O Banco Central Europeu baixou hoje as suas taxas de juro, atualmente no nível mais alto de sempre.
Na prática, "o que vai descer são as taxas de juro de referência, ou seja, a taxa de juro a que o banco central empresta aos bancos comerciais, aos bancos normais como a Caixa Geral de Depósitos, o Millennium, por aí fora", explica ao SAPO24 Carlos Guimarães Pinto, economista e deputado.
Como esta taxa é a "referência que os bancos comerciais usam para medir as taxas quer de depósitos, quer de outros empréstimos que fazem", esta descida significa que "as taxas de juro dos empréstimos irão reduzir para as pessoas e possivelmente nos depósitos também".
"É possível que nos depósitos isto não tenha um grande impacto, porque os bancos não refletiram completamente as últimas subidas nas taxas dos depósitos, continuam com taxas relativamente baixas e bastante mais baixas do que estas taxas de referência. As pessoas devem continuar a receber a mesma coisa por depósitos que façam", adianta.
No entanto, a grande diferença está nos empréstimos: "efetivamente a taxa de juro deverá reduzir em linha com aquilo que é a taxa de referência, até porque nos principais empréstimos, que são os da habitação, essa descida é automática, já que os créditos de habitação com taxa variável estão indexados às taxas de juro de referência".
No campo da habitação, entram também para as contas a taxa Euribor — que ontem desceu a três, a seis e a 12 meses, nos dois prazos mais curtos para novos mínimos desde agosto e junho de 2023, respetivamente. "Existem estas taxas de referência e a Euribor, e com base nisso definem-se as taxas de juro dos créditos da habitação", nota Carlos Guimarães Pinto.
Por isso, a "grande vantagem" desta descida anunciada pelo BCE é "uma redução das mensalidades, essencialmente de créditos à habitação".
Mas também podem existir desvantagens, embora o economista considera que estas "podem não se concretizar". "A primeira é uma efetiva redução da taxa dos depósitos e a segunda é um menor controlo da inflação, porque existe esta dicotomia entre taxas de juro e inflação".
"Normalmente sobe-se as taxas de juro para reduzir a inflação e só se baixa as taxas de juro quando se tem a inflação mais ou menos sob controlo. O que isto nos diz é que o BCE acha que a inflação está sob controlo, portanto pode baixar as taxas de juro outra vez. Claro que existe o risco de se baixar demasiado e a inflação voltar a subir, ou seja, os preços voltarem a subir à velocidade a que estavam a subir há um ou dois anos", explica.
Até agora, a resistência do BCE em baixar as taxas de juro deveu-se precisamente à inflação. "A subida das taxas de juro foi uma forma de controlar a inflação e de facto teve sucesso. Por isso é que houve alguma resistência em baixar as taxas de juro, até se ter a certeza de que a inflação estava mais ou menos controlada, neste momento andará ali entre os 2 e 3%, o objetivo do BCE é que seja de 2%".
Contudo, "se a inflação não responder, ou seja, se não houver um aumento da inflação com esta baixa das taxas de juro, o que se espera é que se volte a baixar nos próximos meses".
Agora, os olhos estão postos no Banco de Portugal. Será que vai baixar também as taxas de juro? Carlos Guimarães alerta que as duas entidades "não andam sempre a par", mas "já há previsões para que isso aconteça".
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