parte das agências de 'rating' e que "os riscos não podem ser olhados hoje com os óculos de ontem", até porque "há boas razões de confiar mais em Portugal hoje, o que não era o caso no passado".
Internamente, tanto o primeiro-ministro como o Presidente da República já defenderam que é tempo de uma revisão em alta da visão destas agências: António Costa considerou que faz "pouco sentido" que as agências de 'rating' mantenham a notação de Portugal "como se nada tivesse acontecido desde 2011" e Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que seria justo que revissem até setembro a avaliação de Portugal.
Joseph Stiglitz, que está em Portugal para participar nas Conferências do Estoril, recebeu hoje o Estoril Global Issues Distinguished Book Prize 2017 pelo livro "O euro e a sua ameaça ao futuro da Europa", editado em Portugal em 2016.
(Notícia atualizada às 18:26)
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