
"A entrada para as mesquitas só é autorizada a muçulmanos", alerta um oficial de baixa patente no último posto das forças de segurança instalado na rua Tariq Bab al-Hadad, junto à Porta de Ferro, dentro das muralhas.
Trata-se de um dos acessos ao local de culto mais importante do Islão em Jerusalém de onde se pode ver a Mesquita de Al Aqsa, virada para Meca, sendo que, pelo menos, antes da oração do meio-dia são poucos os muçulmanos que cruzam a entrada.
Desde o dia 07 de outubro, data que marca o início da guerra entre Israel e o Hamas, que os acessos à Esplanada das Mesquitas estão muito controlados, mesmo durante as orações de sexta-feira, dia sagrado do Islão.
Ao contrário, as entradas para o Muro das Lamentações, o local de culto mais importante do mundo para os judeus, estão abertas durante todo o dia.
Hoje, até ao princípio da tarde via-se mais gente na área reservada aos homens, incluindo soldados ou judeus civis armados que rezavam virados para o Muro.
Em 1948, os judeus perderam o acesso ao Muro, quando a Jordânia ocupou o bairro e expulsou a população. Dezanove anos depois, na Guerra dos Seis Dias, os militares israelitas tomaram de assalto toda a zona, destruindo com escavadoras as casas das famílias muçulmanas e mantendo o mesmo espaço desde 1967.
A Cidade Velha vive hoje mais um dia de silêncio, sem o bulício dos turistas de todo o mundo. A maior parte dos estabelecimentos comerciais estão encerrados.
"É a situação", lamenta um comerciante palestiniano, após a passagem da única excursão turística visível no local: um grupo de franceses de origem argelina em peregrinação.
No sul de Israel, a guerra não cessa e o cerco à Faixa de Gaza é cada dia mais forte.
No enclave palestiniano, controlado pelo Hamas desde 2007, morreram 4.651 civis e 14.254 ficaram feridos na sequência dos bombardeamentos israelitas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Já Israel contabiliza 1.400 mortos, desde o dia do ataque surpresa do movimento islamita palestiniano. Pelo menos 222 pessoas continuam reféns do Hamas, em Gaza, incluindo cidadãos estrangeiros e soldados, de acordo com o exército israelita.
Mais de duas semanas após o ataque de grande envergadura, o Hamas mantém o poder em Gaza, tendo-se registado hoje barragens de artilharia, sobretudo contra Sderot.
Além dos ataques contra a cidade israelita situada a dois quilómetros a leste de Gaza, registaram-se no domingo e hoje de manhã disparos do Hamas contra a cidade de Beer Sheva, a 40 quilómetros do enclave palestiniano, no deserto do Negueve, sem provocar vítimas.
Por causa da guerra em curso, a população judaica e palestiniana da cidade de Jerusalém recolhe-se mais cedo do que é habitual com as ruas a ficarem desertas antes do pôr do sol.
Na Cidade Velha, para lá das muralhas, apressam-se judeus e muçulmanos e mesmo na zona cristã, perto da Basílica do Sagrado Sepulcro, veem-se apenas sacerdotes católicos, ortodoxos, coptas e caldeus.
No local onde os cristãos acreditam que Jesus Cristo foi crucificado pelos romanos há uma cripta com pouco mais de um metro de altura e uma mulher descalça reza sobre a laje e com a cabeça no chão.
Apesar da oração murmurada sobre a pedra do Calvário, o silêncio é quase absoluto.
Aqui, os ruídos fortes da guerra começam com as sirenes de alerta e acabam em Gaza e na zona sul de Israel, onde o conflito se prolonga e parece não acabar, nem com todas as orações de todas as religiões que mandam na Cidade Velha de Jerusalém.
*** Pedro Sousa Pereira (texto) e Manuel de Almeida (fotos), enviados da agência Lusa ***
PSP // SCA
Lusa/Fim
Comentários